pop rock >> quarta-feira >> 09.11.1994
portugueses
Telectu
Biombos
China Record co., distri. Instituto Português do Oriente

Jorge Lima Barreto e Vítor Rua prosseguem a sua viagem pelos mares da marginalidade, leia-se marginalidade dentro do estreito meio musical português, onde sempre que alguém procura arranjar um bocadinho mais de espaço há outro alguém ao lado que se sente empurrado e outro alguém ainda acaba por ser atirado para fora. Os Telectu lá vão produzindo, nas margens do sistema. Umas vezes teria sido preferível nem sequer levantar a âncora. Noutras, pelo contrário, a aventura valeu bem a pena, como no excelente “Evil Metal” ou no disco ao vivo gravado na mítica Knitting Factory. O problema é que os Telectu parecem ter uma sofreguidão que os leva a editar com uma frequência maior do que seria desejável e se calhar, para eles, mais favorável.
“Biombos”, gravado na China, apresenta propostas que vão do ambientalismo falsamente naturalista ao jazz de plástico que poderia ser ouvido na metrópole de “Blade Runner”. O tema que abre o CD é uma “suite” de 20 minutos onde Lima Barreto e Rua operam a metamorfose de sons ambiente – desde ruídos de rua até rituais religiosos – recolhidos no próprio local, num híbrido que recoloca sob novos parâmetros a teoria musical desenvolvida por Brian Eno em “Discreet Music”, neste caso acrescentada de um factor “humano” e um lado cinemático de todo alheios ao criador da “música discreta”. Músicos como Steve Moore, Philip Perkins ou Bruno Heuzé (já para não referir Cage, pai de todos os ambientalismos) movem-se nesta mesma área mas não é por isso que “Beijing suite” perde o seu interesse.
As restantes peças, duas valsas e cinco variações sobre um ritmo de “foxtrot”, perdem em unidade o que ganham na obliquidade de um humor que as leva a incorporar citações de “Twin Peaks” e John Coltrane. Algo perras de movimento e demasiado dependentes de automatismos – das máquinas e dos músicos -, têm contudo a dose de diferença suficiente para passarem por um oásis no meio do deserto de ideias onde ressaca Portugal das chamadas músicas não eruditas. Nem vale a pena lembrar que em terra de cegos… (6)






