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Danças Ocultas – Ar

10.07.1998
Portugueses
Danças Ocultas
Ar (7)
Ed. e distri. EMI – VC

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“Ar” também não faria má figura na editora de Manfred Eicher, a ECM. Como no álbum de José Peixoto há espaços amplos e profundidade de campo. Em ambos está presente o espírito da paz.
A música das concertinas de Àgueda dirigidas por Arutr Fernandes respira mais ar do que no anterior álbum de estreia do grupo. Podia ser mais um disco para arrumar na prateleira “Instrumentos”. Mas não é. Até porque desarruma a prateleira dos nossos hábitos. Está certo, o tema de abertura é uma homenagem a Piazzolla mas estas danças estão longe de se reduzirem ao tango. Respiram com outra suavidade, no alto de uma montanha, onde o ar é rarefeito. Os Madredeus sonham num “bateau-mouche” no Sena. Philippe Genty poderia pegar no fôlego elegante destas danças para com ele embelezar uma das suas encenações mágicas. Música popular de câmara, experimentação emocional e conceptual, diálogo de sensibilidades, tudo isto paira no “Ar” das Danças Ocultas. Sem esquecer um ar de romaria, sem perder de vista as origens populares do instrumento. Ou será que se perdeu aqui o tom picante, as cores dos balões e o estrépito dos foguetes? O baile que Artur Fernandes comanda, fazendo os foles avançarem para terras desconhecidas mas estranhamente próximas de nós, é outro. Um baile de memórias esquecidas que dançam como fantasmas até de novo se reencontrarem num mundo novo. No alto da tal montanha, onde a pressão é menor e a música se faz ouvir melhor. Onde tudo soa como se fosse transparente.