Died Pretty – “Lost”

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 7 MARÇO 1990 >> Videodiscos >> Pop


DIED PRETTY
Lost
Beggars Banquet
LP


Os amantes do Pop/Rock sem grandes pretensões encontrarão nos Died Pretty alguns motivos de regozijo. Soam um pouco a tudo, mas devem nutrir especial afeição pelos Echo & The Bunnymen.
Os Died Pretty são daqueles grupos destinados unicamente a renovarem os stocks do género, encimando por alguns dias a prateleira das “novidades”. São um produto de substituição. O velho com o rótulo de novo. Fazem girar as rodas da Indústria. Passado o seu tempo (inevitavelmente curto), outro qualquer nome aparecerá em seu lugar para desempenhar exatamente as mesmas funções.
Refira-se que os rapazes cumprem razoavelmente bem a tarefa. As guitarras da praxe estão metidas a propósito. O vocalista safa-se a contento, dono de uma voz parecida com mil outras que pululam em bandas afins.
A originalidade dos arranjos limita-se à inclusão, aqui e ali, de um solo de órgão démodé ou de um saxofone maroto. As canções são bonitinhas, seguindo a regra sagrada da alternância entre tema rápido e balada acústica. Permanecem na nossa memória durante um minuto antes de se perderem no vazio.
Estarei a ser demasiado exigente? Se calhar há quem acolha de braços abertos e ouvidos escancarados estes Died Pretty. Só que a boa música já não se compadece com estes produtos doces e engraçadinhos. Entrámos mesmo na nova década? Pela amostra, não parece.

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #108 – “Chuck E_ Weiss melhor que Tom Waits (FM)”

#108 – “Chuck E_ Weiss melhor que Tom Waits (FM)”

Fernando Magalhães
28.05.2002 160403
…Não sei, até porque ainda não ouvi nem o “Blood Money” nem o “Alice”.
O que sei é que o novo álbum do senhor Chuck E. Weiss (amigo de Waits de longa data) , “Old Souls & Wolf Tickets” (ed. Rykodisc/Slow River) é espantoso.

O disco tem aquela qualidade rara de mostrar à evidência ter sido feito por alguém que anda há muitos anos nisto, tem um gozo imenso no que faz e mergulha a sua música nas raízes mais genuínas. Neste caso a soul music, o rhythm ‘n blues, o blues mais sanguíneo e o vaudeville, a par de canções excêntricas, algumas de sabor tribal.
Enfim, uma área em tudo semelhante á de Tom Waits, com a diferença de que neste disco tudo sai de forma natural, fluida e, ao mesmo tempo, poderosa.
Imagine-se o calor de um “Mardi Gras” no Louisiana, uma sessão de R & B (o som, os solos de órgão Hammond são um prazer por si só, neste disco) tirada do filme “The Blues Brothers”, valsas de cabaré, interlúdios amorosos de alguém mentalmente desequilibrado mas, ao mesmo tempo, senhor de uma alegria imensa.

É um daqueles discos que considero…exaltantes…que dão vontade de abrir a janela e pôr a aparelhagem a tocar no máximo.

FM

PS-Toda a gente devia ler, do princípio ao fim, o artigo de 8 páginas sobre os VAN DER GRAAF GENERATOR, na MOJO de Maio.
Há quem compare o Peter Hammill, em importância, a Frank Zappa e a…Picasso (!!). E que é um dos maiores génios/músicos/poetas da música deste século.

Deviam ler. 😮

No Secrets In The Family – “Play And Strange Laughter”

BLITZ 6 MARÇO 1990 >> Escaparate


NO SECRETS IN THE FAMILY

«PLAY AND STRANGE LAUGHTER»


Raros são os discos da Recommended Records que não alcançam a classificação de pelo menos «Muito Bom». A explicação para tal facto é simples: os critérios prevalecentes na estratégia editorial (desde a feitura da capa até aos últimos retoques de produção) regem-se exclusivamente pela qualidade e originalidade genuínas, ou seja, não há cedências de qualquer espécie. Parece fácil? Até é. Quando os objetivos não se resumem à obtenção de lucros a todo o custo.
A Rec Rec é uma editora suíça, subsidiária da sua congénere britânica e cuja totalidade do catálogo não foge à regra, isto é, vale a pena comprar todos os seus discos. Nomes importantes não faltam: os britânicos Camberwell Now (de Charles Hayward) e Skeleton Crew (de Fred Frith e Chris Cutler); o próprio Frith a solo, os franceses Etron Fou Leloublan (mais álbuns a solo dos seus membros Ferdinand Richard e Guigou Chenevier) e Nimal, os suíços Débile Menthol, os americanos Orthotonics, Negativland e Red Crayola ou os nipónicos After Dinner (cujo último álbum, aqui criticado, é de 89 e não 84, como por gralha saiu publicado), incluem-se no catálogo de luxo da editora.
Os alemães, ou suíços, ou austríacos No Secrets in the Family fazem parte da última fornada, juntamente com o mais recente dos germano-suíços Unknownmix («Whaba»), o já citado dos After Dinner («Paradise of Replica») e a estreia dos No Safety («This lost leg», com Zeena Parkins e Pippin Barnett).
Com os No Secrets salta imediatamente à vista (ou ao ouvido) aquilo que constitui regra de ouro em todos os «produtos» Recommended: a excelência técnica de todos os músicos envolvidos. Claro que não basta, mas também (regra n.º 2) só grava na casa quem, para além de saber tocar impecavelmente, seja ainda melhor compositor e arranjador e consiga ainda por cima ser original. É o caso destes No Secrets in the Family, liderados pela família Schonholzer: Annette (voz, sintetizador, órgão de pedais e melódica) e Markus (voz, guitarra e melódica). Os dois restantes membros são Daniel Meienberger (baixo, ukelele e voz) e Martin Gantenbein (bateria, flautas, saxofone, acordeão e voz).
Presentes ainda alguns convidados em violino, violoncelo, fagote, tuba e oboé.
Um dos trunfos da banda é possuir nas suas fileiras duas excelentes vozes, as de Annette e Markus, filiados nas escolas de Dagmar Krause e David Thomas (o gordo), respetivamente. Um dos outros vocalistas lembra outro excêntrico: David Garland (de «Control Songs» e «Worlds of Love»).
Mas é ao nível das composições que levantam voo: canções simultaneamente complexas e acessíveis, arranjadas com um bom-gosto inexcedível. Ao todo são dez, incluindo uma versão surrealista de «Que Sera Sera» e uma letra inspirada num texto de Chesterton («The Ballad of Suicide»).
«Play and Strange Laughter» é um disco a não perder. Quando por esse mundo fora se vão publicando dezenas de ótimos discos como este, porquê perder ainda tempo com o lixo que, metodicamente e com a cumplicidade dos «media», vai saturando e envenenando o mercado?
O rótulo «Música alternativa» serve, neste como noutros casos, para lembrar que vale a pena fazer desvios e arriscar no menos óbvio.
O portal Rec Rec é uma das entradas possíveis no imenso e luxuoso palácio da Recommended. Franqueá-lo é ter acesso ao paraíso.
(LP Rec Rec, Import. Contraverso, 89)