cultura >> sexta-feira, 05.11.1993
“Canções Do Século” No Estoril
Alegres Panteras
RITA GUERRA, Lena d’Água e Helena Vieira passaram em revista, nas noites de sexta e sábado no salão Prero e Prata do casino do Estoril, as canções que fizeram a história da música ligeira deste século. Durante cerca de duas horas, as três cantoras, sempre vestidas de negro, quais panteras de garras afiadas e alegria felina, interpretaram a solo ou em conjunto as canções que ficaram na memória. De “Tea for two”, “Summertime” e “The Lady is a tramp” ao “Timpanas”, “Maldita Cocaína” e “A mula da cooperativa”. De “My funny Valentine”, “La vie en rose”, “My fair lady”, “The dock of the bay” e “Satisfaction” a “Tintarella di blu”, “Desfolhada” e “Ó José aperta o laço. Couberam todas. Como couberam todos os artifícios e pequenas vaidades do “jet-set nacional”, que voltou a marcar presença no casino, embora em menor número do que é habitual neste tipo de galas.
As canções, claro, eram o que toda a gente estava à espera. Mas primeiro era preciso confortar o estômago. Para tal, foram convidados artistas de outra estirpe que davam pelo nome de camarões (com maionese de ervas finas) ou – mais “raffinés” – “suprêmos [com acento] de pato estufado com laranja” e “bavaroise” de morango. O espectáculo propriamente dito, que incluiu projecção de “slides” sobre e ao lado do palco, teve direcção de Pedro Osório e apresentação de Júlio César. Este, em contraste com o negro dos vestidos das cantoras, fazia sobressair de um fraque branco a sua voz bem modelada pelo espectáculo de que faz parte, inspirado em Salvador Dali e que tem vindo a decorrer nesta mesma sala (o lado interior da entrada no salão foi transformado na célebre boca vermelha de Mae West). Já na parte final das “Canções do Século”, as três vozes femininas interpretaram temas de José Afonso, em homenagem a este autor, e uma rapsódia bem recheada de composições de outros artistas portugueses, entre eles, Fausto, Carlos do Carmo, José Mário Branco, Trovante, Rui Veloso, Heróis do Mar, Sétima Legião e Xutos & Pontapés.
Ainda houve tempo para uma sessão de “karaoke” – um entretenimento por cá agora muito em voga e que consiste em qualquer pessoa poder cantar ao microfone músicas conhecidas, com acompanhamento de “playback” instrumental – feito por algumas figuras conhecidas presentes na assistência (Raul Solnado, Fernando Pereira, António Sala…), como forma de matar o tempo enquanto as três estrelas da noite mudavam de fato. A fechar, um dueto improvisado de “Menina estás à janela”, entre Helena Vieira e Rita Guerra e, em pé no meio das mesas, Paulo de Carvalho e Carlos do Carmo. Uma festa, com toda a gente a sair satisfeita do “Preto e Prata” pela boca de Mae West.
Agora é só esperar até ao ano dois mil por novas canções. Se ainda houver.