Arquivo de etiquetas: Dolores Keane

Dolores Keane – “There Was A Maid”

pop rock >> quarta-feira, 14.04.1993
REEDIÇÕES WORLD


Dolores Keane
There Was A Maid
Claddagh, distri. VGM



Onde se prova que Dolores Keane é a maior cantora viva da Irlanda. “There was a maid”, original de 1978, está longe de ostentar o som sofisticado e os arranjos gloriosos das parcerias com John Faulkner, “Farewell to Eirinn”, “Broken Hearted I’ll Wander” e “Sail Og Rua”. Mas a voz, caramba, vale por tudo, brilhando como ouro nas interpretações “a capella” ou acompanhada pelos velhinhos sem mariquices da Reel Union. E Dolores dá-lhes espaço de sobra para mostrarem o que valem nos “reels” e jigas da praxe. Mesmo sem cantar, a diva espanta e comove, tocando sozinha a sua flauta de madeira num “Lament for Owen Roe O’Neill”. (8)

Vários – “A Galope Na Tradição” (folk europeia)

pop rock >> quarta-feira, 14.04.1993


A GALOPE NA TRADIÇÃO

Imparável o ritmo de lançamento de novos compactos de música folk europeia no nosso país. Entre novidades e reedições de obras antigas. Na medida do possível (faltam páginas…), tentaremos escrever sobre todos. Mas para que os fanáticos (como é o caso deste vosso amigo…) e os impacientes (idem, idem…) vão deitando contas à vida, aqui vai a listagem, com as respectivas classificações, do que foi ouvido, já se encontra disponível no mercado (em quantidades suficientes ou não, essa é outra questão…) e vale a pena destacar. Do (6), para os que gostam de ter tudo, aos (8), (9) e (10), de aquisição imprescindível.



Assim, a começar pelas reedições, e por ordem alfabética: Blowzabella, “A Richer Dust” (Plat Life), a obra fundamental do grupo liderado pelo mago da sanfona, Nigel Eaton (10); Fuxan Os Ventos, “Noutrora” (Fonograma), espanhóis de costela galega, um pouco irregulares, que deram nas vistas nos anos 70 (7); John Kirkpatrick, “Plain Capers” (Topic), para os aficionados de “morris dancing” (7); Maddy Prior & Tim Hart, “Folk Songs of Olde England”, vol. 1&2, (Mooncrest) da era anterior aos Steeleye Span (5) e (6); Milladoiro, “Solfafria” e “Galicia no Pais das Maravillas”, da fase Columbia, mais internacionalista. No primeiro colaboram um grupo de pandeiretas e coros femininos (9) e (8); Peter Bellamy, “The Transports” (Topic), a ópera folk pelo malogrado cantor, na companhia de uma galáxia de estrelas – June Tabor, Martin Carthy, Nic Jones, Cyril Tawney, Dave Swarbrick, Watersons, entre outras (8); Richard Thompson, “Strict Tempo” (Hannibal), álbum de instrumentais, de Ellington às “Barn Dances”, para nós de longe o eu melhor (9); Shirley Collins, “No Roses” (Mooncrest), aventura folk rock de sabor “morris” por uma das grandes vozes femininas inglesas, com Ashley Hutchings e os supermúsicos da Albion Country Band (7).
No capítulo das novidades temos: Boys of the Lough”, “The Fair Hills of Ireland” (Lough), comemoração dos 25 anos de carreira de uma das instituições folk irlandesas (7); Cherish the Ladies, “The Back Door” (Green Linnet), grupo constituído só por senhoras, resposta às escocesas Sprageen (7); Chieftains, “The Celtic Harp” (RCA Victor), dedicado ao mais antigo instrumento tocado na Irlanda (8); Dolores Keane, “Solid Gronud” (Shanachie), a voz das vozes, cada vez mais afogada no “mainstream2 (5); Gwenva, “Le Paradis des Celtes” (Ethnic), bretões, com as bombardas de Jean Baron (8); Heather Heywood, “By Yon Castle Wa” (Greentrax), uma bonita voz da Escócia, apoiada pelos ex-Battlefield Brian McNeill e Dougie Pincock (6); Kevin Burke, “Open House” (Green Linnet), idiossincrasias várias pelo antigo violinista dos Bothy Band e Patrick Street (8); Lo Jai, “Acrobates et Musiciens” (Shanachie), uma das maravilhas do ano, texto extenso já na próxima semana (10); Mary Bergin, “Feádoga Stáin 2”, que é como quem diz, “tin whistle” em gaélico (7); Paddy Keenan, “Port Na Phiobaire” (Gael-Linn), outro ex-Bothy Band, neste caso o “possesso das “uillean pipes” (8); Paul McGrattan, “The Frost is all over” (Gael-Linn), um trabalho de flauta (7); Sharon Shannon, “Sharon Shannon” (Solid), “miss” acordeão, rival de Mairtin O’Connor, em corrida pelo mundo – inclui uma versão de um “corridinho” algarvio, o mesmo que aparece na 3246ª variante de “Bringin’ It all back Home” (8); Tannahill Weavers, “The Mermaid’s Song” (Green Linnet), sempre em forma, estes escoceses de boa cepa (8); Vários, “Heart of the Gaels”, “sample” de última fornada da Green Linnet (8); Vários, “Chapitre 2” (Revolum), mostruário de vários nomes da música occitana, da Gasconha, Provença e Limousin, entre os quais os Lo Jai. Sons inuisitados, grandes grupos e vozes a descobrir (9); Whistlebinkies, “Anniversary” (Claddagh), 74 minutos de música excepcional, num “o melhor de “ que comemora as bodas de prata do grupo mais injustiçado da Escócia – atenção a um grande tocador de “highland pipes”, Rob Wallace. Um quarteto de harpa entre os convidados. Texto desenvolvido para a semana (10).
Finalmente, para aguçar o apetite: os (ou as…) Varttina, da Finlândia, muito badaladas pela “Folk Roots”, com “Seleniko” (Spirit) (8), do qual apenas chegou por enquanto uma amostra, são mais uma banda-revelação proveniente da Escandinávia. Prestes a chegar estão “Cartas Marinas”, de Emilio Cao, “Lubican”, dos La Musgana, “Winter’s Turning” (Plant Life), de Robin Williamson, ex-Incredible String Band tornado bardo da harpa e “Aa Úna” (Claddagh), primeira onda de choque provocada por “Vox de Nube”, gravado numa igreja por um grupo coral misto, com acompanhamento instrumental, de música irlandesa dos primeiros séculos da era cristã.

Dolores Keane & John Faulkner – “Sail Óg Rua” + De Danann – “Ballroom” + Gabriel Yacoub – “Trad. Arr.” + Mick Moloney, Jimmy Keane, Robbie O’Connell, c/ Liz Carroll – “There Were Roses” + Touchstone – “Jealousy” + Triona Ni Dohmnaill – “Triona”

Pop Rock >> Quarta-Feira, 16.09.1992


GREEN LINNET EM COMPACTO

A Green Linnet, talvez a mais importante editora de música tradicional da actualidade, passou a ter disponível em Portugal, no formato compacto, a maior parte do seu catálogo, com distribuição Megamúsica. Reedições e algumas novidades aí estão, prontas para completar as colecções. Segue-se uma resenha de alguns títulos representativos do primeiro grupo.


Dolores Keane & John Faulkner
Sail Óg Rua


A diva, em todo o seu esplendor, aqui na companhia de John Faulkner e de um grupo de amigos. Correspondente ao período no qual Dolores “ousou” a incursão no território armadilhado da pop, seguindo as pisadas de June Tabor (em qualquer dos casos experi~encias não muito bem sucedidas), na sequência da primeira e genial parceria do duo, “Broken Hearted I’ll Wonder”. Dolores personifica o expoente do canto tradicional irlandês. Tornou-se conhecida nos De Danann, onde desde logo demonstrou possuir uma voz e uma presença ímpares, a par de um virtuosismo que então, como neste disco, atingem o apogeu na difícil arte do canto “a capella”. “Sail Óg Rua” é brilhante da primeira à última faixa e uma espécie de compêndio das diversas vertentes da música tradicional irlandesa. Presentes alguns “monstros”, como os dois acordeonistas Mairtin O’Connor e Jackie Daly (ambos passaram pelos De Danann) ou os “velhinhos” Eamon Curran, nas “uillean pipes”, e Sarah Keane, esta num comovente dueto vocal com a sobrinha na canção que dá título ao álbum. Até o Fairlight CMI faz aqui figura de instrumento ancestral, num disco de aquisição urgente por parte dos aficionados. (10)

De Danann
Ballroom



O grupo dispensa apresentações. Independentemente da sua fidelidade aos tradicionais irlandeses, os De Danann ganharam a reputação de uma certa irreverência e gosto pelo desvio à ortodoxia, exemplificado, nos álbuns mais recentes, pela inevitável inclusão, em cada um, de uma canção dos Beatles. Outro amor de sempre, a música de salão de baile, é aqui ilustrado de forma sublime e com o virtuosismo de sempre, numa sequência de valsas, das que se dançavam no princípio do século nos inúmeros “ballrooms” espalhados pela Irlanda, e hoje votados ao abandono, como o retratado na capa. Homenagem a um estilo que noutro álbum da banda, “The Star Spangled Molly”, atinge a perfeição. “Ballroom” apresenta os De Danann com uma das suas melhores formações de sempre, que integrava, além dos fundadores Frankie Gavin e Alec Finn, Dolores Keane, Mairtin O’Connor, Caroline Lavelle (violoncelo) e Johnny Mc Donnagh (percussões). (8)

Gabriel Yacoub
Trad. Arr.



Primeiro disco a solo do vocalista dos Malicorne, posterior a “Pierre de Grenoble”, uma raridade, gravada na companhia da irmã, Marie Yacoub, de que é possível escutar algumas faixas que foram incluídas na colectânea daquele grupo lendário, “Légende”. “Trad. Arr.”, como o título faz supor, é uma viagem pelos tradicionais franceses, arranjados numa linha semelhante à dos Malicorne, segundo uma orientação estética que nos álbuns seguintes, “Elementary Level of Faith” (um equívoco e uma nódoa na carreira do cantor) e “Bel” (uma das mais bem sucedidas fusões de sempre entre a folk e apop, viria a ser completamente reformulada. A principal diferença reside numa maior simplicidade e contenção, ao ponto de Gabriel arriscar a voz em dois temas sem acompanhamento. Os apreciadores dos Malicorne encontrarão em “Trad. Arr.” O melhor Yacoub: as inflexões únicas da voz, o perfume de arranjos de jardim, o destaque dado às sonoridades dos instrumentos “quentes”, como a sanfona, a gaita-de-foles ou o órgão de pedais. Entre os músicos convidados, a irmã Marie, o mago das “gaitas”, Jean Blanchard, o antigo companheiro nos Malicorne Hughes de Courson e o violinista inglês Barry Dransfield. (8)

Mick Moloney, Jimmy Keane, Robbie O’Connell, c/ Liz Carroll
There Were Roses



Álbum que precede, na discografia do trio, o genial “Killkelly”, já importado anteriormente em quantidades reduzidas e que agora regressa aos escaparates nacionais. Tradicionais australianos, canções de emigrantes, alusões à country, marchas e “bornpipes” e a América de sangue irlandês passam como um sonho na voz inconfundível de Mick Moloney, também um virtuoso das cordas dedilhadas, no acordeão de Jimmy Kesne e na guitarra de O’Connell. Liz Carroll, a violinista americana vencedora de todos os concursos, é a convidada especial entre um grupo onde pontificam Jerry O’Sullivan (“uillean pipes”) e Eugene O’Donnell (violino). Muita atenção a “Drimin Donn Dilis”, uma assombração nocturna sobre a fome e a miséria nos cantos da Irlanda. (9)

Touchstone
Jealousy



Segundo trabalho de uma das bandas que melhor souberam recriar o espírito dos Bothy Band. O que significa que grande parte desse espírito passava pela voz, pelos teclados e pela personalidade de Triona Di Dohmnaill, cuja importância é de resto notória noutra “superbanda” da Folk, os Relativity. Caludine Langille faz o contraponto vocal feminino (num registo semelhante ao de Carolannie Pegg, de uma banda já extinta, estranha e pouco divulgada, os Mr. Fox) de Triona, de forma exemplar no magnífico “Jealousy (you better keep your distance)”. Há brinvadeiras com os lugares-comuns da folk, temas da Bretanha (entre os quais uma composição de Dan Ar Bras), variações impensáveis sobre o filão tradicional e baladas em gaélico. Disco lúdico, feito de contrastes e cores inusitadas. Uma história de encantar. (8)

Triona Ni Dohmnaill
Triona



Outro álbum de audição obrigatória, no qual a ex-vocalista dos Bothy Band põe em realce todo o seu talento nessa arte – nas baladas evocativas dos Bothy Band (incluindo o longo e nostálgico lamento amoroso que fecha o compacto), nas interpretações “a capella” ou nos duetos com Maíréad Ni Dohmnaill – e, num par de temas, de cravista solo, dentro da linhagem nobre de um Sean O’Riada: “Carolan’s farewell to music”, do mítico harpista cego Turlough O’Carolan, e “Foinn Bhriotáinescha”, uma selecção de temas bretões aprendidos com uma típica “Bagad”. Entre os convidados, três grandes músicos: Micheál O’Domhnaill (irmão de Triona e outro ex-Bothy Band), na guitarra, Paddy Keenan, nas “uillean pipes”, e Paddy Glackin, no violino (8)