Pop-Rock Quarta-Feira, 23.10.1991
MÁRC ALMOND
Tenement Symphony
LP / CD Some Bizarre, distri. Warner port.
A capa só por si vale o disco: uma glosa do grafismo da série barata “Classics For Pleasure”, onde Almond assume o “smoking” e a pose de batuta em punho de Simon Rattle (um dos maiores maestros ingleses da actualidade), mas com um ramo espinhado no lugar da dita batuta e um maço de notas turcas a saírem-lhe do punho, preparo rematado pelo adereço de uma flor de plástico a enfeitar um metrónomo. Truncagem tipicamente “camp” do visual pop da música clássica na idade de Pavarotti e Nigel Kennedy, complemento de um recheio pop de recorte sinfónico, que incluiu um extracto de “Trois Chansons de Bilitis” (Debussy). “Flirt” jocoso com a música clássica, mas também com os clássicos da música popular.
O zénite do álbum é sem dúvida a versão radical de “La Chanson de Jacky”, sátira em tom marcial ao binómio beleza / vacuidade da autoria de Jacques Brel, que Márc (o acento no “a” é outro pormenor da nova decoração) revisita em tintas eurodisco. O álbum assenta na combinação dessas variáveis: a pop electrónica (produto da associação de Dave Ball, ex-companheiro de Almond nos Soft Cell, com Richard Norris sob a sigla The Grid) e a tendência para o fausto sinfónico de Trevor Horn (o maestro da ZTT), reforçada pelos arranjos de cordas de Ann Dudley, dos Art Of Noise. “Desta confusão, declara o autor na contracapa, sonhei uma grande ilusão: a ‘Tenement Symphony’”, um álbum onde as convenções e conveniências da actual ligação da pop à música clássica não sofrem uma subversão terrorista, mas o género de revisão agridoce, misto de romantismo e crueldade extremados que transformam a sua seriedade pequeno burguesa em delírio faustoso. (8)