GNR – “Tudo o que Você Queria Ouvir”

POP ROCK

29 de Maio de 1996

portugueses

GNR
Tudo o que Você Queria Ouvir (8)

2XCD, ED. EMI – V.C.


gnr

Já não era sem tempo! Valeu a pena esperar! Finalmente, tudo o que queríamos ouvir mas não ousávamos perguntar, muito menos pedir, dos GNR, encontra-se disponível nesta compilação-maravilha. Agora a sério: o grupo de Rui Reininho já merecia uma antologia deste tipo, até porque tarda um álbum de originais. Mas há originais em “Tudo o que…”! E remisturas das canções que todos nós amamos, por Marsten Bailey, a partir das bobines originais de 24 pistas, o que confere um som mais do que apetitoso ao que julgávamos enterrado nos arquivos para sempre. As excepções são os primeiros “hits” da banda, ainda com Vítor Rua, “Portugal na CEE”, “Sê um GNR” e “Espelho Meu”, que foram remasterizados, também neste caso com a qualidade de som a melhorar de forma dramática.
Depois, miam miam, aparecem 14 temas nunca antes editados em CD, entre “singles” e “maxis”, como “TV mural”, “Sê um GNR” ou “Twistarte”. Os inéditos são “Julieta su & sida” (título ao nível dos melhores do grupo) e “Pena de morte”. O primeiro é a resposta, no feminino e nos anos 90, ao “Chico fininho” de Rui Veloso. Bastante mais inteligente e a jogar com a ambiguidade das palavras da maneira como só Reininho é capaz. No segundo, o Bryan Ferry português desacelera para ambientes soturnos e para o sobrerealismo da era espacial.
Banda desavergonhadamente pop, depois de ter sido desavergonhadamente experimental, em “Independança”, os GNR cantam com uma candura perversa alguns dos temas tabu da sociedade portuguesa, como a droga, a religião ou a homossexualidade. Se as acusações que recaíram sobre o grupo, por causa de “Sob Escuta”, incidiam em geral na superficialidade das letras e de um som que, segundo se disse, parecia dirigir-se em exclusivo aos prazeres sem culpa de adolescentes imberbes (porque será que a palavra “adolescentes” surge sempre associada ao adjectivo “imberbes”?), esta colectânea prova que, pelo contrário, os GNR sempre se dirigiram, em primeiro lugar, aos adolescentes imberbes. Ao lado de adolescentes imberbes que existem em cada um de nós. E neles. Há lá hino que faça mais sentido do que aquele que diz “mais vale nunca mais crescer”? Os GNR são a fonte da eterna juventude sobre as dunas. Mesmo com barbas brancas e reumático. É pecado passar a vida a brincar? Reparem bem, há ou não algo de assustador no sorriso de Rui Reininho? Devemos acreditar na bondade de um GNR?



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