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Michelle Shocked – “Arkansas Traveler”

Pop Rock >> Quarta-Feira, 06.05.1992


Michelle Shocked
Arkansas Traveler
LP / CD, Polygram, distri. Polygram



Como o título do álbum dá a entender, trata-se de um álbum de viagens. Pelo Texas, pelas recordações e pela memória de alguns heróis. Para Michelle Shocked, “Arkansas Traveler” representa a assunção das origens, aqui sagradas na música “country”, no “ragtime”, nos “blues” rurais e na homenagem a nomes como Doc Watson, Taj Mahal, The Hothouse Flowers, Norman and Nancy Blake, Levon Helm e Garth Wilson. “Arkansas Traveler” é, em simultâneo, a conclusão de uma trilogia iniciada com “Short Sharp Shocked” e prosseguida com “Captain Swing”. Predominantemente acústico, o álbum peca por não arriscar um milímetro, refugiando-se nas regras aceites da “country” ou dos géneros atrás apontados, com ocasionais escapadelas até à música irlandesa (um dos locais de gravação foi Dublin, os outros foram Chicago, Memphis, Sidney e LA), presente na euforia de um tin whistle, em “Over the waterfall” ou na introdução de “Weaving way”. O resto, que são as restantes 13 canções, decorre ao ritmo morno das baladas, das acelerações momentâneas do violino, de uma ou outra aproximação – decerto involuntária e devida à particular utilização do bandolim – aos Fairport Convention, e das constantes piscadelas ao Sul e às suas mitologias. (6)

Donovan – “Sutras” + Michelle Shocked – “Kind Hearted Woman”

Pop Rock

6 de Novembro de 1996
poprock

Donovan
Sutras (7)
AMERICAN, DISTRI. BMG

Michelle Shocked
Kind Hearted Woman (7)
PRIVATE MUSIC, DISTRI. BMG


dono

ms

Woody Guthrie, nos anos 40 e 50, Bob Dylan, a partir da década seguinte, traçaram o perfil do trovador dos tempos modernos. O escocês foi discípulo directo de Dylan. A texana que descobriu a sua vocação de cantora em torno da fogueira de um acampamento sofreu a influência de Guthrie. Ambos ressurgem na cena musical após um interregno de alguns anos. Quatro, no caso de Michelle Shocked; 13, no caso de Donovan. Ambos trazem uma mensagem no bornal. Mas se a da texana vem entrançada nas palavras, em baladas despojadas que foram beber sangue aos “blues” e lágrimas às zonas mais devastadas da “country”, a de Donovan Leitch é indissociável da auréola vibratória da voz e do misticismo. Shocked, uma “Kind Hearted Woman”, tem os pés assentes na vida e nas emoções terrenas, arriscando e ferindo-se no modo como a elas se expõe, até no modo como a voz ousa avançar até onde nunca ousara antes, como se pode ouvir logo no tema de abertura, “Stillborn”. Para Donovan, tratou-se, pelo contrário, de “limpar” a sua música da ganga que a maculara a partir de “Cosmic Wheels”, sendo, neste caso, espantoso, o facto de, aos 50 anos, a sua voz ter conseguido recuperar e mesma limpidez cristalina e a temática “hippie” dos seus tempos áureos, de álbuns como “A Gift from a Flower to a Garden” ou a “tripante” incursão mágica nos domínios de “Alice no País das Maravilhas” do duplo “HMS Donovan”. Em “Sutras”, iluminam-se de novo as fábulas cantadas com a guitarra acústica à luz da lua. Em “Kind Hearted Woman”, contam-se episódios da carne, na queimadura do fogo. Michelle Shocked fala-nos ao estômago. Donovan sussurra-nos das estrelas. Duas vias de um mesmo caminho para chegar vivo ao fim do século.


Oct '96 Kind Hearted Woman (studio version) released on Private Music label – "Silver Spoon" from Michelle Shocked on Vimeo.