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Andy Partridge & Harold Budd – “Through The Hill” + Michael Nyman – “Michael Nyman Live”

pop rock >> quarta-feira >> 30.11.1994


Pianos E Outros Instrumentos

Andy Partridge & Harold Budd
Through The Hill (7)
All Saints, distri. Megamúsica
Michael Nyman
Michael Nyman Live (6)
Ventura, distri. EMI – VC



Coisa triste o que aconteceu a Michael Nyman, obrigado a carregar nas costas o peso de uma maldição, de um piano bolorento chorando à beira-mar. Ou seja, Nyman transformou-se num carregador de pianos. Depois do filme de Jane Campion, depois da banda sonora original, depois da versão completa em “suite”, chegou avez de “The Piano” se mostrar ao vivo, em concertos realizados em Espanha. É muito piano para um homem só. Acompanhado pela habitual “ensemble”, a “suite” onde figura o tema de maior sucesso, “The heart asks for pleasure first”, surge aqu mais lenta e presa de movimentos, não deixando por isso de constituir nova oportunidade para os recém-convertidos à música de Nyman se lambuzarem com mais um prato de pós-modernismo, a ementa com mais saída de momento. Depois há música de “The Draughtsman’s Contract” e a excelente (no original em estúdio, “The Kiss and Other Movements”) “suite” “Water dances”. Inédita e mais curiosa que verdadeiramente interessante é “The upside-down violin”, um “apanhado” de música da tradição árabe-andaluzcada pela Orchestra Andalusi de Tetuoanque e posteriormente trabalhada, com mão um pouco rígida, eplo “ensemble”.
“Through the Hill”, ao contrário do carregador de pianos, não aborrece, o que desde logo faz marcar pontos a seu favor. Budd e Andy Partridge (excêntrico dos XTC, embora aqui não se note) entregam-se à onda de “relaxe” do costume. Dividiram-na em três núcleos temáticos, “Geografia”, “Estruturas” e “Artefactos”, separados por pequenos interlúdios designados “mãos”, e ilustraram-nos graficamente com gravuras alusivas. Partridge recria ocasionalmente a “infinite guitar” de Michael Brook e, com maiores ou menores sobressaltos (a música não é neste caso tão planante como costuma acontecer quando Budd está sozinho), deslizamos com um sorriso de beatitude nos lábios para o interior do universo poético-abstracto de “Through the Hill”. Budd não se dispensa de ler alguns poemas, dando rédea livre à sua faceta recentemente descoberta de declamador sonambúlico, e a presença de Partridge corta, quando menos se espera, a serenidade reinante com badaladas de metal ou zumbidos de insecto convertido ao romantismo. Música ambiental que não deixa adormecer, mesmo quando o factor novidade, em discos deste tipo, seja algo que se faz notar somente de dez em dez álbuns, pelo menos.