Arquivo da Categoria: EBM

Nitzer Ebb – “Ebbhead”

Pop-Rock Quarta-Feira, 06.11.1991


NITZER EBB
Ebbhead
LP / CD, Mute, distri. Edisom



Música a músculo. Para os Nitzer Ebb, Douglas McCarthy e Bom Harris, cada disco é uma prova de força. E de poder. “Ebbhead” é tão poderoso e militarista quanto os anteriores “That Total Age”, “Belief” e “Showtime”, tendo sobre estes a vantagem de ser mais subtil. Subtileza que os afasta de vez da síndrome rítmica DAF que sempre os perseguiu (notória ainda em temas como “Time” e “Ascend”), impelindo-os para paragens bem mais variadas. Tão cruelmente dançável como os anteriores (“Family man” arrisca-se mesmo a intoxicar as discotecas), “Ebbhead” aposta, porém, numa maior complexidade dos arranjos e num registo vocal que, desta vez, se situa perto das contorções épicas de Jim Thirlwell (Foetus). Os computadores e as máquinas de ritmo tornaram-se mais delicadas. O discurso do poder permanece, saturado do veneno, martelado pela repetição de palavras de ordem e a exposição de uma ou outra atrocidade. Os Nitzer Ebb prosseguem a guerrilha. Exterminadores agora menos implacáveis. (7)

Philadelphia Five – “Trilogy”

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 12 DEZEMBRO 1990 >> Pop Rock >> LP’s


ROBOPOP

PHILADELPHIA FIVE
Trilogy
LP e CD, KK



A história é a seguinte: há dois anos a KK Records editava o single de 12 polegadas, “Bump! Jerry”, previsto para ser o primeiro de uma série de três discos representativos dos cinco anos que a banda levava já de carreira. Para surpresa de todos, o tema tornou-se um êxito, subindo mesmo ao Top 5 das listas de dança, nos Estados Unidos. Seis meses depois, saía o segundo, um mini-Lp contendo meia dúzia de temas, intitulado “Heaven”. O terceiro e último, por motivos desconhecidos, nunca chegaria a ser editado. “Trilogy” seria, enfim, a peça que faltava, em alternativa ao projeto original.
Dela fazem parte remisturas de temas dos anteriores discos, bem como outros considerados pela banda como “uma espécie de anexo à série inicial”. Desde as batidas iniciais de “Primal Screen” até à mensagem derradeira de “Brain” que as pulsações cardíacas e os circuitos cerebrais desatam a funcionar em registos e a velocidades difíceis de sustentar. Se os Kraftwerk soubessem o que iriam provocar quando se resolveram a fazer música para “robots”… Os Philadelphia Five levam os sequenciadores e os computadores até aos limites da mecanização absoluta.
A matemática ao serviço do ritmo. A dança como estado de hipnose. A emoção, o resultado da acumulação e da repetição. Implacável. O amor é sexo. O prazer, dor. A comunicação humana tornada possível apenas no círculo infernal da relação senhor/escravo. Engrenagens postas a funcionar pelos comutadores Throbbing Gristle e Cabaret Voltaire (da fase inicial), acionados por Giorgio Moroder. A “electronic body music” levada ao extremo da monotonia assumida e da violência como estímulo orgástico que sintoniza os corpos na frequência da dança cibernética. Em “I am Shared”, Eros aloja-se no córtex, onanista na solidão a dois, latejante nos múltiplos orgasmos do Inferno: “Vamos ter um orgasmo que até você pode compreender” (“Heaven”). Os maquinismos trituradores apenas cessam quando nascem as palavras – absurdas e trágicas na sua lógica desumana: “Espera um momento, já alguma vez viste o teu cérebro?/ Bem… eu…/ Tu, ou outra pessoa qualquer?/ (…)/ Então o que te leva a pensar que tens um?”. Antes da eletricidade, a dança do diabo era a valsa… ***

Dominion – “Lost”

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 12 DEZEMBRO 1990 >> Pop Rock >> LP’s


DOMINION
Lost
LP e CD, KK



Estafadas as fórmulas, a “electronic body music” agoniza, incapaz de se libertar dos seus fantasmas. Mil bandas do género parecem uma só. A normalização assinou a sentença de morte de um género que hoje tem como fiéis apenas os sadomasoquistas convictos, os adeptos da dança sonambúlica ou simplesmente os surdos. Os Dominion (formados por Andrew Szava-Kovats, membro fundador dos Data Bank A) incluem-se na ala mais experimental do movimento, ao lado dos Klinik, Vomito Negro e Delerium (há mais algumas centenas de nomes, mas talvez não valha a pena referi-los a todos…), e o seu álbum de estreia, “Manhunt”, conseguia minimamente perturbar (o principal objetivo de todos estes grupos), através de monstruosas cadências repetitivas que os situavam em lugar privilegiado na seita dos “papões”. Em “Lost” alternam peças “experimentais” (ruído + “samples” + ruído) com temas mais “dançáveis” (computadores de ritmo + vozes graves e ameaçadoras, neste caso curiosamente semelhantes à de Frank Tovey/Fad Gadget). Desta vez, nem sequer pequenos sustos. O terror encontra-se hoje noutros comboios-fantasma. **