Arquivo da Categoria: Folk-Rock

Four Men And A Dog – “Shifting Gravel”

pop rock >> quarta-feira, 09.06.1993
WORLD


Four Men And A Dog
Shifting Gravel
CD Special Delivery, distri. MC – Mundo da Canção



A música tradicional dá pano para mangas, é verdade, mas nem toda a indumentária lhe fica bem. Os Four Men and a Dog, incensados pela, por vezes suspeita, “Folk Roots” (o álbum de estreia “Barking Mad” foi considerado álbum do ano por esta revista), chegam ao segundo álbum aureolados com a etiqueta de “grande revelação da música irlandesa tradicional”. Poderiam sê-lo, na realidade. Para tal, bastaria o facto de contarem nas suas fileiras com Arty McGlynn (o homem tem o dom da ubiquidade), o mago da guitarra contrapontística, e Gerry O’Connor, (Lá Lugh, Skylark) não menos assombroso, no banjo e no violino. Afinal, perdem-se. Não nos temas tradicionais, onde a prestação instrumental é imaculada, mas nas composições pessoais, onde o vector tradicional é totalmente posto de parte, em favor da energia dos “rhythm ‘n’ blues” de batida infernal, no atropelo de “Work Together”, da pop roçando à tangente na tradição, de “Another irish rover” ou em baladas que passam sem deixar marcas, como “Joh”. Pouco, para uma banda com as suas potencialidades, ainda por cima com sentido de humor, como dão a entender em “The Kilfenora sexy jig”. (6)

Lindisfarne – “Buried Treasures, vol. 1 & 2”

pop rock >> quarta-feira >> 02.06.1993


Lindisfarne
Buried Treasures, vol. 1 & 2
CD Virgin, distri. Edisom



Ao contrário do que se vai tornando norma, os Lindisfarne não pretendem com esta colectânea celebrar qualquer aniversário, embora também eles já existam há mais de duas décadas. A recolha destes tesouros enterrados prende-se antes com a descoberta de material das mais diversas origens que os músicos desencantaram nos arquivos da editora, estações de rádio e no baú das velharias. Abrangendo um período que vai de 1971 até à fase actual da banda, “Buried Treasures” inclui sessões para a Radio One, cassetes, um vídeo de uma digressão com Bob Dylan, “demos” variadas, versões alternativas, excertos declamados e todo o género de bugigangas musicais em que os seus autores garantem ter encontrado a verdadeira ess~encia da sua arte. Uma vontade de tudo querer mostrar que não adianta nem atrasa em relação ao que a banda produziu de melhor: os dois primeiros álbuns, “Nicely out of Tune” e “Fog on the Tyne”, nos quais figuaravam deliciosas melodias entre a folk e as histórias de embalar, como “Lady Eleanor” e “Meet me on the corner”. (5)

Donovan – “Donovan O Homem Da Atlântida” (concerto | antevisão)

pop rock >> quarta-feira >> 26.05.1993


DONOVAN o homem da Atlântida



“Atlantis” moeu o juízo a muita gente, da mesma forma que contribuiu para a união de muitos casalinhos nas festas e convívios que ajudaram a ultrapassar os estertores finais dos anos 60. Uma balada meio declamada, meio sussurrada, que foi um dos maiores êxitos de Donovan Leitch, o cantor escocês que começou por ser uma imitação de Bob Dylan e acabou por se tornar no rosto angélico do “flower power” e do psicadelismo.
Era a época das altas ondas do ácido e Donovan embarcou na viagem até à descoberta das “Cosmic Wheels” que fazem girar o universo – um bom álbum precedido de outros, sobretudo o duplo “A Gift from a Flower toa a Garden”, que não ofenderam ninguém e conseguiram mesmo funcionar como massagem aos neurónios, excitados até ao massacre pelas investidas de Hendrix, Joplin, Morrison, Velvet Underground e outros adeptos da “bad trip” com fins criativos.
Canções como “Colours”, “Season of the witch”, “Sunshine superman”, “Mellow Yellow” (onde fazia a apologia das drogas leves, tais como a casca de banana frita), “Jennifer Juniper” e “Hurdy gurdy man”, pelo contrário, navegavam pelos oceanos sem “speed” do submarino amarelo, onde, aliás, Donovan embarcou, na companhia dos Beatles, até à Índia.
O melhor de Donovan – que poucos conhecem e ninguém refere na sua discografia oficial – encontra-se, porém, no duplo “HMS Donovan”, (apareceu incluído numa antologia em caixa de quatro álbuns, juntamente com “Cosmic Wheels” e um registo com a banda Open Road), uma fantasia centrada nas personagens de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll.
Quando nada o faria prever, os anos 90 têm-se mostrado favoráveis ao regresso do trovador. Os Happy Mondays gravaram uma versão de “Hurdy Gurgy Man” e incluíram o tema “Donovan”, em sua homenagem, no álbum “Pills ‘n’ Thrills and Bellyaches”. Será que o mundo já está preparado para o ressurgimento do continente da Atlântida? Ou, pura e simplesmente, enlouqueceu?
DIA 16, TEATRO S. LUIZ, 22H00