Y 13|JULHO|2001
escolhas|ao vivo
É o primeiro festival realizado em Portugal de música progressiva. Chegou, talvez, um pouco tarde. Com 30 anos de atraso, mais ano, menos ano. Mas como mais vale tarde do que nunca e o género, contra todas as expetativas e mortes anunciadas, resistiu todo este tempo, os fanáticos do prog. têm motivos para se regozijar.
O termo “progressivo”, generalizado a partir de 1969/1970 e esteticamente relevante até 1974, desapareceu do mapa, ou melhor dizendo, das capas das publicações musicais, em 1976, com a emergência do punk, para ressurgir no final dessa década sob a nova designação, “art rock”, através de bandas como Art Bears, Univers Zero, Art Zoyd, Etron Fou Leloublan, Conventum ou Aksak Maboul. Progressivos menos românticos e mais pragmáticos para quem o rock significava, como para os seus antepassados, espírito de aventura e descoberta, mas já contaminado por outras linguagens como a música industrial, a música de câmara, concreta, a étnica, o jazz, o minimalismo, etc.
Os Birdsongs of the Mesozoic (na foto), principal banda em cartaz do “Guimarães Art Rock”, pertencem a essa geração que a editora Recommended então albergou nas suas fileiras, reivindicando para elas o estatuto de vanguarda do novo rock, nos antípodas dos “sinfónicos” tardios, como Boston, Rush ou Kansas, e dos bem intencionados, mas quase sempre indigentes, “Neo progs”, liderados pelos genesisianos Marillion. Movimento que nos EUA, além dos Birdsongs, tinha em bandas como The Muffins, However ou Happy The Man outros dos seus protagonistas.
Formados em 1980 por dois antigos membros dos Mission of Burma, entre os quais o pianista “louco” Roger Miller, o teclista Erik Lindgren e o teclista e percussionista Rick Scott, os Birdsongs of the Mesozoic, persistentemente ligados ao seu logotipo representando um pterodáctilo (réptil voador pré-histórico, do período Mesozoico), passaram por várias formações até chegarem à que tocará esta noite em Guimarães, com Erik Lindgren (teclados), Ken Field (saxofone, teclados), Michael Bierylo (guitarras) e Rick Scott (teclados e percussão).
O som do grupo é explosivo, combinando os teclados eletrónicos e o piano de Lindgren com o fraseado abrasivo do sax de Ken Field. Rock, sem dúvida, ligado ao mesmo dínamo de energia atómica de que se alimentavam os Van Der Graaf Generator e os franceses Magma. A discografia do grupo inclui “Sonic Geology” (1988), recolhendo material anterior disperso por EPs, os indispensáveis “Faultline” (1989) e “Pyroclastics” (1992), “Dancing on A’AA” (1995, mais barroco e trabalhado a pensar nos seus parentes do “chamber rock”…), todos com selo Cuneiform e importação nacional, e o mais recente, “Petrophonics”, editado no ano passado.
Os portugueses Forgotten Suns são a segunda banda a atuar hoje no “Guimarães Art Rock”. A designação indicia mais uma filiação nos Genesis (não o eram também os Tantra, da primeira geração do Progressivo português?), mas parece que alguma crítica estrangeira recebeu com algum entusiasmo o álbum de estreia deste grupo composto por Linx (voz), João Tiago (baixo), Ricardo Falcão (guitarra), Miguel Valadares (teclados) e Nelson Caetano (bateria).
Amanhã, o “Guimarães Art Rock” propõe os Pain Salvation e The Flower Kings, ambos da Suécia, e os portugueses The Symphonix. Pain Salvation – o “pain” não engana – praticam uma variante progressiva de heavy-metal. Têm um novo álbum, “The Perfect Element”. Já os The Flower Kings, cujo álbum do ano passado tem por título “Space Revolver”, chegam aureolados com referências aos Yes, Genesis, Emerson, Lake & Palmer e King Crimson. Revisionistas ou não, a ver vamos. Quanto aos The Symphonix, já com 10 anos de vida, também não enganam. O rock sinfónico, revisto à luz das velhas bandas clássicas dos anos 70, é a quinta onde vivem. Já gravaram um CD e os EPs “PsicoFantasia” e “Utopia”. Nas suas apresentações ao vivo costumam ser bastante teatrais.
FESTIVAL GUIMARÃES ART ROCK
hoje: Forgotten Suns, Birdsongs of the Mesozoic
amanhã: The Symphonix, Pain of Salvation, The Flower Kings
Guimarães, campus da Universidade do Minho
Às 21h. Entrada livre.