11.12.1996
UHF
69 Stereo
Ed. BMG
LINK (Há Rock no Cais – 2005)
Deixou de fazer sentido falar dos UHF como sobreviventes do rock português. Não será fácil encontrar razões que expliquem a longevidade do grupo de Almada. Mais do que o “alter ego” de António Manuel Ribeiro, os UHF cerram fileiras em torno, já não de uma causa , mas de um estado de espírito. “69 stereo” é um álbum de afirmação e de crença. “O Povo Do Mundo”, tema de abertura, enceta uma das melhores colecções de canções de sempre dos UHF. Está ao nível dos clássicos com a gaita de foles de Paulo Marinho a reforçar o tom de optimismo e universalismo do tema – um “hit”. A seguir, “Amor perdi”, uma balada em duo com Né Ladeiras, dá a conhecer uma surpreendente depuração e contenção vocal de António Manuel Ribeiro, apostando no registo do tipo Peter Gabriel mais Kate Bush, em “Don´t Give Up”. O papel de “rocker” do mundo é desempenhado por AMR com razoável convicção, em inglês, numa versão de “The Passenger”, de Iggy Pop. Excelente, o trabalho de baixo de Fernando Delaere e da guitarra acústica de Rui Padinha, em “Sangue”. “O Primeiro Concero” é UHF na sua posição mais clássica, de “Rua do Carmo” e “Cavalos de Corrida”, numa das habituais incursões retrospectivas nos anos dourados da juventude pós-25 de Abril. O tom autobiográfico, com passagem das folhas de um diário, prossegue em “Velhos amigos”. Surpreendente é, passados todos estes anos, AMR continuar com a mesma sinceridade e proximidade em relação à vida dos outros, com os seus pequenos e grandes dramas. Quem se recorda de “Jorge Morreu” sentirá com mais força as palavras de AMR quando canta “Velhos amigos onde estais, oiço os gritos que soltais”. “Foge Comigo Maria” é Lou Reed “lights” e “Na Luiz da Noite” um bom desempenho das guitarras eléctricas em mais um tema “average” UHF é um desabafo de AMR num dos seus santuários preferidos: o quarto, na solidão da noite. Esqueça-se a declamação de “Pálidos olhos azuis”, repescado do álbum a solo do vocalista saído há tempos, e passe-se directamente para a lenta lamentação de “Dão-me prendas”, antes da guitarra eléctrica voltar a lançar labaredas em “Ela (como ninguém)” e no tema final, “Pede ao pai”. Rock’n’roll de barba rija a fazer cara de mau e a piscar o olho aos anos 70, desta estereofonia na posição 69, uma das produções – com assinatura de AMR mais sofisticadas de sempre dos UHF. Um regresso à boa forma de um grupo que não desiste de encarar o rock como um modo de vida. (8)
Este foi um disco que ao longo dos anos aprendi a gostar. Quando saiu não percebi a mensagem do AMR, agora que os anos passaram as letras e guitarras deste disco tem um grande impacto em mim.
Viva UHF.
Também gosto muito do disco. Abraço.