Pop Rock
12 Fevereiro 1997
poprock
Vários
Breaking the Waves – OST
POLLYANNA, DISTRI. MCA

Os anos 70, outra vez. No filme, parece que admirável (ainda não o vimos), de Lars von Trier, em português “Ondas de Paixão”, a banda sonora recupera os lugares-comuns mais estafados da música desta década. É sabido que a pior canção do mundo pode soar esplendorosa no contexto de um filme. Será o caso. A seco, nem tanto… valoriza-se o lado “glam” e “camp” dos anos 70, dois termos conotados com o aparato sonoro e visual da comunidade “gay”, ou de artistas que se apropriaram da sua iconografia. Estão neste caso os T. Rex, de Marc Bolan, com “Hot love”, Python Lee Jackson (pertenceu aos The Nice) e Rod Stewart, com “In a broken dream”, os Roxy Music, com “Virginia plain”, “He’s gonna step on you again”, de John Kongos, “All the way from Memphis”, dos Mott the Hoople e “Goodbye yellow brick road”. Ficaram de fora do disco, entre outras, “Life on Mars”, de David Bowie e “Your song” de Elton John, bem como “I did what I did for Maria”, de Tony Christie. Recupera-se, por outro lado, o progressivo, facção rock sinfónico, com “Whiter shade of pale”, dos Procol Harum, a balada “hard rock”, com “Child in time”, dos Deep Purple, e “Whisky in the jar”, dos Thin Lizzy. Há ainda “Suzanne”, de Leonard Cohen, e “Cross eyed Mary”, dos Jethro Tull. Tudo temas que alcançaram êxito na época, representativos do seu lado mais “kitsch”. Há quem veja nela a sacralização do banal, como se esta colagem entre o anacronismo dos sons e a poesia das imagens desencadeasse um fenómeno de magia em que uma luz sobrenatural viesse dar um novo sentido, tanto à inanidade das músicas como ao milagre (a vários níveis) do argumento. Não por acaso, o último excerto musical é a “Siciliana” de Bach. (6)