pop rock >> quarta-feira, 07.04.1993
Peter Hammill
The Noise
CD Fie, distri. Megamúsica
O principal problema de Peter Hammill será talvez o de ter dito tudo cedo de mais. Compositor, vocalista e guitarrista carismático dos Van Der Graaf Generator, da estirpe dos resistentes dos anos 70, poeta da língua inglesa, que utilizou para rasgar os interiores da alma humana, Hammill experimentou os limites da pop em álbuns como “The Least We can do is Wave to Each Other”, “H to He, who am the only one”, “Pawn Hearts” (um dos melhores álbuns de sempre da música popular), “Godbluff”, “Still Life”, todos ainda com a banda e, já a solo, “Chameleon in the Shadow of the Night”, “The Silent Corne rand the Empty Stage”, “In Camera” (monumento solitário equiparável a “Pawn Hearts”), “The Future Now”, “PH7” e “A Black Box”.
Os anos 90, contudo, ultrapassaram-no. Remetido ao estatuto de autor de culto, Hammill tem vindo a assinar álbuns que procuram, sem grande sucesso, recuperar o fogo perdido. Posterior a “Fireships”, um bom álbum de canções onde a serenidade predomina, “The Noise” inflecte na direcção oposta, no rock de batida dura, o que, à partida, poderia indicar uma filiação na rebeldia de “Nadir’s Big Chance”, a bíblia dos adolescentes “punks” com algo mais na cabeça que gel e alfinetes. Nada mais falso. Peter Hammill não consegue sair do beco dos seus fantasmas pessoais, repetindo fórmulas mil vezes usadas, e com maior imaginação, em ábuns antigos. “Nadir’s Big Chance” pegava fogo ao instituto mental. “The Noise” é um estertor preso por guitarras eléctricas, de um poeta perdido no labirinto da sua própria inspiração. Não é um may álbum. Peter Hammill não é capaz de tal. Mas limita-se a marcar passo. “The noise is with me still”, canta ele em “The noise”, “I loved the noise / though now it’s gone / some glorious echoes of the noise still linger on.” No meio de ruído de estática. Peter Hammill procura a sintonia com o final do século. (6)