K. D. Lang – “Ingénue”

Pop Rock >> Quarta-Feira, 15.04.1992


ÂNIMA OU (DES)ANIMUS, EIS A QUESTÃO

K. D. LANG
Ingénue
LP / CD, Sire, distri. Warner



Depois de se afirmar como um dos maiores nomes da country actual. K. D. Lang desfez todas as dúvidas e arrasou com todos os preconceitos. Para ela, Nashville e a country acabaram. “Ingénue” é um disco de emoções à flor da pele, de relações perdidas e reencontradas no deserto das grandes desolações interiores. E uma voz fabulosa embalada por arranjos capazes de provocar um pranto convulsivo nas almas mais sensíveis. “Anima” ou “animus” eis a questão.
Para K. D. Lang, é irrelevante em que lado da barricada do amor se está. O problema é a barricada dos desânimos. O problema é K. D. Lang, quando canta: “something in me puts love into fear”. Ancorando em influências como Peggy Lee, Julie London e Carmen McCrae, o ambiente de “Ingénue” só encontra paralelo recente em Mathilde Santing (de “Water under the Bridge”) ou na operacidade dramática de Marc Almond, sem esquecer Marianne Faithfull, que por vezes também chora assim. Os violinos e as cordas são cascatas lacrimejantes. Há acordeões parisienses, Marlene Dietrich, ecos de Joni Mitchell e uma “pedal steel” tão vasta e profunda como um oceano.
Orquestras de nevoeiro dão lugar a sombras “jazzy” nos bares onde a noite é mais fria. “My body’s frozen and my heart is cold” é um entre muitos versos que ajudam a compreender um álbum triste, sobre experiências amorosas ou a “ausência delas” – como refere a cantora -, o que é ainda mais triste. Um vale de lágrimas servido em cálice de cristal. (9)

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