Sacerdotes de Alquimia
Sacerdotes de Alquimia
ED. E DISTRI. NUMÉRICA
V Império, Sacerdotes de Alquimia. Os novos grupos portugueses não fazem a coisa por menos. Por sinal, os Sacerdotes até têm um tema chamado “Quinto Império”, com texto de Fernando Pessoa e tudo. E outro, “Quinto mar”. E outro, “Saudade”. Até o fotógrafo da capa se chama João Portugal, bolas! É, sem dúvida, uma perspectiva original e nunca antes navegada, perdão, apresentada, pela música portuguesa. Portugal andava a precisar disto, de quem lhe avivasse os mitos e espicaçasse o orgulho. Os Sacerdotes de Alquimia, transmutados no meio académico de Coimbra a partir da matéria-prima do grupo Essa Agora, fazem-no no esplendor do seu rock sinfónico de Sociedade Recreativa, partindo, logo no primeiro tema, por uma “Aventura” de fazer corar de vergonha os Brilhantes do Ritmo + 1. “Escaravelhos” tem uma flauta a fingir o Peter Gabriel dos Genesis mais antigos. “Viagem” fala do “vento lusitano” que é “este sopro humano universal que enfuna a inquietação de Portugal”. “Enfuna” é bonito. Temos país, temos flauta, temos um sintetizador à Camel, temos neo-progs. Tantra, voltem, por favor. Agora a sério, não é qualquer um que sabe combinar o enxofre e o mercúrio no Atanor da imaginação. Os Sacristãos, hã, Sacerdotes de Alquimia mostram, para já, um som “mainstream” e um pretensiosismo de conceitos sem correspondência na música. O termo “progressivo” não tem nada a ver com eles. (3)
11.07.1997
Polémica / Opinião
Na edição de 14 de Maio último, no suplemento PopRock, Fernando Magalhães fez a crítica (desancou) do álbum de estreia dos Sacerdotes da Alquimia. António Duarte Bento não gostou.
Sacerdotes de Alquimia
(Contra-Crítica a Fernando Magalhães)
O Sebastianismo cristalizou-se de tal modo nas mentes dos críticos de arte portugueses que, sempre que lhes escrevem poemas ou lhes cantam canções a falar de Portugal, ficam de cara crispada e alma sombria, e vá de zurzir sobre os pobres de espírito que ousam falar da mãe e do pai portugueses. Nunca falando estes críticos de D. Sebastião, o sofrimento que lhes é afligido quando deste alguém fala compara-se ao terror primário perante qualquer coisa tabu. Estes críticos são órfãos primitivos, daqueles que, perante o mediático deslumbramento dos pais dos outros, não toleram que lhes seja lembrada a paternidade. Com um “locus” de controlo externo anglófilo, só toleram palavras como “states”, “américa”, “england”, ou então, mimetizando simiamente os américas, qualquer arte exotêstica porque é “cool”.
Sinfonismos e palavras como Portugal, o mar, marinheiros, universalismo português e ingenuinismos lusos (estes, a base de um autêntico pensamento revolucionário planetário) são, para eles, coisas de almocreves e bardos nescientes. Curiosamente, se estes críticos emigrassem e se fixassem nos tais “States” ou noutro país gato-por-lebremente dito desenvolvido, fariam grandes festivais de música pátria, a ouvir bacalhau quer alho, pois é o melhor tempero para a sua saudade. Estes críticos são daqueles que, como diz o povo, confundem o cu com as calças. Nunca leram António Quadros e, se o folhearam, sofreram de náusea primitiva de saudade. Só leram Fernando Pessoa depois de os américas o terem autorizado, e assim lhes terem prescrito os comprimidos antieméticos. Compreende-se.
O sacristão Fernando Magalhães, apesar de pertencer à mesma igreja, não tem nada que ver com o sacerdote Fernão de Magalhães, que deu nome ao estreito. E porque esta banda não é do Norte, o primeiro não seria sequer capaz de ajudar à missa do segundo. Ficaria a carpir “esta banda não é do Norte”, no Restelo. Assim, os Sacerdotes de Alquimia seriam uma banda pentagonal (perfeitamente sintonizada com o Pentágono ou com a “Penthouse” – o que agradaria muito mais, ora bem), ou hexagonal (perfeitamente sintonizada com o 6 da estrela judaica ou embrulhada num qualquer código de barras europeu). Não, os Sacerdotes de Alquimia são uma banda quadrada, e assim seja. Sintonizada com os quatro lados do quadrado, que são também os quatro pontos cardeais, que são também os quatro caminhos do vento, fotógrafos do vento que enfuna (enfuna é bonito, não é?) os cabelos dos quatro cavaleiros do Delírio Final. Sim, é verdade, cheira a PIGS do Sul. Decididamente, este Magalhães é do Norte.
António Duarte Bento
Poeta-cavaleiro da Ordem Lilás da Triste Figura
autor de vários arremessos a moinhos e outros monstros (arremessando por conta própria)
Buarcos-Figueira da Foz
Contra-contra-crítica a António Duarte Bento
Enfunemos então. Como todo o aspirante e adepto da verdadeira Tradição sabe, a Ordem Lilás da Triste Figura é uma farsa, uma sitazita sem dimensão proscrita pela Ordem-Mãe, a Yrmandade dos Mestres Comedores de Abóbora, invocada em surdina nos meios iniciáticos, como Y.M.C.A O que retira, de imediato, qualquer autoridade ao cavaleiro Bento para mencionar, sequer, o baluarte da espiritualidade lusa que é a P.I.G.S. (Pátria Imaculada dos Grandes Sábios) que o Bento Lilás lamentavelmente confunde com o PIGS (Portugal infestado de gente suja). Por estas e por outras é que muitos perdem o norte, na defesa daqueles que, arvorando-se em alquimistas, não passam de vulgares sopradores.
Fernando Magalhães (monstro)