Non – “In The Sahdow Of The Sword”

pop rock >> quarta-feira, 03.03.1993
NOVOS LANÇAMENTOS


Non
In The Sahdow Of The Sword
CD Mute, distri. Edisom



Boyd Rice tem cara de poucos amigos e humores ainda com pior aspecto. É um niilista capaz das maiores perversidades, enfim, alguém que não gostaríamos de ter como nosso barbeiro. Além do mais diz sempre que “non”, a fingir-se de grupo, e como símbolo da perpétua negação. Gravou um disco decadente-furioso com Frank Tovey, “easy Listening for the Hard of Hearing”, com algum interesse, mais cinco a solo, de onde se destacam “Music, Martinis & Misanthropy” e “Blood and Flame”. Tem especial consideração pelos tubarões e muito pouca pela música, que encara como uma série de ruídos industriais, estilo limalha de ferro e botas da tropa, sobre os quais lança as suas imprecações. Um perigo.
O menu temático consta do habitual entre os seus colegas de ofício: dias negros que se avizinham, atrocidades, ameaças, degenerescências filosóficas de índole nietzschiana (além do bem e do mal, não é verdade? Deviam ler com mais atenção o livro), uma dose reforçada de paganismo e tempo ainda para a descoberta de uma divindade (de ódio, obviamente) chamada Abraxas. Em termos de som predominam as batidas militaristas, naipes de electrónica dura e a voz de Boyd em tom declamatório a anunciar o descalabro. O som, talvez para ficar de acordo com o resto, é péssimo, ao nível de uma cassete analógica da pior qualidade. Será que o fim dos tempos também chegou ao digital? (3)

Miranda Sex Garden – “Suspiria”

pop rock >> quarta-feira, 03.03.1993
NOVOS LANÇAMENTOS


Miranda Sex Garden
Suspiria
CD Mute, distri. Edisom



“Suspiria” é o título de um clássico filme de terror dos anos 70 assinado pelo italiano Dario Argento, sobre medos adolescentes e respirações entrecortadas, passado num colégio feminino cuja directora era uma bruxa. Curiosamente, o álbum inclui uma canção, “Inferno”, que é outro título de um filme de Argento. Poderia ser um material interessante nas mãos, por exemplo, de Diamanda Galas, também ela pronta a arder na fogueira do final do século, mas as cinco meninas Miranda atiram mais para o diáfano, embora tenham ousado escrever “sex” na designação. “Suspiria” soa deste modo um bocado deslocado no catálogo da editora, encontrando semelhanças mais para as bandas da 4AD, ou seja, vozes góticas, muita atmosfera, montes de produção, uns arrepios pela espinha e, na capa, veludos escarlates, dourados e pesados. As únicas novidades são a inclusão de “In Heaven”, de David Lynch, e o “standard” “My funny Valentine” que fazem suspirar pelas interpretações de Julee Cruise e Nico, respectivamente na banda sonora de “Eraserhead” e em “Camera Obscura”, ambas pintadas em tons de total abandono. O resto é verniz. (Suspiro). (3)

Brion Gysin – “Self-Portrait Jumping”

pop rock >> quarta-feira, 03.03.1993
NOVOS LANÇAMENTOS


Brion Gysin
Self-Portrait Jumping
CD Made To Measure, import. Megamúsica



Bryon Gysin, teórico, pintor e poeta, falecido recentemente, é um nome bastante apreciado em certos meios vanguardistas, que nele vêem um percursor de algumas técnicas e conceitos actualmente em voga, como o ‘cut up’ e o estudo das relações emissor-receptor ao nível dos efeitos da obra de arte sobre os órgãos de percepção. Uma das suas descobertas mais populares foi a “dream machine”, um cilindro de luz estroboscópica cuja frequência rotativa específica parece ser capaz de provocar, num sujeito de olhos fechados, a “visão” de padrões alucinatórios. Genesis P. Orridge, dos Psychic TV, e os Hafler Trio já dedicaram um disco inteiro ao assunto. Agora chegou a vez de Ramuntcho Matta repescar os conceitos de Gysin segundo uma óptica substancialmente diferente. Não se pode dizer que o resultado seja brilhante, apesar da presença de convidados como Don Cherry, Steve Lacy, Elli Medeiros e Lizzt Mercier Descloux.
Matta (autor de um espantoso “Domino One”, gravado nesta mesma editora) pegou em textos e registos antigos efectuados em conjunto com o autor e deu-lhes música. Mas quando seria de esperar que à estranheza do objecto em causa correspondessem sons no mínimo originais, acontece, pelo contrário, a falta de ousadia formal e uma repescagem de ideias alheias. Assim, as vocalizações, a cargo do próprio Bryon Gysin, ora remetem de imediato para os Talking Heads, em cadência calipso (“Kick”, “Junk”) ou da fase “Remain in Light” (“Sham pain”), ora mimam com bastante aproximação as chiadeiras de David Thomas, dos Pere Ubu (“Baboon”). Mas o pior são os 30 e tal minutos de “Dreamachine” durante os quais Bryon Gysin despeja a teoria completa a um ritmo igual do princípio ao fim. Uma oportunidade desperdiçada e um dos discos mais decepcionantes de uma série, nos últimos tempos, com tendência para tropeçar. (4)