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Aphex Twin – “… I Care because you do” + Banco de Gaia – “Last Train to Lhasa”

Pop Rock

21 de Junho de 1995
álbuns poprock

Aphex Twin
… I Care because you do (7)

WARP, IMPORT. SYMBIOSE

Banco de Gaia
Last Train to Lhasa (5)

2XCD, PLANET DOG, DISTRI. POLYGRAM


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O regresso em força da música electrónica nos anos 90, nas suas várias vertentes, da “ambient” ao tecno, da “new age” ao abstraccionismo, corresponde a um tipo de sensibilidade nova, formatada nos circuitos internos de um computador de modo a responder aos anseios do corpo eléctrico (e nevrótico?) do final deste milénio. O passado mais recuado – a escola planante alemã ou o “ambientalismo” de Eno, mas também o electropop primordial dos Kraftwerk – ou o mais recente – a música industrial, a “electronic body music” – foram recuperados e reciclados, deixando um certo humanismo pelo caminho. As máquinas reinam sozinhas no reino dos Aphex Twin, “alter ego” de Richard James. Ora experimentam vias de terror e hipnose, ora se interrompem em simulações contemplativas, em paisagens ambientais onde a quietude esconde outros fantasmas. Dividido em quatro “lados”, “a”, “b”, “3” e “4”, à maneira de um duplo vinilo falso, “… I Care because you do” revela pontos de partida conhecidos, como o martelo-pneumático e o terrorismo dos Throbbing Gristle, em “Ventolin”, a vertente neoclássica dos Coil, em “Icct hedral” e “Next heap with”, ou o esquematismo poético-fabril de Dieter Moebius (dos Cluster), em “Wax the nip”, embora, pela progressão inexorável e gélida dos temas e pela escolha dos timbres metalizados, recorde sobretudo os Recoil, de “1+2” e “Hidrology”.
“Last Train to Lhasa”, por contraste, é um álbum bem-comportado que não pretende mais que utilizar a “trance”, acrescentar-lhe as pastilhas “etno tecno” do costume e pôr a correr os sequenciadores e computadores de ritmo, enquanto os humanos vão beber a bica ao café do lado. A paciência já vai faltando para ouvir vozes búlgaras sampladas, mas “Last Train to Lhasa” acaba por se redimir pela via onde aparentemente estaria condenado ao fracasso total: num longo tema de 36 minutos (um preciosismo, já que estão todos ligador entre si), “Kincajou (duck! Asteroid)”, uma cópia dos Tangerine Dream escrita com “lettering” moderno que consegue de facto envolver-nos na sua trama rítmica interminável. Mas no geral apetece sair logo nas primeiras estações. Quem disse que Jean-Michel Jarre era um chato?