POP ROCK
3 de Maio de 1995
álbuns portugueses
Camané
Uma Noite de Fados
EMI-VC
De tão simples, a ideia chega a espantar. Mas era preciso que alguém a pusesse em prática, e esse alguém tinha de ser José Mário Branco, mestre entre os mestres da produção. Gravar em estúdio como se fosse ao vivo ou vice-versa, eis a questão que se punha. A solução foi a criação de um cenário realista de uma casa de fados onde, ao mesmo tempo, fosse possível acontecer toda a emoção inerente ao fado cantado “in loco” nos sítios tradicionais e reunir as melhores condições técnicas da captação possíveis. Montado tal cenário, faltava saber se o fadista conseguiria tirar o máximo partido da situação. Ao desafio assim colocado pelo produtor respondeu Camané da melhor maneira. A garra do fadista veio ao de cima, com uma pureza despojada, afastadas as distracções, os fumos, os aplausos extemporâneos, as falhas que espreitam sempre que a emoção toma o freio nos dentes e a disciplina não lhe acompanha o passo. Excelentes o peso e a medida da voz e do sentimento de Camané em “Esquina da rua” (com algumas oscilações de volume pelo meio), “O espaço e o tempo”, “A saudade aconteceu”, “Fado da sina” e “Esta contínua saudade”. “Fado da tristeza” toca no fado-canção e em cantos antigos de um Carlos do Carmo, um toque em que é visível o dedo de José Mário Branco como compositor, enquanto “Saudades trago comigo” deixa adivinhar as condições de ambiente em que foi gravado. Em síntese, um projecto conseguido e inovador que volta a colocar o fado no lugar que lhe compete, na estreia em disco de um dos “veteranos” mais jovens do circuito. (7)