Pop Rock
22 ABRIL 1992
Duplex Longa
Forças Ocultas
CD, MTM, distri. El Tatu
Tivessem os Duplex Longa, um duo constituído por Mário Resende, violino, flauta, electrónica, e Carlos Raimundo, baixo, electrónica, cortado alguns temas e uma mão cheia de segundos a estas forças ocultas, ou seja, tivessem sido mais Duplex e menos Longa, e estaríamos em presença de um grande disco de música feita em Portugal. Em vez disso, o duo optou pela exibição do catálogo, já um pouco estafado, do pós-modernismo, com todo o seu cortejo de tiques e truques.
As influências musicais são múltiplas, algumas óbvias. Nos temas confinados ao formato violino/baixo/caixa-de-ritmos é todo o universo estético dos Tuxedomoon e quejandos que assoma sem ocultação possível. “Manitu”, entre a mecanicidade, a improvisação jazzy e o delírio barroco, e “Tuareg”, um “show” autónomo da caixa-de-ritmos, remetem para uma obra como “Colorado Suite” de Blaine Reininger com a Mikel Rouse Broken Consort.
“Primeira viagem” e “Ab origine II” preferem o romantismo kitsch de Stevem Brown. Depois é todo o estendal “étnico”, exótico e “world”, em pinceladas poderosas (“Ab origine I”), em estilo de apontamento (“Pinzacucha”) ou nas divagações perfeitamente dispensáveis de um “Phado” das Arábias, onde não faltam sequer os maneirismos vocais de Anabela Duarte. Há um pastiche espanholado de Michael Nyman em “Chuva, vapor e electricidade” e o melhor de tudo que é “Hardgore” que só por si vale todo o disco – uma sucessão de clímaxes explosivos onde se destrói/reconstrói, segundo a segundo, o “free jazz”, o “hardcore” e o classicismo maricas, numa só penada e a grandes pedaladas do violino de Mário Resende e do sax de Paulo Curado. Uma boa estreia a que faltou mais afinada pontaria. (7)