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Andrew Cronshaw – “The Language Of Snakes”

pop rock >> quarta-feira, 15.12.1993
WORLD


Andrew Cronshaw
The Language Of Snakes
Topic, distri. MC – Mundo da Canção



Se os dois discos anteriores de Cronshaw, “Till the Beast’s Returning” e “The Great Dark Water”, eram espelhos em que reflectiam o lado ascético e ambiental da folk (suspiro) celta, este novo trabalho, aguardado com grande expectativa, é antes de mais um exercício de estilo que se espreguiça nas divagações da cítara, do “kantele” (saltério escandinavo), do “gu-cheng” (outra variante de saltério) e outros instrumentos com som de cristal. Como de costume Cronshaw pesca em águas alheias, neste caso a Galiza e a Escandinávia, mas a extrema diversidade de ambientes e instrumentos queda-se por uma beleza superficial que, nos piores momentos (por exemplo, aqueles em que Cronshaw toca “tin whistle”, instrumento que manifestamente não domina), não deixa de lembrar os recentes dislates de Alan Stivell. Entre os convidados (B. J. Cole, Ric Sanders…), destaca-se uma das vocalistas dos Hedningarna, Sanna Kurki – Suonio, a quem o multinstrumentista inglês parece ter obrigado a ingerir um frasco de “valiums” antes de cantar. (6)

Vários (Manuel Luna + Perlinpinpin Folc + Carlos Predes + Emilio Cao + Andrew Cronshaw) – “Começam hoje em Évora, Famalicão e Oeiras os Encontros Musicais da Tradição Europeia – À procura das raízes culturais da Europa” (artigo de opinião | crítica / antecipação de concertos / festivais)

PÚBLICO QUINTA-FEIRA, 5 JULHO 1990 >> Cultura

Começam hoje em Évora, Famalicão e Oeiras os Encontros Musicais da Tradição Europeia

À procura das raízes culturais da Europa

À procura das raízes culturais. A partir de hoje e até dia 13, terão lugar em Évora, Famalicão e Oeiras, os primeiros Encontros Musicais da Tradição Europeia, organizados pela Cooperativa Cultural Etnia, sediada em Caminha. Da Galiza, Grã-Bretanha, Occitânia e Piemonte virão cultores de antigos sons. Paredes representará o espírito português: a fatalidade e a distância.



A iniciativa, que conta com o apoio das três câmaras municipais, tem como objetivo “incrementar o intercâmbio cultural no espaço europeu, com base na promoção e divulgação da música e cultura das suas grandes regiões, e fomentar o contacto entre grupos ou solistas ligados à música tradicional dessas mesmas regiões”. Pretende-se que a série de concertos passe a ter uma realização regular, sempre numa perspetiva de descentralização, procurando deste modo tornar o nosso país num ponto privilegiado de encontro entre as diversas culturas musicais europeias.
Atuarão ao vivo, entre nós, alguns dos nomes mais importantes de cena “folk” atual, como Andrew Cronshaw, Emilio Cao, Manuel Luna, Perlinpinpin Folc, La Ciapa Rusa, para além do guitarrista português Carlos Paredes.
Andrew Cronshaw é um músico britânico, responsável por uma original e sedutora fusão das sonoridades tradicionais com o jazz e a música clássica. Como se poderá comprovar pela audição do excelente “Till the Beast’s Returning”, álbum já há algum tempo disponível no mercado nacional. Outras obras importantes são os discos “A is for Andrew, Z is for Zither”, “Earthed in Cloud Valley” (com o guitarrista Martin Simpson), “Wade in the Flood” e o recente “The Great Dark Water”. Intérprete brilhante na cítara elétrica, estende os seus talentos por outros instrumentos – flautas chinesas, concertina, sintetizadores, percussão e o shawm, antepassado medieval do oboé.
Emilio Cao é galego e já atuou várias vezes em Portugal, tendo colaborado com Fausto em “O Despertar dos Alquimistas” e com o grupo teatral “Os Comediantes”. Exímio executante de harpa, gravou entre outros o marco na evolução da música galega, “Fonte de Araño”. “No Manto da Auga”, “Amiga Alba e Delgada” e “Lenda da Pedra do Destiño” completam a sua atual discografia.
Também espanhol (se considerarmos que a Galiza é Espanha, o que é duvidoso”…) é Manuel Luna, antropólogo, apaixonado pela música e cultura da região da Cantábria. Publicou vários ensaios e cerca de 30 discos de recolha etnomusicológica. Gravou com os “La Quadrilla” o álbum “Como Hablam las Sabinas”, já importado pela Etnia. A investigar são também “Em los Jardines del Sueño” e o novo “Os Galos de Londres”.
No Sul de França, entre a Catalunha e a “Côte d’Azur”, fica a Occitânia, região natal dos Perlinpinpin Folc, um dos mais estranhos grupos do movimento folk gaulês. “Musique Traditionnelle de Gascogne”, “Gabriel Valse” e “Al Paїs d’Occitania” são alguns dos seus bons trabalhos. Sobre a sua música escreveu o crítico Pierre Corbefin: “Provoca-nos uma impressão quase opressiva, como se atravessássemos uma paisagem árida, despovoada, apenas habitada por um bater obscuro e pelos rumores da terra”.
Os “La Ciapa Rusa” são italianos de Piemonte, a Noroeste do país. Combinam a excelência instrumental, através da utilização dos sons tradicionais da sanfona, do violino, do pífaro de pastor e da “musa” (gaita-de-foles piemontesa) com um notável trabalho de harmonias vocais.
A representação portuguesa está a cargo de Carlos Paredes. Dele o mínimo que se poderá dizer é que é uma parcela importante da alma lusitana. Escutar a sua guitarra, contemplar o modo com se entrega a ela e à música que escorre pelos seus dedos até ao vibrar das cordas, é sentir o Fado e a distância. Ir ao sabor dos “Verdes Anos” até ao oceano sem fim.
Uma palavra final de louvor para a Etnia que tem vindo a desenvolver um notável trabalho de recuperação e revitalização da cultura tradicional. Desde a realização de espetáculos, exposições e seminários, até à publicação de livros e à importação de pérolas discográficas folk, para já oriundas do país vizinho, como são os álbuns de Rosa Zaragoza, Amancio Prada, Manuel Luna, “La Musgana” e, brevemente, Emilio Cao.

PROGRAMA

ÉVORA – Praça do Giraldo
Quinta, 5 de julho
MANUEL LUNA
PERLINPINPIN FOLC
Sexta, 6 de julho
LA CIAPA RUSA
CARLOS PAREDES
Sábado, 7 de julho
EMILIO CAO
ANDREW CRONSHAW

FAMALICÃO – Jardins da Câmara Municipal
Quinta, 5 de julho
CARLOS PAREDES
ANDREW CRONSHAW
Sexta, 6 de julho
MANUEL LUNA
LA CIAPA RUSA
Sábado, 7 de julho
EMILIO CAO
PERLINPINPIN FOLC

OEIRAS – Auditório do Complexo Social das FA’s
Quinta, 5 de julho
LA CIAPA RUSA
EMILIO CAO
Sexta, 6 de julho
MANUEL LUNA
ANDREW CRONSHAW
Sábado, 7 de julho
CARLOS PAREDES
PERLINPINPIN FOLC

Andrew Cronshaw – “The Language Of Snakes”

pop rock >> quarta-feira, 15.12.1993
WORLD


Andrew Cronshaw
The Language Of Snakes
Topic, distri. MC – Mundo da Canção



Se os dois discos anteriores de Cronshaw, “Till the Beast’s Returning” e “The Great Dark Water”, eram espelhos em que reflectiam o lado ascético e ambiental da folk (suspiro) celta, este novo trabalho, aguardado com grande expectativa, é antes de mais um exercício de estilo que se espreguiça nas divagações da cítara, do “kantele” (saltério escandinavo), do “gu-cheng” (outra variante de saltério) e outros instrumentos com som de cristal. Como de costume Cronshaw pesca em águas alheias, neste caso a Galiza e a Escandinávia, mas a extrema diversidade de ambientes e instrumentos queda-se por uma beleza superficial que, nos piores momentos (por exemplo, aqueles em que Cronshaw toca “tin whistle”, instrumento que manifestamente não domina), não deixa de lembrar os recentes dislates de Alan Stivell. Entre os convidados (B. J. Cole, Ric Sanders…), destaca-se uma das vocalistas dos Hedningarna, Sanna Kurki – Suonio, a quem o multinstrumentista inglês parece ter obrigado a ingerir um frasco de “valiums” antes de cantar. (6)