Sétima Legião – “O Fogo”

POP ROCK

27 DEZEMBRO 1992
DISCOS PORTUGUESES DE 1992
DESILUSÃO

SÉTIMA LEGIÃO
O Fogo

Edição EMI-VC

SL

Faz pena ver uma boa ideia reduzida a cinzas. Os Sétima Legião trouxeram para a música portuguesa, na altura em que editaram o primeiro álbum, “A Um Deus Desconhecido”, um conceito. Da mesma forma que os Heróis do Mar o fizeram e o fazem hoje grupos como Madredeus e Resistência. Conceito que tanto pode ser assumido de dentro, como uma intenção prévia, ou formar-se “a posteriori”, à semelhança das peças de um “puzzle” que encaixam de forma espontânea. Os Sétima incluem-se neste último caso. Melhor dizendo, incluíram-se.
Considerados de início um cruzamento inovador do eixo urbano-depressivo de Manchester, representado pelos Joy Division/New Order, com um Portugal de reminiscências celtas (não tivessem arranjado uma gaita-de-foles!), a banda encravou ao quarto disco no ponto morto. “O Fogo” não anda nem desanda. Quer ser “etno” mas não tem coragem do o admitir. Não é triste nem alegre, nem quente nem frio. É morno. Sem extremos nem dinâmica. É esse o mal maior, a ausência de força interior que a produção sofisticada não disfarça.
São retomadas as temáticas de outrora, os épicos, os assombros e a melancolia que então fazia sentido. Hoje, da forma que são ditas em “O Fogo”, deixam de fazer. São cascas vazias, invólucros sem conteúdo. Fogueira apagada. Muito pouco para quem muito prometeu. As ideias onde estão? As canções que ardem? A “glória de lutar”. “O Fogo” é um disco preguiçoso. Cinzas ao mar.

a partir daqui



Kinteto de António Ferro – “Crepúsculo do Vinho”

POP ROCK

27 DEZEMBRO 1992
DISCOS PORTUGUESES DE 1992
FUSÃO

KINTETO DE ANTÓNIO FERRO
Crepúsculo do Vinho

Edição Numérica

kaf

Enquanto o vinho proíbe qualquer espécie de fusão, a música do quinteto, perdão, do Kinteto de António Ferro não se importa nada de fazer misturadas, desde que o “cocktail” seja agradável ao paladar. É o caso deste – presume-se pelos tons da capa – tinto crepuscular com que a banda portuense se propõe empielar os seus companheiros fusionistas, sempre sérios e afectados na tentativa de se parecerem o mais possível com as Mahavishnus Orchestras e Weather Reports que o tempo deixou irremediavelmente para trás.
Os KAF, para além do tinto, estão-se nas tintas para a seriedade e apenas têm como objectivo fazer boa música, sem preocupações de parentesco ou exibicionismo barato. Do que é que se haviam de lembrar? De ir buscar fadunchos, tradicionais, vulgares e aquelas melodias popularuchas tipo “Cochicho” só pelo prazer de as transformar em peças dignas da maior credibilidade. Tudo à custa de arranjos irrepreensíveis, em que os metais desempenham o principal papel (João Courinha, sax, Claus Nymark, trombone, Eduardo Santos, trompete) na feitura deste “jazz bufo”, que por mais de uma vez recorda as fanfarras de Carla Bley.
António Ferro no baixo e João Paulo na bateria (com ocasionais contribuições percussivas de João Nuno Represas) mantêm a banda a andar razoavelmente a direito. Quando não o conseguem, vai toda a gente na gargalhada. A música acaba por sair enriquecida e as surpresas justificam as trocas de passo de certas composições onde se parece caminhar num sentido e afinal se vai parar a outro. Um vinho do Douro da melhor colheita.

António Manuel Ribeiro – “Pálidos Olhos Azuis – P. O. A.”

POP ROCK

27 DEZEMBRO 1992
DISCOS PORTUGUESES DE 1992
O PIOR

ANTÓNIO MANUEL RIBEIRO
Pálidos Olhos Azuis – P. O. A.

Edição BMG / Ariola

amr

Havia outros candidatos: uns Moby Dick balofos armados em superbanda, um José Cid no auge da fúria dos Descobrimentos, um Fernando Girão que agora é índio, ecológico e decerto veste túnica branca enquanto aguarda os OVNIS redentores. Comparados com este “P. O. A.”, “Camões, as Descobertas e… Nós” e “Índio” são sem dúvida piores. Mas então teríamos de descer ainda mais e cair no andar de Marco Paulo e Roberto Leal e entrar no domínio da execráve.
A escolha do pior acabou por recair no disco de António Manuel Ribeiro em virtude de este ter responsabilidades acrescidas. De certo modo, “P. O. A.” recupera o pior dos UHF correspondente à faceta “rock português” da primeira leva, da ideia musical reduzida à expressão mais simples. Neste sentido a estreia discográfica de A. M. R. (já que estamos em maré de siglas…) pode considerar-se um gigantesco passo à retaguarda, uma investida inconsciente nos abismos do maus gosto, um desfilar de lugares-comuns que procuram fazer as vezes do retrato do “rocker” resistente mas sensível, em luta titânica contra o sistema. Dito isto, uma faixa como “A noite inteira” não destoaria num programa como Feira da Música.
Há uma explicação possível que ainda assim não serve de atenuante: António Manuel Ribeiro, ao corrente do gosto de uma certa margem do seu público, estaria no fundo a dar-lhe uma música e imagem feitas de encomenda. A música das cassetes vendidas ao quilo pelas feiras, Praças de Espanha e Martim Monizes do país. António Manuel Ribeiro, o Marco Paulo do rock português?