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Altan, Boys of the Lough, Bothy Band, Buttons & Bows, Chieftains, De Danann, Dervish, Triona Ní Dhomnaill, Dubliners, Dolores Keane, Mick Moloney, Christy Moore, Patrick Street, Planxty, Skylark, Trian – “Trevos de Quatro Folhas” (dossier, música tradicional irlandesa)

pop rock >> quarta-feira >> 01.06.1994
DOSSIER

TREVOS DE QUATRO FOLHAS



O texto que se segue faz uma resenha dos grupos e intérpretes que, de algum modo, revolucionaram e divulgaram em maior escala a música tradicional irlandesa. Uns fizeram escola, outros são por natureza excêntricos e “desrespeitadores”. Alguns pretendem acrescentar-lhes elementos de modernidade, fundindo certas especificidades da folk com outras linguagens, explorando pontos em comum, proximidades ou distâncias que surpreendentemente se anulam.
Desta súmula que propomos ao conhecimento e audição dos leitores, ficaram de fora alguns nomes sem dúvida importantes – Michael Coleman, Leo Rowsome, Willie Clancy, Séamus Ennis, Paddy Tunney, etc. -, patriarcas das gerações posteriores e alicerces do “boom” que iria abalar a ilha na madrugada dos anos 70. Isto seguindo um critério que privilegia uma certa universalidade e acessibilidade da música, ficando deste modo igualmente excluídos à partida os artistas cuja obra se construiu sobre especificidades, sejam elas um determinado instrumento (Mary Bergin, no “tin whistle”, ou Derek Bell, na harpa, por ex.) ou música com carácter marcadamente regional ou sectário (por exemplo, a música religiosa de Noirín Ní Riain). Porém, todo este mundo imenso encontra-se à disposição de quantos já penetraram o suficiente nos meandros desta música para poderem apreciar em pleno as maravilhas que podem encerrar um “bodhran”, um “tin whistle” ou umas “uillean pipes”.

ALTAN




Fizeram a transição da geração de ouro dos anos 70 para o novo “boom” dos anos 90. Uma carreira solidamente construída sobre a humildade a correcta assimilação dos ensinamentos dos antepassados granjearam-lhes a reputação de melhor banda irlandesa da actualidade. A voz de Mairéad Ní Mhaonaigh, a experiência do “intruso” escocês, ex-Silly Wizard, John Cunningham e a capacidade de autorregeneração e inovação de que dão mostras fazem o resto.
Um disco recomendado: “Harvest Storm”

BOYS OF THE LOUGH
Celebraram recentemente 25 anos de carreira. Quinze álbuns gravados e uma postura discreta, um pouco na sombra dos Chieftains, não obstam a que sejam um dos grupos de maior importância – sem dúvida dos que sempre se mantiveram fiéis a um estilo, sem concessões. Com uma formação relativamente estável ao longo dos anos, destaque para Aly Bain, “virtuose” do violino ao estilo de Shetland, Christy O’Leary, nas “uillean pipes”, e Cath McConnell, um dos maiores tocadores de “tin whistle” vivos da Irlanda.
Um disco recomendado: “Farewell and Remember Me”

BOTHY BAND
Geniais. Revolucionaram por completo a música e o conceito da música tradicional irlandesa. Uma energia espantosa, patente logo no álbum homónimo com que se estrearam em 1975, aliada a uma extraordinária capacidade técnica dos seus elementos e a uma intuição rara nos arranjos, fazem deste colectivo uma das principais referências da música na Irlanda, “tout court”. Se os Chieftains representam o classicismo, os Planxty a força do colectivo e os De Danann a experimentação, os Bothy Band representaram a revolução e a irreverência. Na altura houve quem comparasse, pela importância, este grupo – primeiro a fazer ajoelhar as audiências de rock à “irish tradition” – aos Beatles e a Elvis Presley. A personalidade forte dos músicos motivou o fim prematuro desta banda, cujos membros viriam a criar outros projectos e grupos importantes. Pelos Bothy Band e pelo grupo que lhes deu origem, os Seachtar, passaram nomes como Paddy Glackin e Tommy Peoples, antes da formação clássica com Matt Molloy, Paddy Keenan, Kevin Burke, Triona Ní Dhomhnaill, Michéal Ó Domhnaill e Donnal Lunny.
Um disco recomendado: “Old Hag You Have Killed Me”

BUTTONS & BOWS
Pouco conhecidos, fazem a ponte da tradição irlandesa com a Escócia, as ilhas Shetland, a música da Luisiana e a herança francesa do Quebeque. “Reels”, valsas e “hornpipes” são a especialidade deste trio de magníficos: Jackie Daly, no acordeão e concertina, secundado pelos violinos de Séamus McGuire e Manus McGuire.
Um disco recomendado: “The First Month of Summer”

CHIEFTAINS
(ver caixa)

DE DANANN
Juntamente com os Chieftains, os Dubliners e os Boys of the Lugh, os De Danann são uma das bandas de maior longevidade da Irlanda. O primeiro álbum deste grupo, cuja designação se inspirou nos míticos heróis Tanatha De Danann, data de 1975, o mesmo ano de estreia dos Bothy Band e apresenta a fusão dos estilos de Galway e Kerry, nele despontando uma então jovem cantora chamada Dolores Keane. Desde essa data e até ao presente, os De Danann nunca mais pararam de experimentar novos rumos e parentescos da música irlandesa com outras estéticas musicais. Com uma formação flutuante, alternaram obras-primas com discos menos conseguidos, caso do mais recente “1/2 Set in Harlem”, demasiado rendido aos primos americanos. A partir de certa altura, os De Danann passaram a incluir em cada álbum um tema dos Beatles. A música americana-irlandesa de baile dos anos 20, diálogos com cantores tradicionais desdentados da velha geração ou os folclores judeu e da América Latina fazem parte do leque de experiências levadas a cabo pelos DE Danann, também conhecidos pelo naipe de cantoras que passou pelo grupo: Dolores Keane, Maura O’Connell, Caroline Lavelle, Mary Black, Eleanor Shanley…
Alec Finn e Frank Gavin são os sobreviventes da formação original desta banda, pela qual passaram – ao longo das duas décadas que já levam de existência – ilustres como Jack Daly, Mairtin O’Connor e Mary Bergin.
Um disco recomendado: “The Star Spangled Molly”

DERVISH
Apareceram o ano passado e logo mostraram possuir a segurança e o saber dos veteranos. O que, aliado à garra e ao necessário virtuosismo, lhes assegurou desde logo o reconhecimento. Representantes da nova vaga, da qual fazem parte também os Déanta ou os Cran, estão na linha das grandes bandas folk irlandesas da década de 70.
Um disco recomendado: “Harmony Hill”

TRIONA NÍ DHOMNAILL
Herdeira legítima de Sean O’Riada, enquanto cravista de nomeada, Triona é o que se pode chamar uma mulher de múltiplos talentos. A sua voz está ao nível das melhores cantoras da Irlanda. É exímia arranjador a e manuseia com o mesmo à vontade um piano, um clavinete ou um sintetizador. Na sua música convergem influências díspares como a música de câmara, a tradição vocal gaélica e a veia improvisadora jazzística. Terminada a aventura, primeiro com os Skara Brae (com Daithi Sproule, a irmã Maighread e o irmão Michéal), depois com os Bothy Band, Triona formou dois dos mais importantes grupos irlandeses dos anos 80: Touchstone (sediado nos “States”) e Relativity, este com o seu irmão Michéal (com quem colabora também no grupo “new age” Nightnoise) e os dois manos escoceses John e Phil Cunningham. Ou seja, uma espécie de síntese dos Bothy Band com os Silly Wizard.
Um disco recomendado: “Gathering Pace” (Relativity)

DUBLINERS
Reis do “pub folk”, sinonimo de Dublin, os Z. Z. Top (não há na Irlanda barbas mais longas que as dos Dubliners) da folk irlandesa, verdadeiros heróis do “Whiskey in the jar”, aos quais foram beber os Pogues, Oyster Band, Levellers e todas as bandas portuguesas que gostam de parecer irlandesas. Existem há mais de 30 anos, gravaram recentemente um compacto duplo de aniversário e prometeu continuar. “Here’s to the Company!” À deles!!
Um disco recomendado:: “Whiskey on a Sunday”

DOLORES KEANE
A voz das vozes femininas. Aprendeu a cantar com as tias Rita e Sarah, passou pelos De Danann e rapidamente tornou-se a maior cantora tradicional da Irlanda. O timbre aveludado, a altura grave, a naturalidade e um excepcional controlo de volume da sua voz estabelecem a diferença. Com os Reel Union, é possível escutá-la na faceta mais “hard”, “a capella” e sem arranjos sofisticados, mas é só nos discos com o marido e multi-instrumentista John Faulkner que a música de Dolores Keane (ou Catháín, em gaélico) se eleva mais alto.
Um disco recomendado: “Broken Hearted I’ll Wander”

MICK MOLONEY
Nasceu em Limerick, mas vive nos Estados Unidos. Mick Moloney é certamente um dos mais dignos representantes da colónia irlandesa na América. Reputado executante nos instrumentos de corda dedilhada (guitarra, “bouzouki”, bandolim, banjo), colabora há dez anos com o cantor Robert O’Connell e o acordeonista Jimmy Keane e obras brilhantes centradas na temática da emigração.
Um disco recomendado: “Kilkelly”

CHRISTY MOORE




Equivalente de Dolores Keane no masculino. Ganhou fama nos Planxty, mas a obra posterior a solo mostra-o como um músico prolixo e de grandes recursos, enquanto cantor e compositor, em álbuns que abrangem desde a interpretação fiel de temas tradicionais à canção satírica de intervenção. É hoje uma espécie de patriarca, aglutinador de novas tendências e talentos.
Um disco recomendado: “Ordinary Man”

PATRICK STREET




A superbanda dos anos … que recentemente ressuscitou para os 90. Perfeitos na execução e nos arranjos, o quarteto de luxo formado por Andy Irvine, Jackie Daly, Kevin Burke e Arty McGlynn incarna tudo o que de melhor tinham os Planxty, Bothy Band e De Danann juntos. Descarrilaram na aproximação à pop efectuada em “Irish Times”, pa5ra regressarem em força com “All in Good Time”
Um disco recomendado: Patrick Street”

PLANXTY
Na nossa opinião, a maior banda irlandesa de todos os tempos. Os Planxty conseguiram na sua música o equilíbrio perfeito entre a ancestralidade do reportório tradicional e uma estética completamente contemporânea. Foram, para além de instrumentistas de alto nível, contadores de histórias que misturavam o encanto das lendas com a sátira e a crítica. A aproximação a outras músicas e culturas, sobretudo dos Balcãs (resultante do interesse de Andy Irvine), ou, como no derradeiro “Words & Music”, uma composição de Dylan, integravam-se com toda a naturalidade no estilo do grupo. É difícil definir aquilo que fazia dos Planxty uma banda inimitável. A personalidade e vontade fortes de todos os seus elementos garantiram-lhes uma coesão interna que nunca existiu, por exemplo, nos Bothy Band, nem nos De Danann. Também ao contrário destas duas bandas, os Planxty não deixaram escola, fruto de uma alquimia e de uma conjugação de sensibilidades especiais. As capacidades técnicas dos seus elementos (de todos apenas Liam O’Flynn e Matt Molloy se podem considerar verdadeiros “virtuoses”, havendo sem dúvida outros executantes com maior valia técnica que Andy Irvine, Christy Moore, Johnny Moynihan e Donal Lunny) não se impunham pelo exibicionismo, antes eram postas ao serviço da música. Quem quiser saber por que razão a música tradicional da Irlanda é a mais bela do mundo deve começar por ouvir os Planxty.
Um disco recomendado: “Cold Blow and the Rainy Night”

SKYLARK
Quatro grandes músicos: Len Graham, percussões e uma voz extraordinária, Garry Ó Briain, guitarra e teclados, e Mairtin O’Connor, o mágico do acordeão. Deles se podem dizer que gravaram dois álbuns de música tradicional irlandesa de primeira água. “Vintage Traditional music”. Isto é – da melhor.
Um disco recomendado: “Light and Shade”

TRIAN
Gravaram até à data apenas um álbum, mas tal bastou para os colocar na primeira fila dos grupos irlandeses instalados na América. Liz Carroll é simplesmente uma das maiores violinistas da actualidade. Acompanham-na o omnipresente Daithi Sproule (na guitarra e voz) e Billy McComiskey (ao lado de Aidan Coffey, dos De Danann, um dos jovens lobos do acordeão). Os Trian provam que a distância, mais que cindir, une a alma dos irlandeses. Haverá um nome cor de esmeralda para “saudade”?
Um disco recomendado: “Trian”

(caixa)
O MELHOR DE QUÊ?


THE CHIEFTAINS
The Best of the Chieftains
Columbia Legacy, distri. Sony Music





Chamar “best of” a um disco que abarca apenas um período de três anos – correspondente aos álbuns “The Chieftains 7”, de 1977, “The Chieftains 8”, de 1978, e “The Chieftains 9: Boil the Breakfast Early”, de 1979, por coincidência aqueles que tiveram edição americana na Columbia – de uma banda que já leva 24 álbuns gravados e 31 anos de existência é abusivo. Chamassem-lhe outra coisa qualquer, até porque de fora ficaram obviamente os melhores trabalhos do grupo: “The Chieftains 5”, “The Chieftains 6: Bonaparte’s Retreat” (o tal com Dolores Keane), “The Chieftains 10”, “Celebration” (com Van Morrison e os Milladoiro) e “Celtic Wedding” (dedicado na totalidade à música da Bretanha e ao qual se refere a foto da capa).
Formados em 1963 a partir dos Ceoltoiri Cualann, um projecto saído da imaginação do compositor e cravista Sean O’Riada, os Chieftains foram os primeiros a romper os tabus que algemavam as velhas Ceili Bands. Os tempos soltaram-se e passaram a alternar-se no interior de cada composição (dando origem às célebres transições de ritmo de um “reel” para um “jig” e deste para uma polka ou um “Planxty” que fazem as delícias dos apreciadores deste estilo de música), a instrumentação diversificou-se.
Rapidamente a banda alcançou um estatuto internacional, recebendo convites para fazer bandas sonoras de filmes (“Barry Lyndon” popularizou o nome dos Chieftains em toda a parte), documentários como “Ballad of the Irish Horse” e séries de televisão, como “The Year of the French”, e atraindo a atenção de músicos rock e pop que achavam prestigiante gravar ao lado dos Chieftains. Marianne Faithfull, Rickie Lee Jones, Elvis Costello, Eric Clapton, Kate & Anna McGarrigle, Jackson Browne, Art Garfunkel e Mike Oldfield são alguns dos artistas que gravaram ou tocaram ao vivo com esta banda hoje tornado instituição.
Os Chieftains experimentaram com orquestras e foram à China tocar música chinesa com músicos chineses. Gravaram música da Galiza e da Bretanha. Fizeram “country music” à irlandesa, em conjunto com os “monstros” Willie Nelson, Emmylou Harris, Chet Atkins, Nitty Gritty Dirt Band, Ricky Scaggs, Colin James e Don Williams. Recuperaram o legado de Turlough O’Carolan, dedicaram um disco à harpa céltica e outro à cidade de Dublin. Conseguiram, em suma, transformar a música tradicional da Irlanda numa das músicas mais populares e apreciadas do planeta.
Por tudo isto torna-se quase irrelevante a presente selecção. Claro que a música é óptima e que Paddy Moloney, Matt Molloy, Sean Keane, Martin Fay, Michael Tubridy, Derek Bell e Kevin Coneff garantem prestações de alto nível. Mas poderiam ser estas 12 faixas como poderiam ser outras quaisquer, que a música continuaria a ser óptima na mesma. E, para os neófitos, qual o interesse em começarem por aqui e não, o que seria mais lógico, pelo volume um da discografia do grupo, que, por sinal, se encontra disponível na sua totalidade em Portugal? É que assim até parece que o título é um engano… (7)

Dolores Keane & John Faulkner – “Sail Óg Rua” + De Danann – “Ballroom” + Gabriel Yacoub – “Trad. Arr.” + Mick Moloney, Jimmy Keane, Robbie O’Connell, c/ Liz Carroll – “There Were Roses” + Touchstone – “Jealousy” + Triona Ni Dohmnaill – “Triona”

Pop Rock >> Quarta-Feira, 16.09.1992


GREEN LINNET EM COMPACTO

A Green Linnet, talvez a mais importante editora de música tradicional da actualidade, passou a ter disponível em Portugal, no formato compacto, a maior parte do seu catálogo, com distribuição Megamúsica. Reedições e algumas novidades aí estão, prontas para completar as colecções. Segue-se uma resenha de alguns títulos representativos do primeiro grupo.


Dolores Keane & John Faulkner
Sail Óg Rua


A diva, em todo o seu esplendor, aqui na companhia de John Faulkner e de um grupo de amigos. Correspondente ao período no qual Dolores “ousou” a incursão no território armadilhado da pop, seguindo as pisadas de June Tabor (em qualquer dos casos experi~encias não muito bem sucedidas), na sequência da primeira e genial parceria do duo, “Broken Hearted I’ll Wonder”. Dolores personifica o expoente do canto tradicional irlandês. Tornou-se conhecida nos De Danann, onde desde logo demonstrou possuir uma voz e uma presença ímpares, a par de um virtuosismo que então, como neste disco, atingem o apogeu na difícil arte do canto “a capella”. “Sail Óg Rua” é brilhante da primeira à última faixa e uma espécie de compêndio das diversas vertentes da música tradicional irlandesa. Presentes alguns “monstros”, como os dois acordeonistas Mairtin O’Connor e Jackie Daly (ambos passaram pelos De Danann) ou os “velhinhos” Eamon Curran, nas “uillean pipes”, e Sarah Keane, esta num comovente dueto vocal com a sobrinha na canção que dá título ao álbum. Até o Fairlight CMI faz aqui figura de instrumento ancestral, num disco de aquisição urgente por parte dos aficionados. (10)

De Danann
Ballroom



O grupo dispensa apresentações. Independentemente da sua fidelidade aos tradicionais irlandeses, os De Danann ganharam a reputação de uma certa irreverência e gosto pelo desvio à ortodoxia, exemplificado, nos álbuns mais recentes, pela inevitável inclusão, em cada um, de uma canção dos Beatles. Outro amor de sempre, a música de salão de baile, é aqui ilustrado de forma sublime e com o virtuosismo de sempre, numa sequência de valsas, das que se dançavam no princípio do século nos inúmeros “ballrooms” espalhados pela Irlanda, e hoje votados ao abandono, como o retratado na capa. Homenagem a um estilo que noutro álbum da banda, “The Star Spangled Molly”, atinge a perfeição. “Ballroom” apresenta os De Danann com uma das suas melhores formações de sempre, que integrava, além dos fundadores Frankie Gavin e Alec Finn, Dolores Keane, Mairtin O’Connor, Caroline Lavelle (violoncelo) e Johnny Mc Donnagh (percussões). (8)

Gabriel Yacoub
Trad. Arr.



Primeiro disco a solo do vocalista dos Malicorne, posterior a “Pierre de Grenoble”, uma raridade, gravada na companhia da irmã, Marie Yacoub, de que é possível escutar algumas faixas que foram incluídas na colectânea daquele grupo lendário, “Légende”. “Trad. Arr.”, como o título faz supor, é uma viagem pelos tradicionais franceses, arranjados numa linha semelhante à dos Malicorne, segundo uma orientação estética que nos álbuns seguintes, “Elementary Level of Faith” (um equívoco e uma nódoa na carreira do cantor) e “Bel” (uma das mais bem sucedidas fusões de sempre entre a folk e apop, viria a ser completamente reformulada. A principal diferença reside numa maior simplicidade e contenção, ao ponto de Gabriel arriscar a voz em dois temas sem acompanhamento. Os apreciadores dos Malicorne encontrarão em “Trad. Arr.” O melhor Yacoub: as inflexões únicas da voz, o perfume de arranjos de jardim, o destaque dado às sonoridades dos instrumentos “quentes”, como a sanfona, a gaita-de-foles ou o órgão de pedais. Entre os músicos convidados, a irmã Marie, o mago das “gaitas”, Jean Blanchard, o antigo companheiro nos Malicorne Hughes de Courson e o violinista inglês Barry Dransfield. (8)

Mick Moloney, Jimmy Keane, Robbie O’Connell, c/ Liz Carroll
There Were Roses



Álbum que precede, na discografia do trio, o genial “Killkelly”, já importado anteriormente em quantidades reduzidas e que agora regressa aos escaparates nacionais. Tradicionais australianos, canções de emigrantes, alusões à country, marchas e “bornpipes” e a América de sangue irlandês passam como um sonho na voz inconfundível de Mick Moloney, também um virtuoso das cordas dedilhadas, no acordeão de Jimmy Kesne e na guitarra de O’Connell. Liz Carroll, a violinista americana vencedora de todos os concursos, é a convidada especial entre um grupo onde pontificam Jerry O’Sullivan (“uillean pipes”) e Eugene O’Donnell (violino). Muita atenção a “Drimin Donn Dilis”, uma assombração nocturna sobre a fome e a miséria nos cantos da Irlanda. (9)

Touchstone
Jealousy



Segundo trabalho de uma das bandas que melhor souberam recriar o espírito dos Bothy Band. O que significa que grande parte desse espírito passava pela voz, pelos teclados e pela personalidade de Triona Di Dohmnaill, cuja importância é de resto notória noutra “superbanda” da Folk, os Relativity. Caludine Langille faz o contraponto vocal feminino (num registo semelhante ao de Carolannie Pegg, de uma banda já extinta, estranha e pouco divulgada, os Mr. Fox) de Triona, de forma exemplar no magnífico “Jealousy (you better keep your distance)”. Há brinvadeiras com os lugares-comuns da folk, temas da Bretanha (entre os quais uma composição de Dan Ar Bras), variações impensáveis sobre o filão tradicional e baladas em gaélico. Disco lúdico, feito de contrastes e cores inusitadas. Uma história de encantar. (8)

Triona Ni Dohmnaill
Triona



Outro álbum de audição obrigatória, no qual a ex-vocalista dos Bothy Band põe em realce todo o seu talento nessa arte – nas baladas evocativas dos Bothy Band (incluindo o longo e nostálgico lamento amoroso que fecha o compacto), nas interpretações “a capella” ou nos duetos com Maíréad Ni Dohmnaill – e, num par de temas, de cravista solo, dentro da linhagem nobre de um Sean O’Riada: “Carolan’s farewell to music”, do mítico harpista cego Turlough O’Carolan, e “Foinn Bhriotáinescha”, uma selecção de temas bretões aprendidos com uma típica “Bagad”. Entre os convidados, três grandes músicos: Micheál O’Domhnaill (irmão de Triona e outro ex-Bothy Band), na guitarra, Paddy Keenan, nas “uillean pipes”, e Paddy Glackin, no violino (8)