Jig – “Jig Apresentam Disco De Estreia Em Lisboa – Longe Do Coração, Próximo Do Pé” (concerto)

Cultura >> Domingo, 13.12.1992

Jig Apresentam Disco De Estreia Em Lisboa
Longe Do Coração, Próximo Do Pé

VAMOS PÔR de parte os irlandeses. Os Jig são portuenses e tocam música cujo principal objectivo é fazer dançar. Na noite de sexta-feira, no Teatro Municipal de S. Luiz, em Lisboa, num concerto de apresentação do seu álbum de estreia, “Jig”, editado na Numérica, a banda revelação do Festival Intercéltico 1991 conseguiu totalmente os seus intentos. No final, foram muitos os jovens que saltaram para o palco de maneira a darem livre curso ao bicho carpinteiro. Um deles, embrulhado numa bandeira da Irlanda, era dos mais entusiasmados, pulando e bailando como um danado. E eis-nos de regresso à Irlanda e a o busílis da questão. A maior parte do reportório dos Jig é composto por temas tradicionais irlandeses. O problemas, ou visto por outro prisma, a virtude, está em que os músicos do grupo portuense tocam esses tradicionais como nenhum irlandês o faz ou faria, ou seja, à portuguesa. Significa isto que “arredondam” o compasso acrescentando-lhe tempos e marcações que têm, para eles, a vantagem de facilitar as interpretações, e para o público de tornar mais cómoda a bailação.
Pormenorizando: a quase totalidade dos temas aproxima-se, em termos rítmicos, da polka ou, o que é curioso e poderia constituir pista interessante de seguir, da dança “morris” inglesa. Por outro lado, os Jig estão bastante mais próximos, em questões de sensibilidade e “approach” instrumental, da música “country” americana do que das típicas “jigs” (paradoxo) e “reels” irlandesas.
Dito isto, o concerto pode considerar-se um êxito. O público aderiu e os músicos revelaram todos eles progressos técnicos de assinalar. O violinista Arlindo Silva mostra-se cada vez mais à vontade no papel de principal solista – competente e com “feeling” foi a sua prestação no “exame” que é “The Orange Blossom Special”. Alfredo Teixeira e Manuel Apolinário foram eficazes, respectivamente, no bandolim e flautas. Manuel Salselas teve rédea firme nas marcações. Paulo Pires, na bateria, e Serafim Lopes na guitarra, os dois delfins da banda, não destoaram. Quanto a Isabel Leal, a sua voz quase em surdina esteve segura embora a música do grupo ganhasse se ela, por vezes, não tivesse tanta pressa e a preocupação de entrar “dentro” dos outros instrumentos, invariavelmente nos tempos fortes. Cantar certinho pode ser inimigo da expressividade e do dramatismo. Os Jig poderiam e deveriam explorar em profundidade as possibilidades do contraponto.
De resto, foi agradável de ouvir e recordar os tradicionais da Irlanda, da Escócia e um da Galiza, longe dos corações originais mas tocados com garra que chegou para provocar a folia do pé. Puristas é que os Jig não são. Fica-se à espera dos temas originais e da música portuguesa prometidos.

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