Arquivo mensal: Outubro 2015

Mick Ronson – “Heaven and Hull”

Pop Rock

18 de Maio de 1994
ÁLBUNS POPROCK

Mick Ronson
Heaven and Hull

Epic, distri. Sony Music


mr

Possuidor de um estilo inconfundível na guitarra, com uma sonoridade cheia e abrasiva, Mick Ronson passou grande parte da sua carreira como “axeman” de David Bowie, nos álbuns “The Man who Sold the World”, “Hunky Dory”, “The Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” e “Alladin Sane”. Antes disso, tocara com Dylan e fizera duo com o vocalista Ian Hunter, após a dissolução dos Mott the Hoople, uma banda de “rhythm ‘n’ blues” progressivo dos anos 70, de que aquele músico fazia parte. Mick Ronson morreu no ano passado, podendo considerar-se “Heaven and Hull” como o seu testemunho póstumo e, ao mesmo tempo, uma homenagem da parte dos músicos, alguns deles famosos, que participam no álbum: Bowie, em “Like a rolling stone”, de Dylan, e “All the Young Dudes”, tema que celebrizou os Mott the Hoople pela mão do “thin white duke” – aqui numa versão ao vivo retirada do concerto de tributo a Freddy Mercury, em que participam, além de Bowie, Ian Hunter, Joe Elliott, dos Def Leppard, e os Queen Chrissie Hynde e John Mellencamp. Energia de alta voltagem num disco de puro “rock ‘n’ roll”. Com uma excepção, “Maria”, um solo de guitarra acústica onde Mick Ronson mostra que, de certeza, deve ter ouvido guitarras portuguesas a tocarem fado. (6)



Christy Doran & Freddy Studer – “Play The Music Of Jimi Hendrix” + Pat Metheny – “Zero Tolerance For Silence” + Steve Tibbetts – “The Fall Of Us All”

Pop Rock

11 de Maio de 1994
ÁLBUNS POPROCK

CHRISTY DORAN & FREDDY STUDER
Play the Music of Jimi Hendrix (7)

Vera Bra, distri. Dargil


cd

PAT METHENY
Zero Tolerance for Silence (5)

Geffen, distri. BMG


pm

STEVE TIBBETTS
The Fall of us all (6)

ECM, distri. Dargil


ST

Nestes três discos, a guitarra é pau para toda a obra. Em termos técnicos, tanto Christy Doran como Pat Metheny e Steve Tibbetts são aquilo a que se costuma chamar “virtuoses”. Mas a esta sua reconhecida capacidade de domínio da guitarra não corresponde, nesta fornada das suas obras mais recentes, música à altura. Mesmo assim, é Christy Doran quem, dos três, acertou mais perto da “mouche”. No seu caso, a música de Jimi Hendrix é pedra de toque para exercícios de desconstrução de temas como “Foxy lady”, “Manic Depression”, “Purple haze” ou “Hey Joe”, nos quais dificilmente se reconhece os temas originais. Doran, com os seus companheiros Freddy Studer, Phil Minton, Django Bates e Amin Ali, em vez de tentarem reproduzir a música do grande guitarrista negro, procuram, antes, apoderar-se do seu estilo, privilegiando a experimentação e a guerrilha sonora. O resultado poderia ser bem melhor se não fosse a contínua excitação de Phil Minton, cuja habitual apoplexia vocal acaba por se tornar irritante e desvalorizar as restantes prestações instrumentais, lançando ruidosa expectoração onomatopaica sobre a parede sonora criada pela guitarra e os teclados de Bates, um ex-colaborador de Bill Bruford. Apesar de tudo, Hendrix não sai desprestigiado da aventura.
Com Steve Tibbetts, o que se passa é que parece ter chegado a um beco sem saída. O seu estilo, caracterizado por uma abordagem “suave” da guitarra, mesclado de influências orientais e ambientais, deu origem a excelentes discos como “Yr” e “Big map idea”. Em “The Fall of us all”, contudo, a suavidade e a complexidade com que trabalhava sobretudo a guitarra acústica foram substituídas por um discurso mais violento, que nunca consegue ser coerente. Imagine-se os Oregon a perderem a cabeça e a ligarem todos os instrumentos à ficha. É um pouco isto que se passa em “The Fall of us all”, onde as tablas de arrastam, os sintetizadores adormecem e os coros femininos parecem ter sido repescados dos Pink Floyd. Posto isto, claro, Tibbetts continua a saber tocar guitarra.
“Zero Tolerance” afigura-se o caso mais estranho. Talvez cansado das críticas e acusações de que tem sido alvo nos seus recentes trabalhos, comercialões até dizer chega, Pat Metheny terá resolvido que era altura de mostrar que continua a ser um músico de “vanguarda”. Não podia ter sido mais radical na forma de o fazer: “Zero Tolerance” é um solo ininterrupto de guitarra eléctrica distorcida, sem qualquer acompanhamento, numa sequência dividida em cinco partes onde não se percebe muito bem o que Metheny quer dizer, além de dar razão ao título. A primeira parte, um quarto de hora de ruído ininterrupto, faz lembrar Glenn Branca numa “bad trip” e terá sido, decerto, o que levou Thurston Moore, dos Sonic Youth, numa nota colada à embalagem, a referir-se a este disco como “um dos mais radicais exercícios musicais de sempre empreendidos na guitarra”. Indicado como banda sonora para uma descida aos infernos.



Yes – “Talk”

Pop Rock

27 ABRIL 1994
ÁLBUNS POP ROCK

Yes
Talk

Victory, distri. Polygram


yes

Sim, os Yes já foram um grupo importante, por volta, deixem cá lembrar-me, de meados da década de 70. Hoje são uma caricatura do que foram, mas parecem não dar por nada. Jon Anderson, o vocalista da voz angelical, prossegue imperturbável a sua caminhada em direcção ao céu. “Higher and higher”, como ele continua a escrever nas letras das canções. Seguem com ele outros dois companheiros dos primeiros tempos, Chris Squire, no baixo, e Tony Kaye, no órgão Hammond (outro anacronismo), de regresso após a interrupção de Rick Wakeman. Os outros são Alan White, baterista também já velhote, e Trevor Rabin, um dos Buggles que se deu bem com o “rock sinfónico” e pelos Yes se ficou, na guitarra e teclados.
Não se pode dizer que “Talk” seja um mau disco. É sobretudo um disco inútil. Dá ideia que os Yes andaram a ouvir toda a anterior discografia, recolheram os elementos típicos de uma música que resultou em obras incontornáveis dos anos 70 (“Close to the Edge”, “Tales from Topographic Oceans”, “Relayer”, por acaso os das famosas capas de Roger Dean), juntaram tudo numa misturadora e despejaram o resultado no disco. Ou seja, “Talk” apresenta o som característico dos Yes, mas comos e fosse o menor múltiplo comum. Uma média matemática destituída da vida que animava aqueles álbuns. Falta-lhe o fôlego das boas canções – mesmo assim “Real love” e “Walls” são capazes de pegar nas estações FM americanas – e, no capítulo instrumental, sente-se a falta de um grande guitarrista chamado Steve Howe.
A faceta mais cósmico-lamechas de Anderson, que lhe foi incutida por Vangelis, aparece em “Where will you be”, e os quinze minutos de “Endless dream” chegam para fazer as delícias dos nostálgicos da música progressiva. Com um novo e colorido logotipo e Anderson a não dar mostras de querer parar nos tempos mais próximos, somos capazes de ter Yes para mais uns 20 anos. Yes? Não! (4)