pop rock >> quarta-feira, 16.06.1993
NOVOS LANÇAMENTOS POP ROCK
Barry Adamson
The Negro Inside Me
CD Mute, distri. Edisom
Quando não tem bandas sonoras Barry Adamson inventa-as. Assim aconteceu com “Moss Side Story” e o anterior “Soul Murder”. Filme a sério teve-o o ex-Magazine em “Delusion”. Desta feita o referente imaginário cinematográfico – recuperado logo pelo aspecto gráfico da ficha técnica, elaborado à maneira de um filme – emergiu numa curta-metragem de trinta e um minutos na qual Adamson foi buscar as sonoridades “standard” das fitas, sobretudo policiais, dos anos 60 e 70, aqui postas em relevo através das deambulações solistas do órgão Hammond e de um infatigável maremoto rítmico entre “Shaft” e o acid-jazz. Dos seis apontamentos que compõem “The Negro Inside Me” destacam-se “Busted”, com os sopros a explodirem em ondas “funky” próximas de Booker T. and the MG’s e o trabalho de corte e costura das técnicas de “dub” equidistantes às do álbum novo de Holger Czukay, e o genérico final “A perfectly natural union”, no paziguamento de um diálogo a três entre um vibrafone “cool”, um contabaixo e o restolhar das vassouras nas peles dos tambores.
“The snowball effect” abre com a desbunda do Hammond, “Dead Heat” serve-se de vários lugares-comuns do “thriller” de série B, com ambulâncias e sirenes de polícia a empurrarem o tema para o lado mais óbvio e “Cold black preacher” aposta no registo mistério.
Sobra uma versão do clássico “kitsch”/erótico “je t’aime moi non plus” em que os trejeitos mecânicos de Louise Ness não fazem esquecer os genuínos orgasmos, gravados “in loco” na cama por Jane Birkin. Mas como em tempo de sida e “safe sex” não convém originar grandes excitações, tem que aceitar-se o novo arranjo, à laia de preservativo.
Um álbum interessante, de baixo orçamento, a anteceder talvez uma próxima grande-produção que dê a Barry Adamson o direito de deixar a marca do pé gravada no mítico passeio em frente ao Chinese Grauman’s Theatre. (7)