POP ROCK
26 Março 1997
poprock
Gabriel Yared
The English Patient
POLYDOR, DISTRI. POLYGRAM

A música de filmes, na maior parte dos casos, é feita não para pessoas que gostam de música, mas para pessoas que gostam de música de filmes. Não se trata de um jogo de palavras e as exceções só confirmam a regra. Quem não viu o filme fica a chuchar no dedo diante de pastelões de todo o tamanho que, no contexto das imagens, até podem funcionar. Quem viu ouve para sonhar. Ou, segundo o “efeito Kodak”, para mais tarde recordar. A tarefa de encher de sons “The English Patient”, candidato maior aos óscares deste ano, foi entregue a um perito, Gabriel Yared, alguém que antes de se especializar nesse campo compôs um interessantíssimo álbum de música eletrónica para uma coregrafia, “Shamrock”. Não é o caso desta sensaboria, previsivelmente classicista ou classicizante, ideal para quem quer levar para casa a estatueta. Há traços de romantismo, um tom invariavelmente solene e três temas tradicionais na voz de Márta Sebestyen, um deles com os Muszikas, que valem por todo o disco, incluindo o minuto de “Én csak azt csodálom” que aparece no recente “best of” desta cantora húngara. Há ainda pedaços de “standards” a intrometerem-se na partitura de Yared: “Cheek to cheek” de Irving Berlin, em duas versões, uma na voz de Fred Astaire, outra por Ella Fitzgerald, “Wang wang blues” e “One o’clock jump”, por um dos reis do “swing”, Benny Goodman, “Where or when”, pela Shepherd’s Hotel Jazz Orchestra. Julie Steinberg interpreta ao piano (o piano, ah, o piano…) uma ária das “Variações de Goldberg” de Bach. Momentos de vidas antigas, mas vida, de qualquer modo, recortados do painel de emproamentos pintado por Yared. (4)