Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #178 – “Plaid, Autechre, Squarepusher”

#178 – “Plaid, Autechre, Squarepusher”

Plaid, Autechre, Squarepusher
Fernando Magalhães
Wed Jun 13 18:57:22 2001

PLAID: “Double Fugure” – Bastante interessante. O termo “funny electronics” deve ser substituído por “no romantismo” ou “hedonismo electrónico”.
Há elementos dos Isan, B. Fleischmann, o costume, mas os Plaid possuem uma vertente pop (perdão, poplítea…) que lhes confere um encanto adicional.
Pena que as ideias se comecem a esgotar mais ou menos a meio do disco (70 min.).
Tivesse o CD metade da duração e mereceria um 8/10 sem reservas… Assim fico-me pelo 7/10.

AUTECHRE: “Confield”. O discos mais frio e sem alma que ouvi nos últimos tempos. Deixou-me indiferente. Cerebral, sem dúvida, construído como um mecanismo de relojoaria, mas prazer de audição, confesso que não tive. Gostei principalmente da faixa 9, aquela que me pareceu animada de alguma vida… 6,5/10

SQUAREPUSHER: “Go Plastic”. Excelente disco de habilidades, puro número de circo. Squarepusher é um tecnicista do d & b e outras modalidades de dance music, mais ou menos abstractas, mas parece faltar ao disco um fundamento, algo de sólido que não se esgote no mero exibicionismo formal. Bom disco para passar em discotecas elitistas )))). 6,5/10

Kitaro – “Live In America”

Pop-Rock Quarta-Feira, 18.09.1991


KITARO
Live In America
2XLP / CD, Geffen, distri. BMG



Tornado mundialmente conhecido por ter composto a banda sonora da série televisiva documental Silk Road / A Rota Da Seda (registada em vários volumes discográficos), o japonês Kitaro passou a referência obrigatória nos circuitos “new age”, nomeadamente nos Estados Unidos, onde o “stress” citadino é aliado preferencial das editoras deste género de sedativo musical.
Adepto das sonoridades analógicas, Kitaro parece neste disco ter-se rendido por fim ao império dos “samplers”. Discípulo de Vangelis e do compatriota Isao Tomita (especialista na recriação em sintetizadores de peças clássicas), Kitaro viaja aqui por paisagens povoadas por harpas, flautas e regatos digitais, por vezes com resultados que fazem esquecer a proverbial mediocridade e monotonia do género (como em toda a sequência do primeiro lado).
Infelizmente, o resto não está à altura das promessas iniciais, descambando no mais detestável “rock planante”, evocativo de atrocidades como aquelas perpetradas, há anos atrás, pelos Space de má memória. Sinfonismos caducos do piorio, sequenciadores deixados a funcionar enquanto os músicos foram almoçar, pompa balofa sem circunstância, fazem deste duplo uma xaropada irritante. “The Light of spirit”? “Cosmic love”? Se misticismo é isto, regressa camarada Marx, estás perdoado.
*

Vários – “Novo Catálogo BMG” (editora)

Pop-Rock Quarta-Feira, 11.09.1991


NOVO CATÁLOGO BMG

Há um novo canal editorial para a música portuguesa – a multinacional BMG. Esta editora já operava há mais de dois anos entre nós, mas tinha os Delfins como único nome nacional no seu catálogo. Agora, com a entrada de Tozé Brito para a direcção, no capítulo pop/rock, já assinaram pela BMG, os LX-90, Peste & Sida, Piratas do Silêncio, Sitiados e UHF. A festa de apresentação do catálogo foi na semana passada. Ouvimos e fotografámos as seis bandas contratadas e o seu novo patrão, para anteciparmos o que se arrisca a ser um dos mais importantes acontecimentos no panorama da música portuguesa dos anos 90.


UHF



Novo guitarrista “heavy”, novo baixista “thrash”, mas som mais pop em “A Comédia Humana”, o álbum já a sair dos UHF. Ainda e sempre António Manuel Ribeiro

Para António Manuel Ribeiro, líder histórico dos UHF, a vida não tem sido fácil. Uma carreira e atitude ímpares no meio rockeiro nacional nem sempre foram suficientes para proporcionar à banda almadense o tipo de condições de trabalho que há muito justificariam. Ainda há bem pouco tempo, A.M.R. se queixava da promoção e distribuição deficientes da parte da antiga editora. Agora, a inclusão no catálogo nacional da BMG parece abrir para os UHF perspectivas mais risonhas. Com um novo álbum, de genérico “A Comédia Humana”, pronto a sair na última semana deste mês e uma canção, “Brincar com o fogo”, já a passar na rádio, o futuro aponta para um relançamento em força da banda mítica de Almada.
O problema da promoção e distribuição dos discos tem sido, de resto, o principal cavalo de batalha. “Só tínhamos dois caminhos”, assegura A.M.R., “ou abríamos um selo próprio e entregávamos a distribuição, ou então tínhamos um bom contrato e um plano de trabalho.” Questões que, para o vocalista dos UHF, passam sobretudo pela granatia de que “os discos vão chegar ao seu destino”, isto é, aos locais onde as pessoas os possam comprar. Como exemplo das deficiências a que alude aponta o caso recente ocorrido numa digressão dos UHF aos Açores, onde “Noites Negras de Azul” passava por ser o último disco da banda.
Não se deve, pois, pôr o problema em termos de dinheiro – “mais ‘royalties’ menos ‘royalties’, não era isso que estava em causa” -, mas antes em termos de segurança e garantia de um bom trabalho. Há mesmo a promessa, da parte da editora, de procurar “furar” no mercado internacional e impor lá fora os produtos no catálogo. “Isto dá-me uma largueza de trabalho, de vistas de futuro que nunca tive”, declara aliviado António Manuel Ribeiro. “Penso que há cerca de nove anos que não tinha isto, desde que deixei a Valentim de Carvalho.”
Se nos recordarmos dos tempos negros recentes – “tive uma série de angústias porque as promessas que nos tinham sido feitas não estavam a ser cumpridas” -, não deixa de ser curiosa a confiança agora reencontrada, confiança que, segundo A.M.R., passa pelo conhecimento pessoal das pessoas envolvidas na nova equipa e projecto da BMG, escolhidas a dedo segundo um critério de “selecção de valores” e já “com provas dadas”.
Provisoriamente arredados para a gaveta ficam anteriores projectos independentistas – “não foram para agaveta”, garante A.M.R., “abrir um selo em Portugal é sempre um desafio. E é um desafio para mim que sou um teimoso, que acredito nisto”. Longe vão os tempos derrotistas em que perguntava ironicamente a alguém da antiga editora se a música portuguesa “ia acabar”. Pelos vistos, a dos UHF não acabará nunca.
A prova-lo, o novo álbum, nova formação (com o Toninho, na guitarra, proveniente da banda de “heavy” Iberia, e o Nuno Filipe, no baixo, com experiência em várias bandas de “thrash metal”) e uma mudança de estilo tendente a fazer aumentar ainda mais o número de fiéis dos UHF. “A produção é diferente”, sintetiza o vocalista, “é um disco de extremos, com um som mais pop que talvez tivesse começado a aparecer com “Hesitar”, juntamente com algumas canções bastante rudes, à maneira dos UHF.”
Para os novos recrutas, como o Toninho, habituado ao ribombar metálico, a princípio “foi difícil entrar”, já que “o estilo era completamente diferente”. Mas, como faz questão de frisar o Renato Júnior, teclista e saxofonista, a mudança de som detectável no novo álbum passou inevitavelmente pelo aval e pelos arranjos de António Manuel Ribeiro – “é ele que filtra tudo e sintetiza aquela coerência que é a dos UHF”. A.M.R representa, de facto, a firmeza de princípios e a rebeldia típicas do verdadeiro rock. Que sonhos ou ambições fazem correr ainda este veterano para quem o “rock ‘n’ rol” foi a forma que escolheu de estar na vida? “Somos músicos. Não ‘mais ou menos’ músicos, mas músicos mesmo. Vivemos isto intensamente o ano inteiro, a vida inteira.” Histórias que se vão contando na “Comédia Humana”.