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Bizarra Locomotiva – “First Crime Then Live”

pop rock >> quarta-feira, 05.04.1995


Bizarra Locomotiva
First Crime Then Live
ED. E DISTRI. SYMBIOSE



Cuidado com eles! Quem se puser á frente, arrisca-se a ser trucidado, porque a Locomotiva não para em nenhuma estação. O novo disco – um trabalho de transição a anteceder um próximo álbum só de originais – tem uma primeira parte, “First Crime”, com cinco temas novos gravados em estúdio e uma segunda onde estão registados outros quatro gravados ao vivo no ano passado no festival Printemps de Bourges. A fórmula é mais subtil no primeiro caso, se é que a brutalidade pode ser subtil. Mas é nos originais que a Bizarra explora novos desenvolvimentos para o “metal electrónico” que os caracteriza e com que surpreenderam no seu disco de estreia. A fórmula é a mesma, assente numa rítmica imparável fabricada pelos “samplers” “industriais” de Armando Teixeira e a batida acústica do baterista António Pito, entretanto substituído por Marco Franco, mas a direcção que o grupo pretende imprimir à sua música parece mais evidente e tematicamente organizada. Sobre esta máquina infernal, a voz de Sidónio Ferreira, feita de gritos, imprecações e entoações guturais – em temas que dissecam até à exaustão a gama completa da dor humana -, funciona como instrumento de tortura adicional de um som que, curiosamente, consegue apelar à dança. A segunda parte se, por um lado, serve para dar uma imagem aproximada do ambiente de loucura que costuma acompanhar as prestações ao vivo da banda (o que não é muito bem conseguido, porque foram praticamente apagados todos os ruídos da assistência), acaba, por outro, por diluir um pouco a concentração de energia conseguida inicialmente. Até porque, nos carris em que se move a Bizarra Locomotiva, a contenção pode ser mais violenta que a força bruta. (6)

Bizarra Locomotiva – “Homem Máquina”

(público >> y >> portugueses >> crítica de discos)
18 Abril 2003


BIZARRA LOCOMOTIVA
Homem Máquina
Metrónomo, distri. Zona Música
7|10



Já que anda toda a gente a escarafunchar nos anos 80, porque não deitar o dente à boa e massacrante música industrial e à “electronic body music” que naquela década procurou revolucionar as rotações cardíacas e o ritmo das discotecas, através de agentes como os Front 242, Skinny Puppy, Controlled Bleeding ou Front Line Assembly? Verdade seja dita que a locomotiva conduzida por Armando Teixeira nunca circulou longe destes apeadeiros e que “Homem Máquina” não faz mais do que atualizar uma direção há muito encetada pelo grupo. Sobre temáticas como a simbiose homem-máquina (divergente do conceito de “man machine” dos Kraftwerk…), da mitificação demoníaca da heroína ou da relação de poder entre o escravo e o amo, “Homem Máquina” é pura maquinaria em ação de combate onde as noções de ludicidade, guerrilha mental e sexo se confundem em batidas do III Reich. Umas vezes assimilando a vertente “agit pop” dos Mão Morta ou, como, em “O meu anjo”, a sugerir que tipo de pop faria Abrunhosa se estivesse “agarrado” ao pó. “Um homem é um homem, uma máquina é uma máquina”, repete Armando Gama, obsessivamente, nas duas partes de “Homem máquina”. Frase que, repetida de forma maquinal, afirma exatamente o contrário do que enuncia. Bizarra? Os êmbolos da locomotiva trituram a carne e a mente na sua travessia pelo túnel.



Bizarra Locomotiva – Artigo de Opinião

POP ROCK

22 de Março de 1995

CAMINHOS DE FERRO


bl

BIZARRA LOCOMOTIVA, UM NOME DIFERENTE PARA UMA BANDA CUJA MÚSICA NÃO DÁ tréguas nem ao ouvido nem ao corpo. Depois da estreia discográfica homónima editada no ano passado e incluída no lote dos “melhores do ano” de 1994 pelo Poprock, o grupo acabou de lançar um segundo compacto, “First Crime then Live”, distribuído pela Symbiose. Cinco originais de estúdio acoplados a quatro prestações ao vivo gravadas em França, no “Printemps de Bourges”. A locomotiva é conduzida por três maquinistas, Armando Teixeira, manipulador de “samplers” (“maquinaria”, como ele diz), Sidónio Ferreira, vocalista, e Marco Franco, baterista que veio substituir António Pinto, ainda presente no disco. “First Crime then Live” é, segundo os seus autores, “uma ponte” entre o primeiro e um próximo trabalho, já gravado e com título escolhido, embora eles prefiram por enquanto não dizer qual. A inclusão de temas ao vivo justifica-se porque “a Bizarra vive mesmo é das prestações ao vivo”, afirmam os três elementos desta banda para quem a força do colectivo é o mais importante. Recentemente deram um concerto na Foz do Arelho que nunca mais esquecerão, com “muita gente a fazer ‘mosh’”, contagiada pela energia, por vezes brutal, que a Bizarra Locomotiva costuma libertar em palco. “Queremos envolver as pessoas pelo ritmo e por uma imagem de força. É um divertimento como estar a ver um filme como ‘Cães Danados’” [estreia do cineasta Quentin Tarantino].
Os textos de “First Crime” são violentos, a palavra “dor” surge na maior parte dos temas. “É um disco temático, como um conto de terror”, dizem. Ou “uma autotortura”. Por outro lado, admitem que “à violência das letras corresponde uma atitude violenta em cima do palco”. Uma forma de libertação de energia mas também “de alguma frustração e do medo crescente no dia-a-dia”. Algumas pessoas próximas do grupo acham-no com uma “atitude sadomasoquista” mas eles recusam tal conotação. Não se consideram de forma alguma “uma entidade negativa, igual a muitas que existem no nosso planeta hoje em dia, inclusive grupos musicais”. “Somos gajos limpos”, garantem, num alusão a certas pessoas “que iam ao Rock Rendez-Vous e não mudaram desde então, mantendo os cabelos grandes, frequentando antros e sempre rodeados de fumo e drogas”.
Ao escutar a música da Bizarra locomotiva, é impossível não pensar em grupos como os Young Gods, Ministry ou Laibach. Em relação aos primeiros, apenas aceitam a existência de uma “atitude idêntica”. Agressivos? Talvez, como forma de luta. “O que é negativo é durante o dia um gajo ligar a rádio e só ouvir coisas que contribuem para o atrofiamento geral, sempre as mesmas músicas da Tina Turner ou do Bryan Adams.” “Energia” volta a ser a palavra-chave. “Energia sexual”, dizem. No som e nas palavras. “Tudo tem a ver com sexo”. De resto, a própria designação do grupo tem conotações sexuais. A locomotiva é um símbolo fálico – bizarra porque “faltam as duas bolinhas” – que simboliza “a pujança, o poder”. Uma locomotiva pesada, difícil de parar, construída com músculo e suor. Uma definição para a sua música? Eles não hesitam: “Somos o metal da música electrónica.”