Arquivo da Categoria: Easy Listening

Producers For Bob – “Bob’s Media Ecology” + Vários – “Bob’s Media Ecology 2”

pop rock >> quarta-feira, 20.10.1993


Producers For Bob
Bob’s Media Ecology (8)
Vários
Bob’s Media Ecology 2 (7)
DOV, import. Contraverso

>br/>


Ecologia mediática, nem mais nem menos, é o tema que ao longo dos últimos anos Bob Dobbs, um discípulo de Marshall McLuhan, vem dissecando, num daqueles estranhos programas radiofónicos independentes que abundam nos Estados Unidos. Mas também pode muito bem ser uma daquelas treats do estilo das que os Negativland gostam de inventar. A nova ecologia, segundo Dobbs, tem por objectivo orientar e alertasr o indivíduo numa relação, já não com a Natureza, mas com o mundo mediático da informação e respectiva manipulação. Os canadianos Producers for Bob pegaram em extractos de emissões, manipulando por sua vez o discurso e acrescentando-lhe toneldas de tecnologia e montagem sonoras, seguindo uma estratégia em tudo idêntica à dos Negativland. Criaram 30 pequenas peças electrónicas e conceptuais e chamaram-lhes “Hand signals for the blind” ou um “souvenir from a ritual-in-progress”.
“Bob’s Media Ecology 2” é um conjunto de remisturas de temas do primeiro volume, bastante mais dançáveis, assinadas pelso Negativland, precisamente, Steinski, Coldcut e os próprios Producers for Bob, intercaladas por excertos de diálogos e monólogos de Bob Dobbs, dos quais se destaca o longo manifesto “Four levels of exegesis”. Irresistíveis são as duas versões de “Discarnate mix”: uma “bass mix” de rebentar as tripas e a versão de 11 minutos “out-of-body” pelos Coldcut, em que, pelo contrário, reinam a fantasmagoria e as truncagens astrais, entre a “techno” e o mundo do eco de Arthur Russell.

Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #54 – “Barry 7’s Connectors (FM)”

#54 – “Barry 7’s Connectors (FM)”

Fernando Magalhães
17.12.2001 150341

Barry 7’s Connectors
Barry 7, dos Add N to (x), acabou de editar um CD muito curioso, “Barry 7’s Connectors”: uma selecção, da sua responsabilidade, de 21 temas raros extraídos de arquivos de várias proveniências (três, não me recordo agora quais), dos anos 60 e 70. “Incidental music”, portanto, montada numa sequência interessantíssima que mistura easy listening futurista (Moogs e theremins a dar com um pau…), lounge atípico, música de filmes, pastisches de krautrock e mesmo algum experimentalismo electrónico (Raymond Scott a espreitar no horizonte…).

O disco faz parte da mesma série que recentemente teve em LUKE VIBERT idênticas funções, de seleccionador de material de arquivo.

Ou muito me engano, ou trata-se de um disco que fará as delícias do Flash Gigantone.

FM

Space – “Space”

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 26 SETEMBRO 1990 >> Videodiscos >> Pop


SPACE
Space
LP e CD, Space, import. Contraverso



Ao ler-se a ficha técnica, não se pode dizer que haja falta de espaço. O espaço em questão é ocupado pela mesma dupla que dá pelo nome de KLF, ideia de Jimmy Cauty e Bill Drummond, destinada a anestesiar os habituais frequentadores das pistas de dança, e colocá-los em órbita de seguida. Se em “Chill Out”, dos KLF, era a Natureza que piava, mugia, balia e produzia outros ruídos bucólicos suscetíveis de acalmar os ânimos mais exaltados e levar ao Nirvana aqueles propensos às grandes contemplações metafísicas, em “Space” é o grande salto para as imensidões siderais. Holografia dos espaços cósmicos, de densidade quase nula, pontuada por farrapos de música enviados via rádio, como se a Terra ficasse a anos-luz de distância. Vozes longínquas, contagens decrescentes, crescendo de foguetões preparando-se para desafiar o infinito. Astronautas suspensos no vazio. A pulsação de corações angustiados diante da eternidade.
Música espectral, infiltrando-se no cérebro de quem vive já uma realidade alternativa, à maneira dos enredos de Philip K. Dick. Música que recupera o sinfonismo aberto ao Cosmos dos percursores Tangerine Dream (de “Phaedra” e “Rubycon”), Vangelis (“Albedo 0.30”) e Brian Eno (“Apollo Atmospheres & Soundtracks”), para lhe inverter o sentido. O espaço transforma-se em alucinação. Entre a consciência e o mundo exterior, um ecrã de imagens refletidas. Recebem-se sinais, ecos de ecos de uma realidade fragmentada e fantasmática. No final do primeiro lado, uma voz líquida, excessivamente cândida, entoa o “Twinkle, Twinkle, Little Star”, do mesmo modo sobrenatural e perverso que Julee Cruise, nas escuridões luminosas de “Floating into the Night”.
Do outro lado de um disco em que o ritmo se limita à batida deliberadamente fria e mecânica dos sequenciadores, sugerem-se cadências vagamente dançáveis, como se ao corpo fosse possível agitar-se à gravidade-zero. No final, o lento retorno ao planeta, o som de gaivotas e do mar. Para os Space o espaço é um lugar triste e gelado onde flutuam almas perdidas. Como o inferno.