Pop Rock >> Quarta-Feira, 30.12.1992
A INVASÃO DOS IMITADORES
O fenómeno teve início na Austrália, mas ameaça espalhar-se pelo resto do mundo. São as “tribute bands”, réplicas tão fiéis quanto possível de nomes célebres do “show-bizz” que mostram bem até que ponto o vazio se instalou na música pop. Há até quem sonhe reeditar o Woodstock e transformá-lo num baile de máscaras.
Compreende-se que o movimento tenha eclodido na Austrália, já que os grandes grupos internacionais raramente se deslocam a este continente, sendo aí que se sente com mais força a necessidade de substitutos. Alguém ouviu falar nos Beatniks, Rolling Clones, The Zep Boys e ABCD? São grupos australianos que mimam respectivamente, como as designações deixam entender, os Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin e AC/DC. Até já existem os Lovecats que, diz-se, são um sucedâneo eficaz dos Cure.
A moda pegou com os Bjorn Again, um simulacro bem disposto dos Abba. Agora é a loucura. Os concertos e as “tournées” sucedem-se a um ritmo alucinante e toda a gente parece estar disposta a alinhar na ilusão. Há mesmo quem diga que se os Abba regressassem não teriam tanta piada como os Bjorn Again. Em tempo de recessão, vale tudo, “as pessoas apenas querem alguns momentos de diversão”, diz Robert Reed, o agente que trouxe aquela banda australiana à Europa. Em Londres, no Subteranea Club, os Bjorn Again esgotaram 13 vezes a lotação. Outra banda australiana, os Autralian Doors (nem vale a pena referir o nome do grupo lendário que imitam…) tocou para assistências de quatro mil pessoas em Glasgow e cinco mil em Dublin.
Recorde-se que, desde que o Rock existe, sempre proliferaram, por exemplo, réplicas de Elvis Presley, numa tentativa patológica de ressurreição dos mortos. Sem esquecer as tenebrosas séries de álbuns designados “Top of the Pops”, nos quais músicos de estúdio se esforçavam por reproduzir, à maneira dos intérpretes originais, os êxitos do momento. Ainda há pouco tempo, os Dread Zeppelin parodiavam pelo nome a célebre banda pioneira do “heavy metal” e, num vídeo, a figura do “rei” Elvis. Mas nunca, como hoje, se tinha assistido a uma histeria de imitação a esta escala. Consta que existem já cerca de 150 “tribute bands” em actividade, o que é bastante significativo de uma situação de total saturação e da falta de poder de impacto das novas bandas originais.
Lance Strauss, aliás, Elton Jack, um simulacro perfeito de Elton John, apresenta actualmente um espectáculo que inclui “clones” de Ray Cooper, Eric Clapton, George Michael e Kiki Dee! Mas há mais, muito mais. Por exemplo, o falso “show” de Meatloaf, do genérico “Fat out of Hell”. A confusão é total: os Rock Lobsters imitam os B-52’s, Randy Hansen toma-se por Jimi Hendrix, os suecos Jailbreak fazem as vezes dos Thin Lizzy, The Royal Family substitui os Queen, The countefeit Stones são, claro, os Rolling Stones e os Bootleg Beatles obviamente, os “fabulous four” de Liverpool.
Há poucos meses, foi o próprio Bono que encorajou a continuidade como grupo dos Doppelganger que serviram de duplos aos U2 durante as filmagens do vídeo “Even better than the real thing” e que se orgulham de tocar da mesma maneira e compor canções iguais às dos irlandeses. Steve Biggles, que na versão australiana dos Doors representa o papel de Jim Morrison, nem sequer se espanta quando os fãs, depois dos espectáculos, vão ter consigo para lhe exigir que leve uma vida idêntica à do cantor de “The end”…
A coisa está a tomar proporções incontroláveis e já ninguém parece distinguir a ficção da realidade. Randy Hansen convidou para um dos seus concertos Noel Redding, membro original da Jimi Hendrix Experience, e Al Hendrix, pai do genial guitarrista negro. Robert Reed sonha com uma reedição de Woodstock que reuniria no programa as réplicas dos Doors, Jimi Hendrix, Rolling Stones, Thin Lizzy e Led Zeppelin. Na Escócia surgiram já os novos Sex Pistols, que afirmam odiar as restantes “tribute bands” do planeta. Já não há respeito!