Magna Carta – “Heartlands”

pop rock >> quarta-feira, 17.02.1993


Magna Carta
Heartlands
CD Sound Products, distri. Sony Music



Já não há vergonha. A banda que nos anos 70 mais se esforçou por parecer Simon & Garfunkel (Chris Simpson era até uma réplica razoável, em termos físicos, de Art Garfunkel) regressou ao local do crime, isto é, aos discos. A bem dizer, eles nunca deixaram de andar por aí, à espreita de uma nesga, para atacar. A culpa foi dos holandeses. Deram-lhes tempo de rádio e TV e actuações ao vivo. A recepção não terá sido má. Ei-los então de volta para nos embalar com as velhas baladas do tipo “Are you going to Scarboroug fair”, sob o pretexto, dizem, de a música acústica estar de novo na moda. Agora os Magna Carta são Chris Simpson e a mulher, Linda, mais uns quantos ajudantes. Deveriam passar a chamar-se “The Simpsons”. Custa ouvir o estado de degradação de uma banda que, na altura devida, gravou álbuns como “Songs from Wasties Orchard” e, principalmentye, o belíssimo “Seasons”. Ficaram os tiques vocais, a ver se pegam, a senhora Simpson numa imitação grotesca de “Tom’s dinner”, de Suzanne Veja, e uma canção sobre o circo que, tal como é da praxe, inclui chilreios de criança. Tudo muito familiar e a puxar ao sentimento. Bolas! (2)

Jeff Wayne – “Spartacus” + Emerson, Lake & Palmer – “Live At The Royal Albert Hall”

pop rock >> quarta-feira, 17.02.1993


JEFF WAYNE
Spartacus (0)
CD Columbia, distri. Sony Music
EMERSON, LAKE & PALMER
Live At The Royal Albert Hall (0)
CD Victory, distri. Polygram



Como é possível fazerem-se e gravarem-se álbuns deste quilate, em 1993? Dizer que são maus não chega. São atrasos de vida. Cadáveres adiados. “Zombies” sugadores de divisas que se alimentam da estupidez do mundo. “Spartacus” é uma ópera rock, como o era o anterior “War of the Worlds”, do mesmo autor, com tudo o que de pior o género tem: a pompa balofa sem circunstância, o mau gosto absoluto disfarçado por uma produção ao estilo Alan Parsons Project. Até a estética da capa e do livrete interior dá vómitos, fazendo as imagens típicas dos discos de “heavy metal” parecerem obras-primas.
Os vocalistas são abaixo de cão (sem ofensa para os cães), no género épico-histérico-patético-FM. Ao pé deles, Roberto Leal e Clemente são Pavarottis e Carusos. Anthony Hopkins, o actor, perdeu a vergonha e fez um bocado de narração. Os Ladysmith Black Mambazo idem, ao imitarem as vozes do exército de Spartacus. Fish compreende-se que esteja presente. Agora David Sinclair (Caravan, Hatfield and the North)… David, se estavas desabonado, tinhas vindo cá e falavas com a nossa televisão! Temos que ser uns para os outros. Adiante.
Os Emerson, Lake & and Palmer não conseguiram melhor. Incluem-se na mesma linhagem decaída dos que se arrastam em busca da juventude perdida. Parece mentira, mas em 1993 os ELP soam exactamente como em 1970. Tocam as mesmas canções, os mesmos solos, é tudo igual. O que antes podia fazer algum sentido em prol do então nascente rock sinfónico, surge agora regurgitado em papa putrefacta. Cá estão “Knife edge”, excertos de “Tarkus”, “Karnevil 9”, “Lucky Man” (o solo de Moog que fez escola foi trocado por uns zumbidos de aparelhos mais siofisticados) e até relíquias dos Nice (grupo de Keith Emerson, anterior à formação do trio), “Rondo” e “America”
Dá para o Fantasporto. Secção aberrações.

Deirbhile Ní Bhrolcháin – “Smaointe”

pop rock >> quarta-feira, 17.02.1993


Deirbhile Ní Bhrolcháin
Smaointe
CD Gael-Linn, distri. VGM



Está encontrado o sucessor de “Chi Mín Emhreadh”, de Catherine-Ann MacPhee. A atribuição do prémio vai para um disco de reportório, sem mácula, de tradicionais da velha Irlanda, servido por uma voz onde se torna difícil encontrar o mínimo defeito. Ou seja, o canto gaélico no feminino e no máximo esplendor, com continuação garantida.
Deirbhile Ní Bhrolcháin retoma a tradição vocal “a capella”, considerada, de resto, a forma suprema de música gaélica na Irlanda e na Escócia. Deir (chamemos-lhe assim, à laia de diminutivo. Já agora refira-se que a editora não facilita nada. Até o nome dos instrumentos aparece escrito em gaélico) estudou e aprendeu primeiro na Universidade de Galway, com Bréandan Ó Madagáin (ufa) depois na Universidade de Cork, com o mestre, maestro e pianista Michéal ‘O Súilleabhain (ufa, ufa), sendo este último quem a fez optar por ser cantora em vez de astronauta. Em boa hora Deir preferiu a voz aos foguetões. A textura e timbre do seu órgão vocal são límpidos e expressivos. Não há hesitações de qualquer espécie, o que por vezes se nota, sobretudo ao nível das ornamentações, em quem não domina por completo a arte. A cantora resolve as respirações e as “nuances” mais complexas com uma facilidade e fluências espantosas.
Completam um álbum de aquisição sem reservas pelos amantes do género, arranjos instrumentais plenos de imaginação. Neste aspecto, uma faixa, “A stór, a stór, a ghrá”, distingue-se das restantes, pelo inusitado da trama rítmica e pelo virtuosismo dos intérpretes. O que não admira se atentarmos nos seus nomes: Brendan O’Reagan, o professor, no bouzouki e na guitarra, Máirtin O’ Connor, grande mestre dos acordeão, e Tommy Hayes (a VGM tem disponível dele o álbum “Na Rás”, um tratado de percussão, da Irlanda a John Coltrane e Paco de Lucia), bodhran e percussões africanas. Um achado. (8)