Pop Rock
22 Janeiro 1997
poprock
Patriarca do pós-(kraut)rock
HANS-JOACHIM ROEDELIUS
Sinfonia Contempora No.1 (9)
Pink, Blue and Amber (6)
Prudence, distri. Strauss
Roedelius formou, ainda na década de 60, com Dieter Moebius, os Cluster (então, Kluster), banda alemã pioneira da música industrial e da utilização do ruído, numa época em que planavam sobre os céus de Berlim os sintetizadores da escola cósmica de Klaus Schulze, Ash Ra Tempel e toda a comunidade afogada em LSD que gravitava em torno do produtor e manipulador Rolf-Ulrich Kaiser, no selo Ohr, mais tarde Cosmic Music/Cosmic Courriers. Os Cluster, juntamente com um dos seus membros fundadores, Conrad Schnitzler (integrou posteriormente a primeira formação dos Tangerine Dream, antes de seguir uma carreira a solo na área da electrónica experimental), e os Kraftwerk dos dois primeiros álbuns (aos quais poderemos acrescentar os vagidos prematuros do grupo que lhes deu origem, os Organisation) formaram o núcleo duro de uma música áspera e ruidosa que aliava a prática da música concreta, do minimalismo e da electro-acústica à mais recente tecnologia dos sintetizadores, na criação de um ambientalismo pesado e ferrugento, saído dos pesadelos da bacia industrial do Ruhr.
Hoje, os Cluster – ainda em actividade e com estatuto de banda marginal – fazem parte do grupo de nomes do “krautrock” recuperados pelos representantes do pós-rock norte-americano, como os Tortoise ou Trans AM. São, de igual modo, objecto de veneração de Julian Cope, que, além de músico iluminado, se assume como fanático admirador do “krautrock”, sobre o qual escreveu no seu já mítico livro “Krautrock Sampler”.
Roedelius sempre foi considerado o pólo romântico do grupo, atribuindo-se a Moebius o papel de experimentalista. Aos 62 anos de idade, o patriarca do industrialismo germânico demonstra, com “Sinfonia Contempora No.1”, subintitulada “Von Zeit zu Zeit”, a relatividade desta teoria. É um trabalho de fôlego, estruturado em diversos movimentos, que percorre diversas facetas da obra extensíssima deste compositor, oscilando entre o ambientalismo mais depurado (Eno, com quem os Cluster colaboraram em dois álbuns, “Cluster & Eno” e “After the Heat”, marcou decisivamente uma mudança de estilo no grupo) e os traços de piano impressionista, pulsações sintéticas e radiações “sombient”, passando pela samplagem de sons naturais ou da música gravada do mexicano Jorge Reyes.
Entre os músicos convidados (em violino, baixo, guitarra e saxofone), conta-se Asmus Tietchens – um industrialista “negro” de obra igualmente extensa e, por vezes, impenetrável –, que contribui com “fragmentos electro-acústicos” para o 3º movimento, “Klangbild #3”, da sinfonia. Participação curiosa, tendo em conta o pendor “new age” inócua que caracteriza o catálogo da editora.
“Pink, Blue and Amber” é outra coisa. Recolhendo composições gravadas ao longo dos últimos anos, ilustra a outra faceta de Roedelius, presente em álbuns como “Jardin Fou” ou “Momenti Felicci”, mais contemplativa e declaradamente “new age”, bastante menos interessante, mas, ainda assim, a milhas de distância, para melhor, dos purgantes sonoros que infestam o género. Contando igualmente com diversos convidados, em pinceladas que acentuam o carácter exótico e vagamente oriental desta obra, “Pink, Blue and Amber” situa-se num território de localização incerta, algures entre os Cluster da fase melódica (o tema inicial, “Poetry”, por exemplo) e texturas abstractas e sem propósito, na linha das colaborações de Holger Czukay com David Sylvian, “Plight and Premonition” e “Flux + Mutability”. Roedelius lançou já, entretanto, a continuação de “Sinfonia Contempora”, num novo compacto intitulado “La Nordica”, sobre o qual a revista “Wire” tece maravilhas. Aguarda-se importação nacional.