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Gwendal – “Glen River”

Quarta-Feira, Pop-Rock 12.06.1991
Críticas: World / Folk


GWENDAL
Glen River
LP, MC e CD, Mélodie, distri. Mundo da Canção



Os Gwendal são actualmente Youenn Le Berre e Robert Le Gall, bretões de espírito aberto, sem vergonha nem pruridos puristas de qualquer espécie. Para eles a música tradicional, neste caso da Bretanha, é o ponto de partida para viagens sem roteiro fixo nem regresso assegurado. Estiveram recentemente no Porto, no II Festival Intercéltico, e desiludiram quem estava à espera de reencontrar a síntese jazz-folk dos tempos áureos de “À vos désirs”. Agora a música é outra, mais dispersa, electrónica e descomplexada. As flautas, gaita-de-foles, bombarda e violino tradicionais juntam-se ao saxofone, ao baixo e às programações computorizadas, em delírios de síntese que de modo algum seguem à risca os preceitos do “velho” compêndio celta. O “celtic reggae” de “Glas nox”, o africanismo pop de “Uilean mandinga”, o sinfonismo oldfieldiano de “La tarentule” ou a “electronic body folk” de “Celtic bridge” são algumas das direcções que os Gwendal apontam, com maior ou menor convicção. Há faixas dispensáveis, de evidente mau gosto rockeiro, outras integradas no mais puro espírito tradicional (“Jigger Jig”, “Noces de granit”, “Sterem” ou esses “Champs bothorel” cintilantes de cristal). A capa explica o conteúdo: um edifício futurista perdido entre as brumas de uma floresta.
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Vários (Vai de Roda, Gwendal) – “Festival Intercéltico Terminou – Bruxas À Solta No Porto”

Secção Cultura Segunda-Feira, 22.04.1991


Festival Intercéltico Terminou
Bruxas À Solta No Porto


Os portugueses Vai de Roda e os bretões Gwendal fecharam, com chaves de ouro e prata, a semana da Bretanha. Os portugueses provaram que o futuro é compatível com a tradição. Os bretões apostaram na fusão de estilos e no virtuosismo. Durante quatro dias, o Porto foi a capital celta.



António Tentúgal, ficou provado, é um perfeccionista. Sábado, no espectáculo ao vivo dos Vai de Roda, nada foi deixado ao acaso, de maneira a transformar a sala do Teatro Rivoli num palácio se sortilégios. Ainda as pessoas se acomodavam nos respectivos lugares e já, na penumbra do palco, se faziam ouvir os “espanta diabos”, chocalhos e assobios, a afugentar os maus espíritos e a criar a atmosfera propícia à vinda das “bruxinhas boas”.
Tentúgal (sanfona, braguesa, “tin whistle”, acordeão e ponteira), Bilão (braguesa, bandolim, “bodhran” e harmónica), Tinó (acordeão), Cristina (sintetizadores), Emanuel (violino) e Miguel Teixeira (guitarras clássica e folk, braguesa, cavaquinho e percussões) recriaram, no recinto, um mundo mágico, encenado e narrado em histórias de encantar e lenga-lengas que evocam memórias ancestrais perdidas nas brumas do tempo.
Ao contrário de outros grupos que por aqui passaram (como os Na Lua ou os próprios Gwendal), nos Vai de Roda a electricidade não se intromete nos assuntos do espírito, antes com ele se casa e harmoniza. Os sintetizadores manipulados pela Cristina servem a natureza e a fonte tradicional, arquitectando ventos e trovoadas ou compondo ressonâncias palacianas fundadas em ritmos nascidos das entranhas da terra-mãe digita.
“Rosinha vem-te comigo” foi o tema escolhido para abrir o concerto, embalado no enovelar da sanfona e na doçura das palavras cantadas por Tentúgal, criando desde início, entre o público, um espaço de silêncio maravilhado. Público que no fim se rendeu completamente ao universo onírico dos Vai de Roda, culminado, de forma sublime, na interpretação do tradicional transmontano “La Vitorina”. Depois, impressionaram as vozes de todos os elementos masculinos da banda, juntas nas celebrações do “S. João” e a concepção teatral a que todo o concerto obedeceu, de modo a tornar as canções de “Terreiro das Bruxas”, numa espécie de livro de histórias a que não faltou sequer o toque picaresco do erotismo popular, na narração dos amores proibidos entre um alho-porro e uma donzela inocente… Os Vai de Roda regressaram ao palco para um merecido “encore”, através do instrumental “Realejo sacabruxas”, de mãos dadas com o mafarrico, que deixou no ar um aroma de flores e enxofre.
Os Gwendal, fundamentalmente um duo constituído por Youenn le Berre (flauta electrificada, “tin whistle” e gaita-de-foles”) e Robert Le Gall (violino electrificado e guitarra eléctrica), acompanhados na ocasião por quatro músicos, nos sintetizadores, baixo, guitarra eléctrica, guitarra acústica amplificada e bateria, interpretaram temas do seu mais recente disco “Glen River”, utilizando a receita habitual – técnica irrepreensível de todos os executantes (com destaque para as proezas na flauta de Le Berre), electricidade à solta e uma mistura de estilos que abrange o jazz, a música africana, as danças bretãs e os endiabrados “airs” e jigas irlandeses. Houve espaço para tudo, até para solos de bateria e guitarradas que mais faziam lembrar os Dire Straits. Oscilando entre o bom (nos temas mais tradicionais) e o péssimo (nas “rockalhadas” de bailarico de subúrbio), os Gwendal disfarçaram contudo os pontos fracos com as proezas técnicas dos músicos. Ainda houve quem, ao canto da sala, se atrevesse a dançar, mas a complexidade dos compassos e dos arranjos cedo desmotivou os atrevidos.
Feito o balanço do Festival, fica a certeza de um sucesso organizativo, em termos artísticos e de bilheteira, e a promessa de, para o ano, regressar ainda com mais força, se possível, integrado, a exemplo do “Fantasporto”, na programação oficial da Câmara Municipal. A cidade e a música só teriam a lucrar.
Uma palavra final de louvor para a organização, a cargo da Mundo da Canção, através dos seus mentores, Avelino Tavares e Mário Correia, impecáveis em todos os aspectos, sem esquecer Bernard Despaumadères (gaulês de coração tripeiro), do Instituto Francês do Porto, entidade produtora do Festival, que soube como ninguém fazer a ponte entre a capital nortenha e a Bretanha. O mundo celta está de parabéns.

Gwendal – “Glen River”

Quarta-Feira, Pop-Rock 12.06.1991
Críticas: World / Folk


GWENDAL
Glen River
LP, MC e CD, Mélodie, distri. Mundo da Canção



Os Gwendal são actualmente Youenn Le Berre e Robert Le Gall, bretões de espírito aberto, sem vergonha nem pruridos puristas de qualquer espécie. Para eles a música tradicional, neste caso da Bretanha, é o ponto de partida para viagens sem roteiro fixo nem regresso assegurado. Estiveram recentemente no Porto, no II Festival Intercéltico, e desiludiram quem estava à espera de reencontrar a síntese jazz-folk dos tempos áureos de “À vos désirs”. Agora a música é outra, mais dispersa, electrónica e descomplexada. As flautas, gaita-de-foles, bombarda e violino tradicionais juntam-se ao saxofone, ao baixo e às programações computorizadas, em delírios de síntese que de modo algum seguem à risca os preceitos do “velho” compêndio celta. O “celtic reggae” de “Glas nox”, o africanismo pop de “Uilean mandinga”, o sinfonismo oldfieldiano de “La tarentule” ou a “electronic body folk” de “Celtic bridge” são algumas das direcções que os Gwendal apontam, com maior ou menor convicção. Há faixas dispensáveis, de evidente mau gosto rockeiro, outras integradas no mais puro espírito tradicional (“Jigger Jig”, “Noces de granit”, “Sterem” ou esses “Champs bothorel” cintilantes de cristal). A capa explica o conteúdo: um edifício futurista perdido entre as brumas de uma floresta.
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