Grandmothers Of Invention (The) – “The Grandmothers Of Invention Revivem Música De Zappa – Avós Em Frenesim”

cultura >> sábado >> 08.10.1994


The Grandmothers Of Invention Revivem Música De Zappa
Avós Em Frenesim


Não houve traição nem despropositadas reverências mas tão-só a música de Zappa dos anos 60 e 70, ressuscitada e, o que é espantoso, injectada de energia por três imparáveis velhinhos que alinharam com o mestre nas primeiras formações dos Mothers.

Foi num bar-discoteca de Lisboa, o Absoluto, nas noites de quinta e sexta-feira, que os Grandmothers of Invention deram uma vez mais razão à máxima “velhos são os trapos”. Jimmy Carl Black, Don Preston e Bunk Gardner, três Mothers genuínos, deram uma lição de profissionalismo tocando cerca de duas horas e meia para uma escassa plateia que no final não ultrapassaria a meia centena de pessoas. Com um entusiasmo, uma alegria e entrega total à música e ao espectáculo que transformaram a ocasião numa celebração festiva da arte de Frank Zappa.
Jimmy Black, com a mesma cabeleira e carantonha de monstro míope das fotografias das primeiras capas da banda, parecia um puto extasiado, abrindo a boca de prazer enquanto martelava a bateria, ora metronómico, ora iconoclasta, os ritmos das avós da invenção.
Don Preston é o mestre louco. Na noite de quinta tocou piano com a cabeça e os dentes ou com a ajuda de uma terceira mão, em plástico. Houve um segundo maestro, o sr. Gonçalves, conhecida personagem das noites dos Irmãos Catitas no Cinearte, que do primeiro ao último segundo do concerto se postou diante do palco, segurando na mão uma batuta improvisada para dirigir coma mão ébria as operações.
Nos saxofones e na flauta, Bunk Gardner, deu uma lição de força, imaginação e tecnicismo, soprando ventos e tempestades nas longas sequências instrumentais que trouxeram para o Absoluto o universo revisto e actualizado de Frank Zappa. Os restantes Grandmothers, o guitarrista, Sandro Oliva, um italiano com um bigode igual ao de Zappa, e o holandês Ener Bladezipper, no baixo, encarregaram-se de pôr ordem sempre que o caos rondava.
“Peaches in Regalia” abriu o concerto e durante duas horas e meia a música misturou-se com a folia. Don Preston vestiu a pele de um evangelista possesso, trazendo a salvação aos pecadores que “fumam marijuana e fornicam raparigas”. Sandro Oliva cantou em italiano um tema original e pediu ao público que o acompanhasse na digitação do famoso gesto obsceno feito com três dedos.
Eram os Mothers à solta, dispensando exercícios de memória. Temas antigos como “Hungry freaks daddy”, “Who are the brain police?”, “Trouble every day”, “Brown shoes don’t make it”, “Peaches in regalia”, “Willie the pimp” e “Lonesome cowboy Burt” ganharam novo alento. No primeiro “encore”, “Willie the pimp”, Paulo Martins, músico e promotor do concerto, juntou-se aos Grandmothers em palco, num solo de guitarra. Quatro raparigas adolescentes, entradas por acaso na discoteca, saíram cinco minutos depois, provavelmente confusas, como se tivessem visto um O. V. N. I. O sr. Gonçalves prosseguia infatigável a sua missão. Alguém dançava. O surrealismo da situação caiu de chofre, como um raio. Os Mothers em Portugal a tocarem para 50 pessoas. E eles, felizes no seu papel de “entertainers”, ficariam a tocar enquanto houvesse pelo menos uma pessoa na sala. Zappa pode descansar em paz.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.