Arquivo da Categoria: Easy Listening

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #54 – “Barry 7’s Connectors (FM)”

#54 – “Barry 7’s Connectors (FM)”

Fernando Magalhães
17.12.2001 150341

Barry 7’s Connectors
Barry 7, dos Add N to (x), acabou de editar um CD muito curioso, “Barry 7’s Connectors”: uma selecção, da sua responsabilidade, de 21 temas raros extraídos de arquivos de várias proveniências (três, não me recordo agora quais), dos anos 60 e 70. “Incidental music”, portanto, montada numa sequência interessantíssima que mistura easy listening futurista (Moogs e theremins a dar com um pau…), lounge atípico, música de filmes, pastisches de krautrock e mesmo algum experimentalismo electrónico (Raymond Scott a espreitar no horizonte…).

O disco faz parte da mesma série que recentemente teve em LUKE VIBERT idênticas funções, de seleccionador de material de arquivo.

Ou muito me engano, ou trata-se de um disco que fará as delícias do Flash Gigantone.

FM

Space – “Space”

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 26 SETEMBRO 1990 >> Videodiscos >> Pop


SPACE
Space
LP e CD, Space, import. Contraverso



Ao ler-se a ficha técnica, não se pode dizer que haja falta de espaço. O espaço em questão é ocupado pela mesma dupla que dá pelo nome de KLF, ideia de Jimmy Cauty e Bill Drummond, destinada a anestesiar os habituais frequentadores das pistas de dança, e colocá-los em órbita de seguida. Se em “Chill Out”, dos KLF, era a Natureza que piava, mugia, balia e produzia outros ruídos bucólicos suscetíveis de acalmar os ânimos mais exaltados e levar ao Nirvana aqueles propensos às grandes contemplações metafísicas, em “Space” é o grande salto para as imensidões siderais. Holografia dos espaços cósmicos, de densidade quase nula, pontuada por farrapos de música enviados via rádio, como se a Terra ficasse a anos-luz de distância. Vozes longínquas, contagens decrescentes, crescendo de foguetões preparando-se para desafiar o infinito. Astronautas suspensos no vazio. A pulsação de corações angustiados diante da eternidade.
Música espectral, infiltrando-se no cérebro de quem vive já uma realidade alternativa, à maneira dos enredos de Philip K. Dick. Música que recupera o sinfonismo aberto ao Cosmos dos percursores Tangerine Dream (de “Phaedra” e “Rubycon”), Vangelis (“Albedo 0.30”) e Brian Eno (“Apollo Atmospheres & Soundtracks”), para lhe inverter o sentido. O espaço transforma-se em alucinação. Entre a consciência e o mundo exterior, um ecrã de imagens refletidas. Recebem-se sinais, ecos de ecos de uma realidade fragmentada e fantasmática. No final do primeiro lado, uma voz líquida, excessivamente cândida, entoa o “Twinkle, Twinkle, Little Star”, do mesmo modo sobrenatural e perverso que Julee Cruise, nas escuridões luminosas de “Floating into the Night”.
Do outro lado de um disco em que o ritmo se limita à batida deliberadamente fria e mecânica dos sequenciadores, sugerem-se cadências vagamente dançáveis, como se ao corpo fosse possível agitar-se à gravidade-zero. No final, o lento retorno ao planeta, o som de gaivotas e do mar. Para os Space o espaço é um lugar triste e gelado onde flutuam almas perdidas. Como o inferno.

James Taylor – “Um ‘Entertainer’ De Emoções”

Pop Rock >> Quarta-Feira, 06.05.1992


UM “ENTERTAINER” DE EMOÇÕES

“Sweet Baby James” é a canção por que todos o recordam. É pouco, para quem, como James Taylor, anda pelo mundo há mais de uma década às voltas com as canções. Arriba a Portugal na sexta-feira, ao Casino Estoril, e repete no dia seguinte, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Com as baladas que o tornaram célebre e das quais diz que “o mais fácil é começa-las, o pior é o resto”.



Para este cantor, nascido em Boston e hoje com 44 anos de idade, pouco mudou entre o álbum de estreia “James Taylor” (de 1968, inclui duas canções conhecidas, “Carolina in my mind” e “Something in the way she moves”) e “New Moon Shine”, do ano passado: as mesmas baladas doces e um modo suave de introspecção adequado à época dourada dos anos 60 e 70, que lhe permitiu ombrear com outros “singers / songwriters” da época, como Carole King, Melanie e Joni Mitchell. Pelo caminho foram ficando melodias agradáveis como “Fire and rain”, “You’ve got a friend” (esta tornada mais popular na voz de Carole King) e “How sweet it is”.
Também é costume as pessoas referirem-se a James Taylor por ter sido casado com Carly Simon, a mulher dos lábios mais carnudos à face da Terra, mas isso é outra história, se calhar mais interessante que a da sua biografia.
Coisa curiosa: os seus discos venderam-se sempre bem, tendo atingido o “top” de vendas nos Estados Unidos uma quantidade de vezes e sido “discos de ouro” outras tantas. “Sweet Baby James” (o tal disco, a tal canção), de 1970, e “Mud Slide Slim and the Blue Horizon”, do ano seguinte, alcançaram ambos o terceiro lugar. “One Man Dog”, de 1972, atingiu o 4º posto, “Walking Man” (1974) foi 13º, “Gorilla”, de 1975, o 6º, “JT”, de 1977, conseguiu o 4º, “Flag” (1979) e “Dad Loves His Work” chegaram a 10º. O mais recente, “New Moon Shine”, vendeu a velocidades supersónicas.
James Taylor, por este lado, não tem razões de queixa, até porque para ele, embora seja importante “estar nos tops”, esse não passa de “um objectivo muito pobre quando se é músico”. Da mulher, Carly Simon, a tal dos lábios, com quem se casou em 1972, deve ter tido algumas, já que se divorciou dela dez anos depois.
E foi assim que tudo se conjugou para que James Taylor viesse aportar a este cantinho mimoso à beira mar plantado que é a nossa terra, o nosso Portugal. E logo ao Casino Estoril, ponto de encontro da nossa melhor sociedade. Por aqui se vê que Taylor é um artista de classe. A sério. E ecológico, ainda por cima: é amigo de Sting (de quem diz ser “uma pessoa completamente natural e imunizada à moda”), outro ecológico, e participou no megaconcerto “No Nukes”, contra o nuclear e as bombas antónias.
Nas fotos promocionais, James Taylor tem aparecido frequentemente com um aspecto bronzeado. Não por acaso, poiso cantor é um frequentador assíduo do festival “Rock in Rio”. Ou então é da qualidade das fotografias.
No Casino vai emocionar os corações da, repete-se, não vá aparecer alguém sem gravata, melhor sociedade lisboeta e proporcionar decerto mais um ritual de “aceno de lenços” tão do seu agrado. Nem poderia ser de outro modo, já que o próprio James Taylor se afirma um “’entertainer’ a quem dá muito gozo e emoção tocar ao vivo”.
Do lote de canções que James Taylor interpretará em Portugal, na maioria extraídas de “New Moon Shine”, fazem parte “Copper line”, “You can’t go home again”, “Down in the hole”, “I’ve got to stop thinking about that”, “Shed a little light” e “Frozen man”, que fala de “um marinheiro britânico do séc. XIX que se perde no mar, junto ao Ártico, e que, uma vez descongelado, descobre que o seu mundo acabara há cem anos atrás”, uma das preferidas do autor, inspirada num su antepassado, também ele “perdido para sempre no mar”. James Taylor – um homem do mar que em Portugal procurará não meter água.