18 de Fevereiro 2000
Artgrafsiteband despertam os sentidos
Batatas digitais
Tribalismo, teatro e tecnologia compõem o universo performativo dos Artgrafsiteband, “uma metáfora ao desaparecimento gradual dos recursos naturais”, como os próprios se definem.
Ao vivo, os Artgrafsiteband apresentam um ritual de luz, som e imagem que, em espectáculos de maior dimensão, pode incluir bailarinos e bailarinas seminus pintados com tinta fluorescente, projecção de “slides”, manipulação de fogo e, como já aconteceu em diversas ocasiões, o grupo de gaita-de-foles de Paulo Marinho, dos Sétima Legião. Junte-se a todo este aparato um theremin, um didjeridu, percussões tradicionais e industriais (bidões, bateria recnstruída), samples, programações várias e uma “groovebox” e teremos uma ideia do que se pode esperar de uma “performance” deste quarteto formado por Nuno Paulino, Miguel Barriga, Gonçalo Marques, José Baietas e Gonçalo Azul. Ou, como eles gostam de ser chamados, Artix, Voatrix, Turang, Zzefile e Saturnosun.
Chegaram ao PÚBLICO armados, entre outros símbolos e artefactos da decadência da civilização ocidental, com um computador alimentado a batatas.
Nuno Paulino, mentor do grupo, “aquele que desafiou os outros para fazer coisas”, explicou-nos a génese do grupo, há cerca de dois anos: “Estava a organizar uma feira multiartes e ia pela rua sozinho a pensar no que poderia acontecer, se faltasse uma banda. Achei que seria giro ter um grupo de baile para animar… Encontrei o Gonçalo Marques numa paragem, também sozinho, a tocar gaita-de-foles. Comecei a falar com ele e foi daí que tudo surgiu, em conjunto com o interesse em usar ‘slides’ e um lado visual.”
Esta componente visual é inseparável da proposta estética dos Artgrafsiteband, o que não espanta, atendendo a que Nuno Paulino é gráfico de profissão.
Começaram a tocar sobre as imagens dos “slides”, a construir fraseados musicais até evoluírem para um esquema global onde se confundem algumas coordenadas de grupos como os La Fura Dels Baús e Einstürzende Neubauten.
Subjacente ao espectáculo está um conceito que Nuno Paulino define como “um alerta para a degradação dos recursos naturais”. Fizeram um vídeo ambientalista, “quase metafísico”, sobre a “evolução do homem”, desde a “descoberta do fogo” até à “actualidade, onde se vêem guerras todos os dias”.
Sincronizar o som e a imagem foi o passo seguinte, até se chegar nas apresentações ao vivo a algo mais alargado, com a inclusão de algumas amigas da Escola Superior de Teatro que dançam com o corpo pintado ou envergando estranhos acessórios tribais em desempenhos ritualísticos.
No mínimo intrigantes – “as pessoas perguntam se o nome do grupo é em alemão…” –, os Artgrafsiteband estão prontos para espantar os palcos nacionais, como fizeram já em espectáculos apresentados o ano passado na FIL, no Parque das Nações, em Lisboa, ou nas Festas de Loures, onde conseguiram chocar as pessoas.
Nuno Paulino entusiasma-se ao pensar em novos truques de sonoplastia, como apertar um saco de batatas fritas para imitar o som do fogo, ou abanar uma radiografia para simular o som do vento. Assistir a um espectáculo dos Artgrafsiteband põe os cinco sentidos em estado de alerta.