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Tom Petty & The Heartbreakers – “Live!” (vídeo | VHS)

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 2 MAIO 1990 >> Videodiscos >> Programas


TOM PETTY & THE HEARTBREAKERS
Live!
Virgin Music Video, Edisom – Venda Direta



O estatuto de arte desde há muito que foi concedido, por decreto-lei, à música. Quanto ao vídeo, é bastante mais novinho, mas nem por isso deixou de dar passos importantes no sentido da sua emancipação artística. Música e vídeo nasceram para se entenderem. Por vezes, a combinação não funciona, ou porque os sons não estão à altura das imagens (o que frequentemente acontece no caso dos clips, em que a imaginação do realizador e/ou as técnicas de ponta, no campo visual, excedem de longe a pobreza musical), ou o fenómeno inverso, em que a “videoart” perde as três últimas letras para se reduzir a um amontoado de imagens desconexas, desligados do seu complemento sonoro.
Mais doloroso e dramático é quando ambas as partes constitutivas da videocassete musical se ficam pela completa nulidade. Infelizmente é este o caso do objeto em análise. A música de Tom Petty & The Heartbreakers inclui-se na miseranda categoria do “Rock FM”, sopa artificial e insípida cuja finalidade única é vender. Quanto às imagens, consistem numa sequência, sempre idêntica, de planos, focando os músicos em plena função, sem qualquer espécie de imaginação ou arrojo formal. O visionamento e audição desde subproduto – que ofende por igual as duas linguagens estéticas que, por princípio, deveria servir – tornam-se deste modo uma autêntica tortura. Os apreciadores da “música” de Tom Petty ou os sócios de videoclubes que acham “O Maneta de Ferro e a Guilhotina Voadora” o máximo, não devem ter tantos pruridos.

Tom Petty And The Heartbreakers – “Into The Great Wide Open”

Pop-Rock Quarta-Feira, 24.07.1991


TRABALHO DE PROFISSIONAL

TOM PETTY AND THE HEARTBREAKERS
Into The Great Wide Open
LP / MC / CD /, MCA, distri. BMG


“Gostava de abrir novos caminhos e deixar alguma marca na música, que todos identifiquemos como nossa – é isso que eu estou a tentar fazer”



Foi o que disse um dia Tom Petty, levantando a ponta do véu sobre as suas intenções relativamente às suas ambições musicais. Disse “tentar fazer” e disse muito bem. O problema está menos nas intenções, cem por cento louváveis, e mais nos resultados. É que, até agora, por mais tentativas que faça, e já leva 20 anos de música no activo, Tom Petty não consegue abrir caminho nenhum. Quanto à “música que todos identifiquemos como nossa” não se percebe muito bem o que quer dizer. Devia estar bêbedo.
“Into The Great Wide Open” é rock and rol suave, fluente, com a cadência fácil e sem atritos de um automóvel rolando em quinta velocidade numa auto-estrada americana. Mas nem sempre o que parece girar sobre esferas é o mais interessante e, muito menos, o mais original. Como Tom Petty, há dezenas de outros músicos que “gostavam de abrir novos caminhos” (na maior parte das vezes em vez de abrir, fecham-nos), a borbulhar na sopa requentada dos tops norte-americanos.
Bruce Springsteen deu o mote dos “contadores de histórias” solitários, eternamente “on the road”, à procura da América mítica e de si próprios. Mas nem todos podem ser como Tom Waits ou Stan Ridgway, das poucas excepções à regra geral, pautada pela mediocridade. Há neste disco uma complacência irritante que deixa adivinhar o vício mais grave da preguiça. Sente-se que aquilo que Petty faz, fá-lo com uma perna às costas, com a destreza e a competência de um profissional. Seria desculpável, segundo a máxima “quem faz o que pode e sabe a mais não é obrigado”, se Tom Petty não desse mostras de poder fazer muitomais. Se não faz é porque não quer, até porque, assim como assim, os discos vendem que se fartam. Nota-se que o guitarrista poderia tr ido bem mais longe na exploração do filão melódico patente em faixas como “Into the great wide open”, “All or nothin’” ou “Too good to be true”, em que as imagens de uma América à beira da desolação (“morning on the outskirts of town / sitting in the traffic alone, you don’t know what it means to be free”) formam um filme negro coerente, servido pelo argumento plausível da “rock ‘n’ rol way of life”. Talvez o defeito esteja na produção, demasiado adocicada, de Jeff Lynne, o homem da Electric Light Orchestra. Seja como for, a música não está de modo nenhum ao nível das palavras e dos ambientes que se procuram evocar.
Ao contrário do que Tom Petty afirma, as canções não estão “em qualquer lado para onde se olha”. Se assim fosse, só os cegos não fariam música. E o pior cego é aquele que não quer ver.
**

Legenda:
. Imperdoável
* Mau Mau
** Vá Lá
*** Simpático
**** Aprovado
***** Único

Tom Petty – “Wild Flowers”

Pop Rock

2 de Novembro de 1994
ÁLBUNS POP ROCK

Tom Petty
Wild Flowers

Warner, distri. Warner port.


tp

Não há, definitivamente, valores adquiridos no sector musical. Vejam agora o caso de Tom Petty. A eterna vedeta secundária vocacionada para os “pastiches” das glórias passadas da história do rock acaba de lançar uma obra de fundo. O passo não é, todavia, sem precedentes e prossegue o rumo traçado em 1989 com o seu primeiro álbum a solo, ou a estratégia de romper com o som “southern” monolítico da sua banda, os Heartbreakers. A pedra de toque desta abertura a novas experiências reside na escolha dos produtores e, se aquele disco era produzido por Jeff Lyne (seu parceiro nos Travelling Wilburys), este traz a chancela de Rick Rubin. Ora Rubin, o maestro da Def Jam, especializado em bandas radicais, surpreendeu tudo e todos quando, já este ano, produziu o veterano Johnny Cash, despojando-o de todo o acompanhamento, num álbum com a crueza e a mística de uma lenda viva a sós com a sua guitarra.
Tom Petty não tem esse carisma, nem nunca terá, mas Rubin aplicou-lhe um tratamento de choque muito no género. Assim, a maior parte dos temas em “Wild Flower” são acústicos ou de base acústica, trocando Petty as suas usuais vocalizações soalhentas, por um registo bem mais austero e dramático. As suas canções tratam agora de vagabundagem, da sina de andar pela estrada sem poiso nem destino fixo, lamentando a solidão que isso implica, mas também o gozo que confere a total liberdade. Petty ressurge assim no papel de um cantor/compositor amadurecido, de um trovador errante calejado pelos tombos da vida, reformulando a sua proverbial jovialidade numa melancolia do tipo fatalista. Claro que, depois, há as inevitáveis referências a Dylan, Beatles e, sobretudo, George Harrison, umas investidas no rockabilly e até no glam rock, mas filtradas segundo uma nova profundidade. Quando, em “Don’t fade on me”, Petty lastima a desistência daqueles que antes quiseram ir demasiado longe, somos levados a concordar e a admitir que, no rock, os frutos de juventude não são obrigatoriamente os mais suculentos. (8)