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Milladoiro – “As Fadas de Estraño Nome”

Pop Rock

26 de Junho de 1996
world

“…De encantos non sabidos”

MILLADOIRO
As Fadas de Estraño Nome (9)
2xCD Discmedi, distri. MC – Mundo da Canção


milla

Os Milladoiro dão voz a uma Galiza profunda que os olhos profanos não vêem. Há quem fale de “folclore imaginário” e, de facto, a música deste agrupamento cedo de afastou de quaisquer purismos ou tentativas de fidelidade canina a estruturas tradicionais rígidas. Desde sempre a sua “Galicia de Maeloc” se confundiu com o onirismo de uma “Galicia no País das Maravillas”, para utilizar dois títulos de trabalhos seus. Viagem iniciática de peregrinação ao âmago de uma região eu procura recuperar a sua unidade espiritual, o percurso musical, filosófico e, porque não dizê-lo, religioso dos Milladoiro tem-se pautado, na prática, por um intenso trabalho de depuração e estudo dos modos e formas de funcionamento simbólico da cultura e música galegas. Iniciação e peregrinação assumidas em pleno de forma sistemática a partir, sobretudo, do manifesto “Galicia no Tempo”, de 1991, até “Iacobus Magnus” (ambos com distribuição portuguesa), de 1994, passando decerto pelas bandas sonoras “Os Camiños de Santiago” (para uma co-produção da TVE com a TVG galega), “A Vía Láctea” (para teatro), “A Xeometría da Alma” (para uma exposição antológica de Maruja Mallo, no âmbito da inauguração do Centro galego de Arte Contemporânea) e “Gallaecia Fulget”, para a exposição do V centenário da Universidade de Santiago.
“As Fadas de Estraño Nome” – registo ao vivo de concertos realizados em Buenos Aires, no Teatro Nacional Cervantes, em Abril do ano passado e em Ortigueira, no Teatro da Beneficiencia, em Novembro do mesmo ano -, juntamente com um tema gravado em estúdio (precisamente e título-tema de “Gallaecia Fulget”), mergulham-nos num universo de mitos e magia, conduzidos pela combinação única de instrumentos que fazem dos Milladoiro, um septeto, uma verdadeira orquestra de magos celtas: “gaita”, oboé”, bouzouki, bandolim, “uillean pipes”, pandeireta, castanholas, “bodhran”, “darbouka”, teclados, acordeão, guitarra, flautas, harpa céltica, berimbau, ocarina, violino, clarinete e “tin whistle”.
Tecnicamente sem uma única falha, o sortilégio destas fadas cumpre-se num tempo que não se esgota na audição do disco. “Muiñeiras”, foliadas, xotas e ailalás ganham ressonâncias do outro mundo, um mundo que existe escondido à espera do sinal dos novos tempos. Um mundo que, nas palavras de Rosalía de Castro, “hai nas ribeiras verdes, hai nas risoñas praias e nos penedos ásperos do noso inmenso mar, fadas de estraño nome, de encantos non sabidos que só con nós comparten seu prácido folgar”.



Milladoiro – “Iacobus Magnus (Suite Orquestral)”

Pop Rock

19 de Outubro de 1994
WORLD

ENTRE O GRANITO E AS ESTRELAS

MILLADOIRO
Iacobus Magnus (Suite Orquestral)

Discmedi, distri. Megamúsica

milladoiro

Como escreve Xoan Manuel Estévez no título da sua nota sobre o grupo, os Milladoiro são “algo mais que um grupo folk”. Depois do anterior “Galicia no Tempo”, os Milladoiro tiraram mais um dos véus que ocultam a Galiza profunda, de Rosalia, Casto Sampedro, Conqueiro e Ricardo Portela. Neles, o termo “classicismo” adquire o mesmo significado que tem para os Chieftains, na Irlanda, ou para Alan Stivell, na Bretanha, nos anos 70. Existe uma identificação absoluta entre estes músicos e as terras onde nasceram. No caso dos Milladoiro pode falar-se numa verdadeira peregrinação ao santuário que une passado, presente e futuro. “Iacobus Magnus” – suite orquestral gravada nos míticos estúdios “Abbey Road” com a English Chamber Orchestra e, numa das faixas, a Orquestra Sinfónica de Galicia – como “O Berro Seco”, “Galicia de Maeloc” ou “Galicia no Tempo” é uma viagem pelo interior das lendas e mistérios celtas e em particular pelo interior do especial receptáculo de vibrações mágicas que tem a forma da Galiza. “Iacobus Magnus” – inspirado num pentagrama mágico, labirinto de silêncio cujas linhas os Milladoiro preenchem com o sangue e as vozes da Galiza essencial, oculta – baliza um percurso que é exterior e interior, de granito, água, fogo e intuição. Um percurso ao qual os Milladoiro conseguiram arrancar o segredo dos sons. Entre um “Portico” orquestral e “No cabo da viaxe”, um caminho sinalizado pelos “milladoiro”, montes de pedra dispostos de maneira a indicar a direcção certa a seguir, até à conclusão da “obra”. Um “longo camiño branco”, tema belo de estarrecer, onde a sanfona, primeiro, uma harpa, depois, e as “uillean pipes” levam por terra e pelo ar um desejo de eternidade, algo que nos chama e pelo qual muitos de nós suspiramos, aprisionados numa ilusão de cimento e noutra, mais difícil de romper, fabricada pelo cérebro. “Onde vai aquele romeiro?”, pergunta uma flauta embalada por um órgão com voz de realejo. “Per loca maritima”, respondem a harpa, as cordas, as percussões e um “tin whistle”, num arranjo que lembra a fase boa de Mike Oldfield ou o “folk rock medieval” dos ingleses Gryphon. “No primeiro milladoiro”, as “gaitas” rompem finalmente a cantar, secundadas pela delicadeza da harpa (Rodrigo Romani, o harpista do grupo, assume grande parte do protagonismo neste disco) sobre um fundo orquestral. Segue-se novo capítulo, “A noite estrelecida”, no qual a orquestra acende as estrelas que iluminam o céu e guiam os peregrinos, culminando em “No cabo da viaxe”, etapa derradeira, primeiro numa transformação subtil de uma dança irlandesa, com sabor aos Planxty, por último numa explosão de fulgor, na despedida das “gaitas”, símbolo vivo da terra galega, pátria de Maeloc. Pátria dos Milladoiro. Uma viagem sem fim. (8)



Milladoiro – “O Berro Seco” + “Galicia De Maeloc”; + The Chieftains – “Celebration”

Pop Rock

13 NOVEMBRO 1991
REEDIÇÕES

MILLADOIRO
O Berro Seco (10)
Galicia de Maeloc (10)

CD, Dial, import. Mundo da Canção

berroseco

galiciamaeloc

THE CHIEFTAINS
Celebration
(10)
CD, RCA, distri. BMG

chieftainsCel

Galiza e Irlanda, fontes inesgotáveis de tradição e de músicas que sobem pelo tempo. Os Milladoiro (termo que designa pequenos amontoados de pedras dispostos ao longo dos caminhos, em dia de romaria, a dar sorte aos caminhantes), núcleo de executantes oriundos da região de Pontevedra e de áreas tão diferentes como a música medieval, o jazz ou as músicas de fusão, dedicam-se ao estudo e à interpretação do folclore galego, “fundindo ritmos e dinâmicas instrumentais e vocais, num processo nunca terminado pois a tradição continua viva e em evolução”. “Foliadas” e “muiñeiras” alternam com danças e canções da Irlanda e da Escócia, centrando a unidade galega na unidade maior do mundo celta.
“O Berro Seco” (gritado em uníssono pelos homens da aldeia, por ordem de Saturnino Cuiñas, lenda viva da Galiza, à saída da missa na capela de San Ciz, paróquia de Cesullas) e “Galicia de Maeloc” ) no séc. V, os celtas bretões arribaram à Galiza, trazendo consigo os seus mitos e costumes, sob o comandado do bispo Maeloc) mostram os Milladoiro na sua melhor forma, correspondente à primeira fase, ancorados às ressonâncias mágicas das gaitas e das sanfonas e a uma sonoridade “medieval” que, anos mais tarde, viria a perder muita da sua força na estilização e nas orquestrações sofisticadas de “Castellum Honesti”.
Dos Chieftains – embaixadores reconhecidos da música tradicional irlandesa –, basta referir que nunca gravaram maus discos (com excepção, talvez, das músicas compostas para documentários televisivos…). “Celebration” constitui, ao lado dos volumes 5, 7 e 10 da série “The Chieftains” e da inspirada homenagem à música bretã, “Celtic Wedding”, um dos melhores trabalhos de sempre da banda mítica formada por Paddy Moloney (gaita-de-foles), Derek Bell (harpa), Seán Keane (violino), o eterno vagabundo Matt Molloy (flauta, que tocou com os Bothy Band, Planxty e De Dannan…) e os mais recentes Martin Fay (violino) e Kevin Conneff (percussão).
“Celebration”, como o nome indica, é uma festa de jigas e “airs”, a que não falta sequer uma “drinking song” e a presença de ilustres convidados: Nancy Griffith – que, em “The Wexford Carol”, troca a country “yankee” pela pureza de um hino de Natal –, Van Morrison (o irlandês de alma negra) e a sua banda, à desgarrada com os Chieftains em “Boffyflow and Spike” e os Milladoiro, precisamente, na celebração final dos 1000 anos da cidade de Dublin – “Millenium celtic suite”, composta por Paddy Moloney, na qual colaboram ainda músicos da Bretanha e tocadores de gaitas-de-foles escocesa e da Northumbria. Só temos que erguer o copo e brindar.

celebration

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