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Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #174 – “‘Re.Kevin Ayers, David Bedford”

#174 – “‘Re.Kevin Ayers, David Bedford”

Re:Kevin Ayers/David Bedford
Fernando Magalhães
Tue May 22 14:49:56 2001

Vamos por partes.
O KEVIN AYERS é um nome incontornável da POP dos anos 70 (prosseguiu, mais fraco, pelos 80, e “ressuscitou” nos 90, com nova dose de criatividade…), na variante Canterbury mais excêntrica e personalizada.
Acho que vais adorar a sua música tanto, ou mais, que a do Syd Barrett… 
Duas obras primas, os dois primeiros álbuns a solo: “Joy of a Toy” e, sobretudo, “Shooting at the World”, de KEVIN AYERS & THE WHOLE WORLD, este um dos melhores álbuns dos anos 70!!!! Estão lá o David Bedford, o Mike Oldfield em período ácido alucinado (!!!! O sei solo de guitarra em “Lunatic’s lament” é qualquer coisa de psicótico e abrasivo), o Mike Ratledgge (dos Soft Machine…
Canções de um surrealismo total alternam com divagações experimentais de cortar a respiração, tirando partido, com as armas do psicadelismo, de todos os efeitos que o estúdio podia então oferecer. Depois, a voz tenor, semi alcoolizada, de Ayers, faz o resto. (10/10)

“Joy of a Toy” (9/10) é uma colecção de canções de uma excentricidade sem limites. Música havaiana + Lewis Carroll + rock infernal + paragens, mudanças, acelerações do cérebro e da estrutura rítmica e melódica, enfim, uma viagem por um parque de diversões com todas as atracções criadas sob o efeito de LSD.

Imprescindível é também “The Confessions of Dr. Dream” (8,5/10), sobretudo pelo 2º lado, uma longa suite de terror/humor com a participação, num duet vocal com Ayers, da cantora alemã NICO (sim, a mesma dos Velvet Underground, já falecida…).

“Whatevershebringswesing” e “Bananamour” (ambos 8/10) são mais “normais, com o Kevin Ayers já rendido ao sol do Sul de Espanha, ao champagne e a “dolce vita”…

Mas há mais…

Já agora, vale a pena escutar os dois primeiros álbuns – de pop psicadélica – dos SOFT MACHINE, ainda com kevin Ayers: “Soft Machine” (68) e “Volume 2” (69). O segundo outra obra-prima (10/10) – pop, jazz, electrónica sem sintetizadores, ideias em catadupa, enfim, um clássico!

Quanto ao DAVID BEDFORD, é preciso ter mais cuidado. Os álbuns que gravou não têm nada de comum entre si. “Star’s End” (para aí à venda a preço reduzido”) é música clássica quase pura. (6,5/10)

“Nurses’ Song with Elephants” é experimental de forma radical e no sentido mais estrito do termo. Faixas só com coros infantis, explorações tímbricas, formatos orquestrais bizarros… (7/10)

“The Odyssey” (6,5/10) – orquestral, electrónico e… muito new age.

“Instructions for Angels” (6/10) – Electrónica + música progressiva. Curioso mas demasiado “bonitinho”.

O melhor, na minha opinião, é mesmo “The Rime of the Ancient Mariner” (que consegui adquirir também em “nice price”, na extinta Virgin…) – viagem obscura, com um narrador, pelos sons (electrónica paisagística, coros grandiosos, episódios abstractos, piano de cristal, a guitarra de M. Oldfield fascinada pela estranheza dos ambientes…) que evoca, em termos literários, o “Arthur Gordom Pym” de Edgar Allan Poe. 8/10.

FM
Um bocado sintético demais, pois muito mais há para dizer sobre estes dois artistas… mas é que tenho já a seguir uma entrevista com o Jan St. Werner, dos Mouse on Mars…