José Mário Branco – “Ao Vivo Em 1997”

Sons

19 de Dezembro 1997
DISCOS – PORTUGUESES

José Mário Branco
Ao Vivo em 1997 (7)
2xCD ed. e distri. EMI – VC

Ao vivo de certa maneira


jmb

Ainda não é desta que temos o prazer de escutar um novo álbum de estúdio do autor de “Margem de Certa Maneira”. Para José Mário Branco, compositor do outro lado, será ainda tempo de espera e de preparação interior, antes da concretização de um novo passo em direcção ao desconhecido. “Ao Vivo em 1997” é um ponto de ordem, uma chamada de atenção, um gesto de cumplicidade retomada. Uma inquietação intermédia num percurso de criatividade cujo derradeiro testemunho continua a ser as suas “Correspondências”.
José Mário Branco veio no passado mês de Junho dizer de si próprio e da sua arte, em 23 temas gravados nos espectáculos realizados a 14, no Coliseu do Porto, a 15, 16 e 18, no Teatro da Trindade, em Lisboa, e a 20, no Teatro Gil Vicente, em Coimbra. Fora do disco ficaram os temas compostos por José Mário Branco para a peça “Gulliver”, encenada pela Barraca, que pertenciam ao alinhamento dessas cinco datas, deixando entender que o músico pretendeu conservá-los para inclusão no disco da banda sonora a editar esperemos que muito em breve.
Para já ficamos com a recordação desses espectáculos, através de um punhado de canções de total exposição, às quais, em alguns casos, a voz de José Mário Branco não terá feito toda a justiça, revelando, sobretudo na sequência inicial deste duplo álbum, algum cansaço. Mas a expressividade, o teatro da alma, a força das palavras e os renovados arranjos de clássicos como “Engrenagem” (com as harmonizações dos Tetvocal), “Elogio da corporação”, “Margem de certa maneira” (mais escurecido e desamparado do que nunca), “Ser solidário”, “Emigrantes da quarta dimensão”, “Queixa das almas jovens censuradas” e “A noite” chegaram, e chegam, como sempre, para desassossegar. Mesmo se pelo lado da ternura. Ou da sátira, aqui retomada, de forma deliciosa e, de novo com a preciosa colaboração dos Tetvocal, por um José Mário Branco “rapper” em “Arrocachula”.
O segundo compacto inclui os inéditos “De pé, saudação a Antero”, “Menina dos meus olhos”, “Teu nome Lisboa” (um “unplugged” sem rede, suportado pelo contrabaixo de Carlos Bica), “Capotes pretos, capotes brancos” e “Terra quente”, este último a solo pelos Tetvocal. Estarrecedor é o balanço final de “Cantiga de alevantar ‘leva leva’”, um cântico ritual de trabalho que serve de metáfora à obra seminal de José Mário Branco. Momento privilegiado para quantos acompanharam de perto estes espectáculos ao vivo do músico, no mês da graça de Junho de 1997.



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