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Mais Música Portuguesa: Bocas, Baterias, Poetas e Celsianices

21.11.1997
Mais Música Portuguesa
Bocas, Baterias, Poetas e Celsianices
Quatro novos discos de música portuguesa, representativos de áreas exteriores ao “mainstream”, estão a partir de agora disponíveis no mercado nacional: “Entre Nós e as Palavras”, de Os Poetas, pela Sony Music, “Diálogos de Bateria”, dos Tim Tim por Tim Tum e “Bocas do Inferno”, dos Gaiteiros de Lisboa, ambos na Farol, e “Celsianices”, de Celso Carvalho, em edição de autor.

De “Entre Nós e as Palavras” já se falou e escreveu muito ultimamente. É o disco de Os Poetas – Rodrigo Leão, Gabriel Gomes, Francisco Ribeiro e Margarida Araújo – onde é feita a ligação da música com a palavra poética de Mário Cesariny de Vasconcelos, Luiza Neto Jorge, Herberto Helder, Al Berto e António Franco Alexandre. Resta acrescentar que a apresentação é belíssima.
Os Tim Tim por Tim Tum são um grupo de percussões (ou será mais correcto dizer de baterias?) formado por José Salgueiro (bateria e percussões), Acácio Saleiro (bateria), Alexandre Frazão (bateria) e Marco Franco (multinstrumentista), neste seu primeiro álbum com a colaboração dos convidados Jim Black (bateria e percussões) e Julinho da Concertina (concertina). “Diálogos de Bateria” reúne seis temas gravados no Auditório do Centro Cultural da Malaposta e no Régie Estúdio, incluindo um solo de bateria de Jim Black (“Jim solo”), uma recriação de sonoridades populares (“Pop larucho”) e um tema com dedicatória a Max Roach (“Max Roach”). Os outros três são “Jim Tónico”, “Aqui há latas” e “Sax e vassouras”. O CD contém ainda uma faixa em CD-ROM com aplicação interactiva para PC/compatível.
“Bocas do Inferno” é o há muito aguardado segundo álbum dos Gaiteiros de Lisboa – Carlos Guerreiro, José Manuel David, José Salgueiro, Paulo Marinho, Pedro Casaes e Rui Vaz – depois da pedrada do charco que constituiu o seu disco de estreia, “Invasões Bárbaras”.
De um total de catorze temas, seis são populares (“Leva leva”, “Segadinhas”, “Por Riba se ceifa o pão”, “Milho grosso”, “Folia do espírito” e “Nós daqui e vós dali”), um leva a assinatura do compositor norte-americano John Philip Sousa (“Wash Post”), sendo os restantes sete da autoria dos elementos do grupo Carlos Guerreiro (“Triângulo Mângulo”, “Ciao Xau Macau”, com letra de Sérgio Godinho, “Condessa” e “Chula Gaiteira”) e José Manuel David (“Agora que eu vou cantar”, “Trompa da Moda” e “Cromórnia”).
Comparando com o álbuma antrior, o instrumentário dos Gaiteiros, em “Bocas do Inferno”, aumentou consideravelmente, mantendo embora a exclusividade dos sopros, percussões e cordas percutidas que são timbre do grupo. Por ordem aleatória e seguindo a ficha técnica: Bombo, timbalão, maracas, prato, trompete, gaita-de-foles galega, búzio, sanfona, clarinete acabaçado, cromorna, caixa de rufo, filiscorne, ocarina, sino sintetizado, tambor de cordas, marimbas, shawm chinês, gongo, tambor chinês, idiofone indiano, mum-mum, flauta de Pã, “ciaramella” corsa, idiofone de lâminas, choca, pandeireta, caixa chinesa, “svina dragão” e gaita-de-foles de Trás-Os-Montes. No capítulo dos também já característicos instrumentos inventados pelos próprios Gaiteiros temos o orgaz, o cabeçadecompressorofrone, o espátulofone e a serafina. Todos com direito a muitas e detalhadas gravuras. Ah sim, e um saco de plástico, um tubo estriado com búzio e um balde de gelo chinês. Também há convidados: Vozes da Rádio, Jerôme Casalonga, Cajó, Anabela Assis, Manuel Paulo e Tiago Lopes.
Diferente será ainda o primeiro álbum a solo gravado por Celso de Carvalho, antigo elemento da primeira banda portuguesa de “free music”, os Plexus, e da Banda do Casaco.
“Celsianices” foi composto, tocado, arranjado, produzido e editado pelo próprio, em teclados vários, nomeadamente sintetizadores e “samplers”. É anova faceta de Celso de Carvalho que naquelas duas formações se notabilizou a tocar várias modalidades de baixo, violoncelo e vibrafone.

Tim Tim Por Tim Tum – Diálogos De Bateria

28.11.1997
Tim Tim Por Tim Tum
Diálogos De Bateria (7)
Ed. e distri. Farol

Há uns meses assistimos a um concerto dos Tim Tim por Tim Tum no qual a faceta performativa do grupo chegava a ofuscar a vertente estritamente musical. O disco de estreia do colectivo de José Salgueiro, Acácio Saleiro, Alexandre Frazão e Marco Franco elimina o primeiro daqueles dois aspectos, revelando-se a música do grupo dentro de uma estética ssumidamente jazzística. Ao contrário dos = Ó Que Som Tem, grupo de percussões em que, acima de tudo, é trabalhado o som colectivo, os Tim Tim Por Tim Tum privilegiam a individualidade e idiossincrasias da cada músico, numa perspectiva de solistas. Os O Ó Que Som Tem preocupam-se com o padrão rítmico e tímbrico dos instrumentos de percussões, criando atmosferas de transe, enquanto os Tim Tim concentram a atenção na continuidade do discurso, em solos ou em diálogos de bateria de onde se destacam as contribuições das respectivas partes. O único tema em que se impõe uma trama minimalista e textural do som percutivo é “Aqui Há Latas”, já que nos restantes de torna notório um carácter narrativo com centro no “jazz”, como acontece em “Jim Tónico”, colorido pelo saxofone (simultaneamente livre e integrado) de Marco Franco, no longo solo de bateria do convidado Jim Black, “Jim Solo”, ou no ainda mais extenso “Max Roach”, dedicado ao mestre com este nome. A curiosidade que é “Pop larucho”, em torno de uma base rítmica popular (que em portugal, como sabemos, não permite oos muito rasgados…), e a brincadeira final de “Sax e Vassouras” não acrescentam muito aos enunciados principais dos Tim Tim por Tim Tum, que pecarão, por agora, talvez apenas pela falta de ousadia, em contraste aliás com a sua psotura em palco.

Tim Tim Por Tim Tum Na Sua Estreia Discográfica

05.12.1997
Tim Tim Por Tim Tum Na Sua Estreia Discográfica
Homens Com O Centro Na Bateria

“Diálogo de Baterias” é o álbum de estreia dos Tim Tim por Tim tum, quarteto de bateristas formado por José Salgueiro, Acácio Salero, Alexandre Frazão e Marco Franco. Quem assistiu ao seu concerto realizado na Primavera passada no CCB terá reparado na forte componente cénica e lúdica do grupo, algo impossível de passar para uma gravação. A questão foi contornada com o recurso a uma faixa interactiva em CD-ROM para PC-Windows que inclui imagens de actuações ao vivo do grupo, Às quais se acede através de uma espécie de jogo.
A oportunidade para a gravação do disco surgiu na altura em que se encontrava em Portugal o baterista norte-americano Jim Black – acompanhante habitual do contrabaixista português Carlos Bica e músico de créditos firmados na cena jazzística internacional -, convidado para um “workshop” com os bateristas dos Tim Tim. Foram juntos para o teatro da Malaposta, onde estiveram dois dias a trabalhar. “Senti que havia ali uma forma espontânea do que estava a acontecer e pedi os meios para gravar”, explica José Salgueiro, principal força impulsionadora deste projecto único em Portugal. “gravou-se como se grava um disco de ‘jazz’, um disco de ‘takes’, tocado em tempo real com o técnico de som junto a nós, com a mesa e os gravadores na borda do palco. Criámos um ambiente, carregámos no “rec” [“record”, gravar] e estava a andar.”
Disco de bateristas, por oposição a um disco de percussionistas, “Diálogos de Bateria” constrói-se a partir de um respeito mútuo entre todos os músicos participantes e da sua capacidade para se “ouvirem uns aos outros”. “Não tentamos sacar malhas uns aos outros”, garante José Salgueiro, para quem “Tim Tim por Tim Tum é igual a comunicar”. Representou ainda a possibilidade de explorar um instrumento, a bateria, do qual andara arredado nos últimos tempos. “Sempre fui baterista, toquei bateria nos Trovante durante oito anos. Depois, quando o grupo acabou, houve uma altura em que comecei a ser requisitado como percussionista. De repente dei por mim sem trabalho na bateria”, diz José Salgueiro, baterista de gema mas que nos últimos anos se tem notabilizado como percussionista em grupos como os O Ó Que Som Tem, de Rui Júnior, que abandonou recentemente, ou nos Gaiteiros de Lisboa.
“Diálogo de Baterias” tem sabor a “jazz”. Alimentado pela improvisação. Um dos temas, “um verdadeiro diálogo de baterias, sobre um ritmo típico do Max Roach”, é dedicado a este baterista, uma das lendas vivas do jazz que, de certa forma, foi também responsável pela génese do grupo. “Fiz um ‘workshop’ com ele e o seu grupo, só de percussionistas, os M’Boum, em Barcelona. Foi um estalo. a experiência repetiu-se em Portugal, na Gulbenkian, desta feita sem o grupo, e foi aqui que se decidiu fazer a coisa com músicos portugueses. O Max Roach falou connosco e pôs-nos a tocar, dando-nos pistas musicais, mais do que ensinando-nos pormenores técnicos. Os Tim Tim germinaram nessa altura na minha cabeça.”
No horizonte do grupo perfila-se a hipótese de realização de uma série de espectáculos no estrangeiro. “Há imenso espaço para os Tim tim”, diz José Salgueiro. “Para já, começámos a trabalhar com a companhia de dança do Paulo Ribeiro, na mesma peça de percussões com as mãos e o corpo que fizemos no CCB, só que agora também dançamos, eu e o Marco Franco.” Além disso, já existem contactos no Brasil, Bélgica e talvez nos Estados Unidos.
Neste momento, além dos Tim Tim por Tim Tum, José Salgueiro reparte a sua actividade pelos Gaiteiros de Lisboa, pelo projecto “Suite da Terra”, com Carlos Barreto e Mário Delgado, uma tentativa de recriação original da música tradicional, “com linguagem de improvisação”, que sairá proximamente em disco, e pelo quarteto de João Paulo Esteves da Silva, com o qual irá também gravar em breve. Quando chegar a Expo-98, José Salgueiro terá em mãos espectáculos com os Tim Tim, com os Gaiteiros e com João Paulo Esteves da Silva, além de um outro girando em torno do adufe. “É um instrumento sobre o qual, curiosamente, não percebo muito. Vou ter que pesquisar para fazer um espectáculo de percussão em que o adufe seja a estrela.” “Já tenho uma agenda nova e ando a ver se consigo conciliar estas coisas”, desabafa com satisfação José Salgueiro, um músico para quem o ritmo é uma paixão.