14.01.2000
Ani Di Franco
To The Teeth (8/10)
Cookin Vynil, distri. Megamúsica
Não é uma interlocutora da alma humana como Suzanne Vega, nem uma esteta como Joni Mitchell, mas uma mulher de trabalho e uma compositora prolífera de cuja pena resultam invariavelmente álbuns sólidos e marcados por uma personalidade forte. Falamos de Ani di Franco que em “To the Teeth” assina mais um disco onde as palavras, sempre acutilantes, valem tanto como a sua conhecida veia experimentalista, o que a leva a juntar um “background” folk/country (formado em volta das mesmas fogueiras onde se aqueceram Suzanne Vega e Michelle Shocked) a linguagens mais actuais, com a electrónica a mandar sem vergonha e, numa faixa como “Carry you around”, o hip hop a dirigir os passos de dança. Depois, o swing vocal de Di Franco é por vezes incómodo, quase desequilibrado, devedor de Joni Mitchell, em “Wish I may”, mas mais frenético. É uma desassossegada por excelência, atenta ao balanço do jazz, que agarra de forma irresistível em “Going once”, “Back back back” e “Swing” (sempre com a ajuda inestimável do saxofonista Maceo Parker), tribal em “Freakshow”, irmã de Matilde Santing em “Hello Birmingham”, electrónica e “country” em “The arrivals gate”, intimista em “Providence”, para finalmente afogar as mágoas num copo sem fundo em “I know this bar”, cuja ternura dorida, presente nas entoações vocais, evoca do outro lado do espelho a pose mais “arty” de Suzanne Veja. Ani é gosto acre, um olhar de frente, uma dentada no coração.