Aquivos por Autor: admin

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #135 – “Lewzsawillenoid (FM)”

#135 – “Lewzsawillenoid (FM)”

Fernando Magalhães
26.09.2002 160418
Ouvi ontem um grupo alemão dos anos 70 espantoso, chamado LEWZSAWILLENOID.

O álbum chama-se “Karpamorgenstow” e, curiosamente, tem a influência dos CLUSTER. Um dos temas é uma parceria com os Status Quo e outro uma canção, na altura banida das rádios, intitulada “Alvarez come back”.

Uma revelação!

FM

Cabaret Voltaire – “Cabaret Voltaire” (vídeos | VHS)

Pop-Rock 23.01.1991
Vídeos


CABARET VOLTAIRE
Cabaret Voltaire
Mute, distri. Edisom



“Cabaret Voltaire” é um dos primeiros “long forms” independentes de sempre, reedição do original de 83, editado na Doublevision. Visão do inferno. Porta aberta para o inferno. A música: da primeira fase. A melhor (?), experimental e perigosa – compare-se, por exemplo, “Photophobia”, “Badge of Evil” ou o excerto do filme “Johnny Yesno” com as recentes banalidades dançáveis de “Groovy, Laid Back & Nasty” e veja-se a diferença. Na altura, os Cabaret Voltaire eram “industriais”, insuportáveis, brutais. Técnicas de “cut up” e colagem. Vozes subliminais, curto-circuitadas por ruído branco. Ruído negro. Disformidades acústicas. Stephen Mallinder, Richard H. Kirk e, no início, Chris Watson (mais tarde nos Hafler Trio). Guitarras em esquizo-“feedback”. Sintetizadores tribais. Fitas magnéticas em delírio. O suficiente para orientar a “cold wave” no sentido do mal absoluto.
As imagens: horror. Horror. Horror. Ritual, “slogans” ameaçadores, totalitarismo, tortura, guerra, autoflagelação, pornografia, ruínas, monstruosidades físicas e psíquicas. “Fast/slow motion”. Ruído visual. Formas saturadas. Fanatismo religioso. Manipulação (das imagens, mental, emocional). Sofrimento. “This Is Entertainment, This Is Fun”.
A visão: focada nas capas dos discos (paradigmática, a de “The Crackdown”, com a mira da câmara fotográfica apontada ao receptor, ou os retratos “kirlian” de auras etéreas, em “Mix-up”), nos constantes grandes planos de olhos humanos ou na designação da produtora Doublevision. O olho do poder. Controlo da e pela imagem electrónica.
Interiorização do horror por sobrexposição a esse mesmo horror. Luz filtrada, distorcida e invertida. Duplos. Dupla visão. Os Cabaret Voltaire agradecem à televisão psíquica, de Genesis P. Orridge. Permanece a interrogação: pode a televisão ser perigosa? Outra questão: é lícito separar a ética da estética? Dito de outro modo: está a arte acima de todas as morais? Por detrás da música e imagens dos Cabaret Voltaire existe uma atitude e uma ideologia (partilhadas actualmente por dezenas de outros “músicos”) com objectivos muito precisos. Alguns mais conscientemente do que outros, todos trabalham para fazer subir à Terra um novo poder.
São diversas a tácticas e estratégias utilizadas. Actuam por fases: em curso, a inversão de todos os valores e sentidos.
Destruídas as anteriores referências (imputem-se responsabilidades aos primeiros dadaístas do princípio do século, que por sinal afaziam do Cabaret Voltaire lugar privilegiado para as suas conspirações), cabe agora aos técnicos proceder à sua substituição por novos valores de sinal contrário. A propaganda nazi sabia como proceder. Também o sexo desempenha um papel de relevo nestas operações: desligado do amor, levado ao extremo da pornografia, serve, por meio de mecanismos tântricos, como meio de libertação de energia que poderá ser desviada para outros fins. Sade. Masoch. Wilhelm Reich.
“Cabaret Voltaire”, o vídeo constitui importante documento de uma das fases iniciais do processo. Como no início se escreveu, poderá ser visto como uma descida aos infernos. Imagens que ensinam a sofrer e a fazer sofrer. Imagens que se aceitam ou renegam. Imagens a que é impossível ficar indiferente. Sem classificação.

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #134 – “Peter Hammill info, please (MárioZ)”

#134 – “Peter Hammill info, please (MárioZ)”

Fernando Magalhães
24.09.2002 150359
Ok, com prazer.

Em termos de som, a coisa está um nadinha melhor do que com os VDGG.

Mesmo assim, no caso da obra-prima e melhor disco a solo do PH (que equiparo, em qualidade, ao “Pawn Hearts”), “In Camera” (1974), a gravação está longe da perfeição. Mas a música dá para impressionar, mesmo assim.

Além do “In Camera”, são excepcionais, em registos diferentes:

– Chameleon in the Shadow of the Night (73)
– The Silent Corner and the Empty Stage (74)

(os 2 anteriores a “in Camera”, ao quais se poderá juntar a o álbum de estreia, um primor de pureza e idealismo, “Fool’s Mate”, 71)

– Nadir’s Big Chance (o disco “punk”, 75)

– Over (um dos maiores discos de baladas de sempre, 77)

– The Future Now (78) + PH7 (79) + A Black Box (80) – a “trilogia” electrónica a “preto e branco”.

Os discos dos an0s 80 são muito bons, sem dúvida, mas serão talvez demasiado standartizados, estilo “PH vintage”, sem grandes surpresas.

Os anos 90 valem a pena por:

– “Out of Water” (90, sempre a crescer nas minhas preferências, estranho)
– Fireships (92)
– Roaring Forties (94)
– Xmy Heart (96)
– Everyone you Hold (97)
– This (98)
– None of the Above (2000)

Há mais, claro…

E tens as 2 versões (de 1991 e 1999) da ópera “The Fall of the House of Usher”, inspirada no conto homónimo de Edgar Allan Poe…

saudações hammillianas

FM

PS-Não tenho tempo para notas mais detalhadas sobre cada disco, pelo menos por agora (3 páginas de Rolling Stones p/ escrever p/o Y…)

Fernando Magalhães
24.09.2002 231105
Er…dos anos 90, para fazer distinções,teria que os ouvir de novo – mas são todos bons! 😀

Quanto aos restantes álbuns que cito, pertencem todos à linha “Hammill hardcore”, para usar o teu termo.
“Chameleon…” e “The Silent Corner…” estão muito na linha dos VDGG, mais progressivos e diversificados, alternando baladas (sobre a infância, a religião, a solidão..) com divagações de space rock e delírios cósmico-existenciais.

“Nadir’s…” é rock, à maneira dele, claro! 😀

Mas tenho ideia de que serás, para já, sobretudo sensível à tal trilogia formada por The Future Now, PH7 e A Black Box.

Quanto ao “In Camera”, recomenda-se não seguir demasiado perto quer a música quer os textos, sob pena de graves danos na sanidade mental. “Tapeworm” é o rock de um deus. “Gog”/”Magog (in bromine chambers)” a BSO do Apocalipse-numa-pessoa-só! Terrível e grandioso.

FM