Arquivo de etiquetas: Chuck E. Weiss

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #108 – “Chuck E_ Weiss melhor que Tom Waits (FM)”

#108 – “Chuck E_ Weiss melhor que Tom Waits (FM)”

Fernando Magalhães
28.05.2002 160403
…Não sei, até porque ainda não ouvi nem o “Blood Money” nem o “Alice”.
O que sei é que o novo álbum do senhor Chuck E. Weiss (amigo de Waits de longa data) , “Old Souls & Wolf Tickets” (ed. Rykodisc/Slow River) é espantoso.

O disco tem aquela qualidade rara de mostrar à evidência ter sido feito por alguém que anda há muitos anos nisto, tem um gozo imenso no que faz e mergulha a sua música nas raízes mais genuínas. Neste caso a soul music, o rhythm ‘n blues, o blues mais sanguíneo e o vaudeville, a par de canções excêntricas, algumas de sabor tribal.
Enfim, uma área em tudo semelhante á de Tom Waits, com a diferença de que neste disco tudo sai de forma natural, fluida e, ao mesmo tempo, poderosa.
Imagine-se o calor de um “Mardi Gras” no Louisiana, uma sessão de R & B (o som, os solos de órgão Hammond são um prazer por si só, neste disco) tirada do filme “The Blues Brothers”, valsas de cabaré, interlúdios amorosos de alguém mentalmente desequilibrado mas, ao mesmo tempo, senhor de uma alegria imensa.

É um daqueles discos que considero…exaltantes…que dão vontade de abrir a janela e pôr a aparelhagem a tocar no máximo.

FM

PS-Toda a gente devia ler, do princípio ao fim, o artigo de 8 páginas sobre os VAN DER GRAAF GENERATOR, na MOJO de Maio.
Há quem compare o Peter Hammill, em importância, a Frank Zappa e a…Picasso (!!). E que é um dos maiores génios/músicos/poetas da música deste século.

Deviam ler. 😮

Chuck E. Weiss – Extremely Cool

26.02.1999
O Diabo Com Sapatos De Camurça
Chuck E. Weiss
Extremely Cool (8)
Rykodisc, distri. MVM

chuckeweiss_extremelycool

LINK (Old Souls & Wolf Tickets – Rykodisc – 2002)

“Foi numa noite de lua cheia que escrevemos metade destas canções. Por entre o intermitente coaxar das rãs, ao cósmico decote dourado das estrelas, as luminosas gotas da humidade dos pauis cruzavam a paisagem em insinuantes adornos e abrupta lascívia celeste. Tínhamo-nos conhecido há 25 anos num registo nocturno de maior obscuridade: roubávamos anões de jardim nos relvados de Beverley Hills. O espólio obtido era cuidadosamente empilhado no beco ao lado dos 69ers, um ‘late bar’ no centro de Los Angeles, e era então que nos libertávamos das agruras do mundo. Éramos uma dupla bem conhecida na cena noctívaga da cidade, e não só pelos nossos méritos musicais (…) De novo no centro da cidade, e com emprego fixo num casino aberto 24 horas por dia, pudemos explorar novos caminhos e experimentar inesperadas combinações: shows com animais, coristas, travestis, enfim… a nata do showbiz do submundo. Com o passar dos anos, esta imagem atenuou-se cada vez mais, até ficar como uma qualquer história que se ouve numa conversa casual entre copos, cigarros e música de ‘jukebox’.” É com esta spalavras que Tom Waits explica a sua relação pessoal e artística com Chuck E. Weiss, um compositor/intérprete que ao fim de um longo período de gestação das canções que escreveu (18 anos, desde o momento em que foram concebidas) editoy finalmente o seu primeiro álbum de originais, tendo como produtor executivo o actor Johnny Depp e a participação vocal do próprio Waits.
Para além de explicar alguns pedaços de vida desta relação, a citação dá um tom bastante aproximado do ambiente geral que caracteriz este trabalho. Chuk E. Weiss, como Tom Waits, ou mais ainda do que este, é um vagabundo das horas mortas (ou demasiado vivas) afogadas em álcool e loucura.
“Extremely Cool” passa pelo meio do fumo e cheio de rouquidão, com o passo acertado pelos “blues” (Chuck tocou com Lightin’ Hopkins, Willie Dixon e Muddy Waters), o jazz de cabaré, o “cajun”, o rockabilly, o rock ‘n’ roll e a música de variedades, como em geral é entendida a partir das cinco horas da madrugada. Chuck E. Weiss é um Alan Vega sem a metralha dos Suicide, um apaixonado pelo “bourbon” e pelos abismos (é raro ouvir chorar tanto um trompetem, como acontece em “Deeply Sorry”). E, já agora, por uma boa piada assassina. Um “crooner” de pacotilha que gosta de swingar e pôr a alma a nu. Aquecida por um corpo ou por um copo, tanto faz. Imagine-se uma luz tão velada e um coração tão ferido como o do seu companheiro de estrada, Tom Waits, em álbuns como “Small Change” ou “Blue Valentine”, sem a orquestra, mas aos tropeções nas mesmas ruas e nos mesmos camarins. Só que Chuck E. Weiss chegou depois e o seu passo é mais angustiado. Como no blues de abertura “Devil with blue suede shoes”. Faz sentido. Voltando a pegar nas palavras de Tom Waits: “Ainda me lembro da primeira vez que, numa saudável euforia alcoólica, o Chuck abandonou o seu lugar habitual na bateria, colocando-se ao meu lado na frente do palco e… quem diria! O Chuck cantava! E, meu Deus, cantava como se o próprio diabo o perseguisse.