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Paco De Lucía & Carlos Paredes – “Lucía & Paredes – O Dueto Das Cordas” (antevisão concerto)

PÚBLICO SEXTA-FEIRA, 28 SETEMBRO 1990 >> A Semana >> Na Capa


LUCÍA & PAREDES

O DUETO DAS CORDAS


Hoje à noite, na Póvoa do Varzim, as guitarras de Portugal e Espanha vão tocar ao desafio: Paco de Lucía e Carlos Paredes, mestres incontestados dos respetivos instrumentos, num “mano a mano” que se prevê exaltante.



Fala-se de flamenco e vem-nos à memória a figura aprumada de Obélix, em volta da fogueira, batendo palmas e soltando uns “hayhayhayhay” compenetrados.
Paco de Lucía não é Obélix, mas nem por isso deixa de ser um dos mais dignos representantes da guitarra flamenca. Guitarra que exige muita garra e fogo nos dedos. Vem dos ciganos o seu segredo, a maneira de traduzir a vida na vibração das cordas. A perfeição guitarrística não se esgota na velocidade nem no virtuosismo da execução. Os mestres sabem que a técnica está sempre ao serviço da emoção e que esta só então se cumpre no movimento corporal. Aprendizagem que exige iniciação. Paco de Lucía inclui-se no grupo restrito dos mestres, ao lado de Manitas de Plata, na arte de rasgar a alma.
Hoje à noite, no Salão Nobre do Casino da Póvoa, tecerá armas, que é como quem diz, guitarras, com um artista à sua altura – o português Carlos Paredes – em duetos que vão pôr à prova a tradicional rivalidade entre os vizinhos ibéricos. De um lado a fogosidade picante, a típica extroversão andaluza, do outro, o intimismo e saudade lusitanas, através de dois dos mais conceituados intérpretes da atualidade.
Paco de Lucía, de seu verdadeiro nome Francisco Sánchez Gomez, nasceu e foi criado numa família de músicos. Aprendeu com o pai os mistérios da guitarra espanhola, e, mais tarde, com os ensinamentos dos lendários Sabicas e Mario Escudero. Aos 13 anos já fazia parte, como terceiro guitarrista, da Companhia Espanhola de Ballet Clássico. Nos primeiros álbuns, o flamenco, sempre, e a música popular da Andaluzia.
Junta-se a outros guitarristas – Paco Cepero, El Farruco, Juan Maya – e parte à descoberta da Europa, tornando-se durante sete anos o principal divulgador do flamenco, além fronteiras. Nunca mais parou de gravar discos: “Fantasia Flamenca”, “Fuente y Caudal”, “Almoraima”, “Castro Marín”, “Solo Quiero Caminar”. Este último granjeou-lhe enorme popularidade no nosso país através, sobretudo, da canção do mesmo nome. Ultimamente voltou-se para o campo mais vasto da música de fusão, tocando e gravando com outros “monstros” da guitarra, como Carlos Santana, Al Di Meola, John McLaughlin e Larry Coryell.
Hoje à noite vai ser um negócio só a dois: guitarras à descarada, portuguesa e espanhola, num duelo de resultado incerto mas certamente mágico.

PÓVOA DO VARZIM Monumental Casino da Póvoa, 6ª, 28, às 22h00