Televisão e Rádio >> Sábado, 04.04.1992
TELEVISÃO
O Guitarrista Que É Conforme

É BOM? É mau? Pat Metheny é conforme. Tecnicamente é um músico perfeito. O discurso da sua guitarra, acústica ou sintetizada, possui a força e a limpidez de um caudal de água. A nitidez do fraseado aprendeu-o com os mestres: Jim Hall, Django Reinhardt, Wes Montgomery. O buril de Manfred Eischer, durante toda a fase ECM, fez o resto, eliminando qualquer aresta mais áspera que pudesse subsistir. Os discos com o vibrafonista Gary Burton aí estão para o demonstrar. Mas é conforme. Quando a coisa descamba para o mau gosto, Pat Metheny cede ao pior dos vícios, o da facilidade, traduzida num jazz-rock de hipermercado que torna irrelevante um disco como “Still Live Talking” e quase repelente outro como “Letter from Home”.
A alternativa é esquecer estes pecadilhos (melhor ainda é não chegar sequer a ouvi-los) e procurar noutras latitudes. Três momentos chegam para não levar o guitarrista muito a sério quando afirma que a sua “primeira pulsão sexual” foi provocada pela voz de Astrud Gilberto, em “Garota de Ipanema”, ainda por cima na televisão: “Question and Answer”, com Dave Holland e Roy Haynes, “Song X”, com Ornette Coleman (um dos seus mestres assumidos embora não seja provável que o saxofonista lhe tenha provocado uma pulsão do mesmo tipo que Astrud Gilberto) e “Electric Counterpoint”, uma peça minimal repetitiva composta por Steve Reich.
Outras pulsões, hoje em “Outras músicas”, para ouvir ou experimentar. É conforme.
Canal 2, às 19h45