Barry Adamson – “Soul Murder”

Pop Rock >> Quarta-Feira, 20.05.1992


Barry Adamson
Soul Murder
LP / CD, Mute, distri. Edisom


Crime. Assassínio, rapto e aeróbica. O “prefácio” – uma declaração de princípios e preferências mórbidas de um psicopata procurado pela polícia – dá o mote a este conglomerado de estilos e emoções “negras” que projecta Barry Adamson no mundo tortuoso que, de forma gloriosa, soube edificar em “Moss Side Story” (aqui ele próprio se intitula, em jeito de elucidativa paródia, “Mr. Moss Side Gory”), para depois descer às imposições da banda sonora de “Delusion”.
O estilo de Adamson é o do “carrasco sedutor”, feito de movimentos amplos e súbitas mudanças de registo (do jazz à pop electrónica, do sinfónico ao declamatório, do concretismo ao lítico), em que a violência funciona como espectáculo de variedades, um pouco à maneira de Jim Foetus, ao nível das intenções. Adamson castiga o ouvinte com palavras (neste aspecto, “Soul Murder” é bem mais palavroso que “Moss Side Story”) carregadas de fúria, ao mesmo tempo que as envolve em orquestrações electrónicas ou em arranjos “jazzy” sombreados de saxofones, álcool e nicotina, como se o mundo fosse um cabaré de es+ectros em “soirée” de apocalipse.
Há um paradoxo central nesta violação e sedução dos sentidos que permite a presença, lado a lado, do cinismo mais luciferino e das monstruosidades instrumentais de “Checkpoint Charlie” e “On the Edge of atonement” com o bucolismo pseudo-satieano de “Reverie”, a leveza perturbante dos vibrafones de “Trance of hatred” e o humor negro de “007, a fantasy Bond theme” (aqui o próprio James Bond é negro). Entre o “voodoo” de casino e o surrealismo na sua vertente de pesadelo, “Soul Murder” encontra paralelo nas caveiras e colares de “The Art of Falling Apart”, dos Soft Cell, e no défice de realidade de Sade ou Lautréamont que faz coincidir o artista com o vampiro, o assassino de almas. (8)

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