Arquivo mensal: Julho 2025

Mike Oldfield – “The Songs Of Distant Earth”

pop rock >> quarta-feira >> 23.11.1994


Mike Oldfield
The Songs Of Distant Earth
WEA, distri. Warner Music



Confesso que tinha esperança. Depois de “Tubular Bells, parte 2: “A golpada”, esperava que o velho Mike emendasse a mão e mostrasse ser capaz, pelo menos, de igualar a qualidade, sem recuar aos primeiros álbuns, de “Amarok”. Puro engano. Apoiado numa ideia ambiciosa – pôr em música a obra do escritor de ficção científica Arthur C. Clarke, “The Songs of Distant Earth” – e em meios técnicos de grande envergadura, que incluem a edição em CD-ROM, este novo trabalho do autor de “Tubular Bells” jamais ultrapassa a ostentação desses mesmos meios, revelando uma confrangedora falta de inspiração e uma total incapacidade para evitar os “clichés” que fizeram a imagem de marca do autor. “The Songs of Distant Earth” é uma colagem de lugares-comuns electrónicos, vertente “new age” cósmico-ecológica, feitos em computador, que se perdem na repetição dos mesmos esquemas gastos de sempre. As presenças de um percussionista indiano bem como a utilização de cantos “saami” e outros “gadgets” – há mesmo uma secção intitulada “Tubular World” – destinados unicamente a valorizaro produto do ponto de vista do “marketing”, não ultrapassam a anedota. Como anedóticas são igualmente a participação de Molly Oldfield (a filha, a prima, a tia, a mulher?) ou do agrupamento de música antiga Tallis Scholars, nivelados pela bitola da inutilidade e irrelevância gerais deste novo acesso de megalomania do compositor Arthur C. Clarke, na capa luxuosamente enfeitada com grafismos de computador, diz ao músico o seguinte: “Welcome back into space, Mike: There’s still lots of room here”. É o melhor que ele tem a fazer. Vai, Mike, vai para o espaço! Vai e não voltes! (3)

Déanta – “Ready For The Storm”

pop rock >> quarta-feira >> 23.11.1994
world


Vencer Os Fantasmas

Déanta
Ready For The Storm (9)
Green Linnet, distri. MC – Mundo da Canção



Na corrida imparável para os lugares da frente na grande maratona da música tradicional da Irlanda, os Déanta aceleraram a fundo. Em competição directa com os Dervish na categoria de “principiantes” (noção algo relativa, tendo em conta a tenra idade com que na ilha se começa a pôr em prática o amor pela música), a primeira etapa foi vencida por estes últimos com “Harmony Hill”, contra a estreia dos Déanta.
“Ready for the Storm” responde à letra e ultrapassa sem apelo nem agravo “Harmony Hill”. Um passo de gigante dado por este grupo de cinco raparigas e um rapaz que alcançaram já a maturidade e um nível médio de execução instrumental que lhes permitirá, a breve prazo, entrar em competição directa (se é que não o fazem já) com as “trutas” da primeira linha (Altan, Skylark, Patrick Street, Open House, La Lugh, De Danann… Quanto aos Chieftains, insistimos em “arrumá-los” num local à parte…).
“Ready for the Storm” não sofre dos tremeliques nervosos que de algum modo tolhiam os movimentos dos músicos no álbum anterior. Melhorou a escrita e a capacidade inventiva dos arranjos, evidente desde logo no tema de abertura, “The mighty clansmen”, de uma riqueza harmónica extraordinária, bem como aquela energia mágica que parece possuir as melhores bandas irlandesas e as faz ultrapassarem-se a si próprias (os Dervish, por exemplo, que o digam, a propósito da sua actuação no último Intercéltico), liberta de forma exemplar no medley “Rocky reels”.
Deirdre Havlin está a tornar-se um caso sério na flauta. Basta escutá-la no citado tema de abertura ou nos diálogos com o “”bodhran” de Clódagh Warnock, em “Hammy Hamilton’s Jigs”, e com o violino de Kate O’Brien, em “The Landsdowne lass”. Mary Dillon, por seu lado, perdeu a timidez e projecta com outra convicção e naturalidade a sua voz. Eficaz, no clássico crioulo “The lakes of Pontchartrain”, ágil e profunda como um oceano de emoções, em “Culloden’s Harvest” (escrita pelo escocês Alastair McDonald sobre uma antiga canção gaélica do mar), simplesmente emocionante, em “Ready for the Storm”, um “standard” em potência.
Se “Déanta”, sem dúvida um bom álbum, não conseguia manter o mesmo nível elevado do princípio ao fim, sofrendo de uma ocasional “anemia” e de uma excessiva contenção (resultante dos tais receios – infundados – de falhar), em “Ready fot the Storm” é difícil detectar pontos a seu desfavor, dada a maneira como o grupo conseguiu, como já dissemos, libertar-se dos fantasmas do passado. Os Déanta estão agora preparadas para enfrentar, não só qualquer tempestade, como a responsabilidade de receber e transmitir o testemunho musical de uma tradição imorredoira.

Tannahill Weavers – “Capernaun”

pop rock >> quarta-feira >> 23.11.1994
world


Tannahill Weavers
Capernaun
Green Linnet, distri. MC – Mundo da Canção



Com uma atitude oposta à dos House Band, os Tannahill Weavers são um valor seguro da música escocesa, com o qual se pode contar para não se ter ilusões. Essa é talvez a maior virtude da banda mas também a sua principal limitação. Tal significa que o grupo cumpre os mínimos, que ocasionalmente uma escolha mais feliz do reportório os faz subir uns furos acima, mas mais do que isto não lhes peçam. “Capernaun” (bela harmonização de vozes no título-tema) é música tradicional da Escócia – cortada pelo picante de um “na dro”, com o aval dos amigos da Bretanha, Bleizi Ruz – tocada com a competência, a convicção e a naturalidade de esperar numa das bandas que há mais anos circula na cena folk da Escócia. Os Tannahill Weavers jamais farão um álbum fraco mas é difícil acreditar que alguma vez consigam atingir o brilhantismo. Mas, claro, continua a ser um prazer ouvir Kenny Forsyth fazer cantar as “Highland pipes”. (7)