Arquivo mensal: Maio 2025

Eat Static – “Implant”

pop rock >> quarta-feira >> 03.08.1994


Eat Static
Implant
Ultimate, distri. Polygram



A questão que se coloca em relação à chamada música “techno” já não é se os artistas estão mais ou menos inspirados mas sim se as máquinas estão melhor ou pior programadas. O factor humano tem tendência para desaparecer, dissolvido na trama da tecnologia. Os Eat Static são mais uma agremiação de techno-andróides que se fecharam no estúdio para elaborar as paisagens computorizadas de mundos virtuais. A capa tem gravuras de extraterrestres, um disco voador e, no interior, (de abrir, como se diria nos anos 70, com os rebuscados grafismos que ocupavam áreas imensas de cartão), uma paisagem de ficção científica na melhor tradição dos Hawkwind ou Roger Dean, nos dias em que o traço lhe descambava para o “kitsch”. “Implant” é uma orgia sequencial de pseudo-emoções artificiais destinadas a sincronizar os cérebros dos disco-zombies com a grande central cósmica dos grandes telepatas. Pelo meio, há uma pausa de “ambient”, para ressacara, antes da batida infernal retomar a sua tarefa de entrega das almas ao deus Pã, aqui disfarçado de astronauta. Mais uma vez os Kraftwerk tiveram razão quando cantavam em “Electric Café”: “Music non-stop – techno pop”. Na discoteca gigante do final do século, a música dura 24 horas por dia. Está previsto parar somente no dia em que o rosto dos humanos se abrir num sorriso de metal. (6)

Conjunto António Mafra – “‘O Melhor Dos Melhores, vol. 48’ + ”Não Pára””

pop rock >> quarta-feira >> 03.08.1994


CONJUNTO ANTÓNIO MAFRA

O Melhor Dos Melhores, vol. 48 (5)
Movieplay
“Não Pára” (4)
Pôr do Som, distri. BMG



“Eram para aí sete e picos, oito e coisa, nove e tal…” Quem nunca trauteou tais horas incertas, sabendo ou não quem são os sues autores? O Conjunto António Mafra é uma espécie de lenda. Reis do “kitsch” popular e de um humor, ao contrário do de Quim Barreiros, com pouco ou nenhum picante, o seu reinado dura há 35 anos, sobrevivendo à morte do seu fundador e mentor, António Mafra. O Conjunto António Mafra nasceu no Porto, junto aos Clérigos num pequeno local chamado “Cantinho da Rambóia”, na noite de S. João.
Seis Mafras, uma família que se entregou às noitadas e aos sons populares polvilhados de graça, das chulas, marchas e viras que contavam o “Baile da Dona Ester” e iam beber o “Vinho da Clarinha”. Os dois discos agora editados marcam o regresso dos Mafras, para “abanar o capacete” em plena “era digital dos compact-disc e do software”, como eles dizem.
A estratégia é semelhante ao do também recém-regressado Vítor Gomes: capitalizar no passado e procurar acertar o passo com a onda de revivalismo do “popularucho” que grassa actualmente em Portugal. Os Sitiados, por exemplo, incluem no seu reportório “O carteiro”. “O Melhor dos Melhores” é uma compilação de interpretações originais de êxitos como “Sete e pico”, “Ó Zé olha o balão” ou “Arrebita, arrebita, arrebita”. Ingénuas e com aquele toque de humor atravessado de nostalgia que caracterizava Max, com quem a música dos Mafras tinha e tem parecenças.
“Não Pára” é também uma colectânea (seis temas repetem-se nos dois discos) mas com a particularidade de ser gravada já este ano pela actual formação do grupo. As diferenças não são muitas, mas nota-se uma atitude de maior profissionalismo, presente nomeadamente no cuidado com que são tratadas as harmonias vocais que eram um dos pontos fortes do grupo, a par das vozes de “falsetto” e imitação que entravam de surpresa, a servir de contraponto humorístico, um pouco à maneira dos jograis, técnica que, por exemplo, Sérgio Godinho, noutro contexto, utiliza em algumas das suas canções.
As percussões aparecem por seu lado mais marcadas, o que acentua o carácter folclórico dos temas mas tem o inconveniente de os tornar mais pesados e lhes retira alguma da frescura original. Mas é impossível não sentir alguma simpatia por esta música que procura sacudir a poeira das recordações e surge como um quadro vivo de um tempo que a memória enterrou.

Sierra Maestra – “Maestros Do Ritmo” (concertos)

pop rock >> quarta-feira >> 03.08.1994


Maestros Do Ritmo



O grupo cubano Sierra Maestra actua hoje em Melgaço, na Alameda Inês Negra, às 22h30, e amanhã em Moledo, no Ínsua Clube, às 23h. É o fecho de uma mini-digressão pelo país que teve início no passado dia 29, em Vila Nova de Cerveira, e passou pelo Porto e por Melgaço.
Os Sierra Maestra são um dos agrupamentos cubanos mais prestigiados da actualidade. Originários de Havana, cultivam e actualizam o antigo estilo “son” – em que os instrumentos utilizados são o “três”, guitarra, trompete, bongo, “guiro” e voz – praticado nos anos 20 e 30 em Cuba. O “son” surgiu na região oriental de Cuba, onde se situa a serra que dá o nome `banda.
O estudo, a prática e a modernização do “son” ancestral, praticamente esquecido pelas gerações mais jovens, é de resto a principal preocupação dos nove elementos que compõe a actual formação dos Sierra Maestra. À instrumentação característica do “son” atrás mencionada, o grupo acrescentou mais percussões, congas e maracas, ao mesmo tempo que substituiu a antiga “marimbula” pela guitarra baixo. Além disso, os Sierra Maestra aceleraram os tradicionais ritmos “guaracha” de maneira a proporcionar a dança colectiva, em vez dos tradicionais “slows”, que nos anos 20 eram dançados apenas aos pares. A resposta positiva dos mais novos não se fez esperar e eme pouco tempo os Sierra Maestra tornaram-se grupo-sensação em Cuba e presença assídua em festivais anuais nas universidades, tendo ganho o primeiro prémio em três anos consecutivos: 1976, 77 e 78. Em 1978 a banda representou Cuba no Festival Mundial de la Juventud y los Estudiantes, realizado em Havana. No ano seguinte alcançaram o quarto lugar na competição Carifesta, transmitida pela televisão, dedicada à música e aos artistas das Caraíbas.
A discografia dos Sierra Maestra inclui oito álbuns, desde a estreia em 1981 com “Sierra Maestra Llegó com el Guanajo Relleno”, disco de prata, a “Y Son Asi” e “Las Impuras” (banda sonora da série televisiva cubana do mesmo nome; recentemente, a sua canção “A los rumberos de Belen” foi aproveitada para o filme de Robert Redford, “The Milagro Beanfield War”), entre outros.
Entre os géneros tocados pelos Sierra Maestra – uma festa para os amantes da dança – estão, além do “son” (basicamente com a mesma estrutura da “salsa2), a rumba cubana, o bolero, o chachachá, a guaracha, o mambo e a salsa, nas suas diversas variedades: a “plena”, a “cumbia” ou o “tamborito”.
Os Sierra Maestra são Juan de Marcos González Cárdenas (“Tres”, voz, líder da banda), Jésus Amenany (trompete), Carlos González (bongós), Carlos Pisseaux (guiro), Alberto Valdés (maraccas e voz), Luís Bárgaza (voz), José António Rodríguez (guitarra e voz), Eduardo Himely (baixo e tumbadora) e Alejandro Suárez (clave e voz).